A hora de usar o pronome

Este ano tenho feito coisas novas e entrado em contato com pessoas diferentes, em locais diversos. Dentre milhares de assuntos, sempre surge o costumeiro “e aí, namorando muito?”. Ao me aprofundar na conversa, eu costumava usar pronomes neutros e exagerar no “a pessoa” para evitar um fato óbvio na minha vida: eu sou uma menina e namoro outra menina! Mas, depois de um tempo, comecei a me perguntar por quê. Parece que nunca enfrentaremos esse dilema até que de fato chega o momento em que precisamos, em questão de milésimos, decidir o que falar. E, novamente: por quê?

Que a sociedade impõe os papéis de gênero e questões heteronormativas de sexualidade desde cedo, isso nós já sabemos. O que não sabemos – ou demoramos a aprender – é que não precisamos seguir nada disso, nem por medo, nem por conveniência. E existem duas coisas principais para que isso aconteça.

banner.fw (Cópia em conflito de Celine 2015-09-24)

Em primeiro lugar, é uma ação externa, e ouso dizer que é a mais difícil de todas. Essa ação chama-se RESPEITO. Se nós (todos!) soubéssemos a beleza e a importância que o outro ser humano tem, tudo seria mais fácil. Se nós (de novo, todos!) entendêssemos quão necessário é investir em empatia, até o processo de desenvolvimento humano ficaria mais rápido. Se nós (sim, todos!) buscássemos mais e mais a humanização, pedir por respeito não seria óbvio, mas sim um detalhe.

Já parou para pensar que se é necessário pedir por respeito é porque ele não existe? Se os princípios básicos de sobrevivência em teoria não são básicos na prática, temos que começar mudando pela base. E então, se houvesse respeito, não precisaríamos nos preocupar em esconder se é “ele” ou “ela”.

Um segundo item é uma atitude completamente interna. É algo que demonstra, em muitos casos, que nos aceitamos e lidamos bem com quem somos, sem receios ou traumas (o que é difícil). Os percalços da nossa história nos fazem endurecer, mas como seria bom se tivéssemos algo chamado NATURALIDADE. Se ao conversar com alguém eu simplesmente mencionasse o “ele” ou “ela” da minha vida e continuasse o assunto normalmente, o meu ouvinte continuaria me escutando normalmente também. “Bom, se aquilo é comum pra ela, pode ser comum pra mim também”, a pessoa pensaria. Se demonstrarmos propriedade naquilo que falamos e isso expressasse que estamos confortáveis com nossa situação, automaticamente viraria um conforto para o próximo, que não ousaria tocar no assunto já que não fizemos grande caso dele. A naturalidade poderia mudar tudo, porque o ser humano tem tendência a seguir as emoções e ações do outro – você dá um passo, eu dou um passo; você sorri, eu sorrio; você é natural, eu sou natural.

Com essas duas posturas combinadas, estaríamos aptos a encarar nossos medos e mostrarmos para o mundo x sortudx que está conosco, sem vergonha nenhuma. Se as pessoas tivessem esse tão falado (e sonhado) respeito, e a naturalidade de aceitar a si, todos conseguiríamos usar o pronome que fosse e a entonação que mais conviesse… O amor seria o principal interesse da conversa.

 

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