A PRINCESA – PARTE 04

Ela sorriu para mim, e eu me derreti naquele momento. Se curvou perante aos seus pais e se sentou ao lado do trono do rei.

– Vamos a ela, a aniversariante. A debutante, a princesa menor… Carolina Sofia Cortez de Alcântara.

A princesa menor surgiu na escada. Olhei para Maria que estava de pé sorridente admirando a irmã.

Lembro das inúmeras conversas que tivemos por whatsapp, onde Maria falava de Carolina com tanto orgulho e amor. É tão lindo esse sentimento, Sofia tem sorte, não digo isso por ter nascido em berço real, mas, por ter Maria como irmã.

A garota se curvou perante aos pais e a irmã. E tomou o púlpito para falar.

– Gostaria de agradecer a cada um, sei que falarei com todos brevemente, mas, gostaria muito de agradecer por estarem aqui essa noite. É um momento muito importante para mim. E fico imensamente contente com a presença de vocês. – A garota finalizou sendo acompanhada por uma salva de palmas.

– Gostaria de pedir à princesa Maria que faça as honras. – O rei se manifestou, se dirigindo ao seu trono.

Maria se levantou e abraçou a irmã apertado. As duas sorriram.

Carolina se ajoelhou em uma almofada preparada para a ocasião. Enquanto um guarda trazia uma espada e entregava nas mãos de Maria.

– Carolina Sofia Cortez de Alcântara. – Maria disse em voz alta e de maneira firme. – Hoje, você se torna uma mulher perante a sociedade. Hoje, você se tornará princesa. Eu, Maria Julia Cortez de Alcântara, sua irmã, tenho a honra de participar desse momento, mas antes, gostaria de te dizer uma frase na qual eu li há muito tempo e desde então ela vem sendo meu guia. Espero que seja seu guia também. “ Existem três coroas: a coroa da sabedoria, a coroa do sacerdócio e a coroa da realeza. Mas, a coroa de uma boa reputação excede todas essas”. Pelos poderes concedidos a mim, desde meus quinze anos, quando me tornei princesa, pelo rei Leopoldo Miguel Cortez de Alcântara, na presença de todos, de sacerdotes e de nossa mãe e rainha, Helena Cortez de Alcântara, a nomeio com honras – Maria pegou a espada e tocou no ombro da sua irmã. – Princesa do Brasil, Carolina Sofia Cortez de Alcântara. – E passou a espada para o outro ombro de sua irmã. – Está feito. – Ela entregou a espada para o guarda, ajudou sua irmã a se levantar. – Ouçam todos! Eis diante de vós a nova princesa! A princesa menor. – O palácio em silêncio se curvou diante da menor que estava espantada. Creio que foi a primeira vez que alguém se curvou perante dela. – Que as festividades comecem, e a família real deseja uma noite agradável a todos. – Maria ordenou e a banda começou a tocar.

– Gente, foi a coisa mais linda que já vi. – Falei com cara de besta.

– Me senti dentro de Game Of Thrones… Só que sem as cenas de mortes, sexo e batalhas. – Paloma disse admirada. Carlos sorriu pelo seu comentário.

– A família real começará os comprimentos após as fotos, eles sempre começam por esse lado. Se curvem. Provavelmente o rei fará perguntas. Responda, não fique muda na frente dele. Ele será breve, suponho. – Carlos disse calmamente.

E não demorou muito para a família chegar em nós. O rei e a rainha à frente e as duas princesas ao lado.

– Olá, boa noite. – O rei disse.

– Rei, rainha, princesas. – Paloma e eu falamos juntas, nos curvamos juntas e olha que isso nem ensaiamos.

– São irmãs? – A rainha perguntou.

– Não, rainha, somos amigas.

– Tenho a memória falha, nos conhecemos de algum lugar? São de quais famílias? – O rei perguntou curioso.

– Não sou nobre, rei. Me chamo Priscila.

– Também não sou nobre, me chamo Paloma.

– Rei, se me permite, essas são as minhas convidadas, as conheci em um evento e somos amigas. É a primeira vez delas em nosso lar. – Maria se intrometeu na conversa.

– Entendi. Sua irmã autorizou? Afinal, a festa é dela.


– Sim papai, minha irmã me consultou antes. – Caroline se manifestou. Obrigada por virem e espero que gostem da minha festa. – Sorriu abertamente para nós. Que retribuímos da mesma forma.

– Sendo assim, Paloma, Priscila… Bem vindas ao meu lar, espero que divirtam-se.

– Obrigada, majestade. – Respondemos juntas.

– Vamos. – O rei se despediu e a família foi seguindo lentamente.

– Meu Deus, que nervosismo. – Suspirei assim que ele saiu.

– Quase fiz xixi nas calças. – Paloma disse baixinho.

Até que percebi Maria parando e voltando até nós disfarçadamente.

– Princesa. – Nos curvamos a ela.

– Muito prazer em conhecê-la, Paloma.

– O prazer é todo meu. Seu vestido é incrível.

– Obrigada… Desculpe algum comentário atravessado do rei, ele não é nada gentil com quem ele não conhece. Sendo bem sincera, nem com quem ele conhece.

– Sem problemas, princesa. – Paloma disse e me cutucou, desde que a princesa se aproximou eu não abri a minha boca.

– Oi, princesa. – Foi a única coisa que consegui dizer.

– Olá, Priscila. – Ela sorriu. – Você está deslumbrante.

– Obrigada! Acha mesmo?

– Sim, definitivamente a mulher mais linda da festa, que minha irmã não me ouça. Preciso ir, o rei notará minha falta, prometo me juntar a vocês assim que o rei e a rainha se recolher. Carlos, por favor, cuide bem delas e se certifique que elas estão bem.

– Sim, princesa. – Carlos disse sorrindo.

– Obrigada. Até mais, meninas. – Ela prendeu seu olhar no meu, ficou me encarando por segundos. – Volto em breve, Priscila.

Apenas sorri, não tinha muito o que falar, o que fazer, o que… Não tinha. É a mulher mais linda que já vi. E com essa roupa, meu Deus, uma verdadeira princesa de filmes da Disney.

Os convidados foram se servindo, por sorte, nada que precisasse daquele lance de etiquetas garfos corretos e tudo mais.

Falando em convidados, eu nunca vi tanta gente famosa em um único lugar. Todos muito simpáticos, inclusive. Paloma engatou um papo animado com Carlos, acho que estou segurando vela.

Hora ou outra sentia os olhos de Maria em mim, preferia fingir que não via. Só para não me faltar o ar.

Quase duas horas se passaram, até que conversei com bastante gente, graças a cara de pau da Paloma que já foi brincando com a Titi, já engatou um papo animado com a Giovana, esposa do Bruno Gagliasso.

– O rei está indo embora, senhorita. – Carlos disse.

– Graças à Deus. – Pensei alto, Carlos me olhou espantado.

– Não, não me entenda mal… Não é que eu não goste dele, é que gostaria de ficar perto de Maria.

– Entendo perfeitamente.

Assim que o rei se recolheu com a rainha, as princesas se sentiram livres. Carolina se juntou com as amigas de escola. Maria veio até nós.

– Finalmente vou poder me juntar a vocês. – Ela se aproximou sorrindo.

– Princesa. – Paloma se curvou novamente.

– Paloma, deixe de formalidades, uma vez é o suficiente. Tem gostado da festa?

– A melhor da minha vida! – As duas caíram na risada. – Quando será a música real?

– Andou estudando para vir aqui?

– Quis prevenir, eu e a Pri ensaiamos muito.

– Nossa… Interessante. Bom, a música real é só para posse de reis e rainhas, e casamentos.

– Aaah, entendi. – Paloma disse desanimada.

– Então quer dizer que a senhorita aprendeu a dança real, Priscila.

– Sim, na verdade acho que sim, não sei.

Ela se aproximou calmamente no meu ouvido.

– Essa noite poderei lhe dizer se aprendeu da forma correta.

– Vovovocê. – Gaguejei fazendo ela rir. – Digo, você deve estar com fome, ainda não comeu nada.

– Sim, estou… Vou buscar algo para comer. Já volto. – Ela então saiu, toda imponente.

Meu Deus ela já é meu ponto fraco, imponente assim eu fico sem ter o que dizer.

– Ai. – Reclamei do tapa que Paloma me deu no braço. – O que foi!?

– A princesa está te dando mole, conversando com você ao pé do ouvido e você não disse nada que preste e ainda gaguejou! Meu Deus o que está acontecendo com você? Adquiriu demência? Preciso sair de perto? É contagioso? Ela te elogiou antes, e você nem disse um mínimo “você também”.

– Não precisa bater, eu sei que não estou respondendo ela com tanta firmeza mas pudera, meu Deus, você viu que linda? Chega a ser surreal a beleza dela… Olha, não é que antes não tenha caído a ficha, mas é a primeira vez que a vejo em traje de gala. Ela é linda.

– Pois é, linda e simpática… E está caidinha por você. – Paloma me abraçou. – É minha amiga, aquele peixão ali. – Apontou em direção a princesa. – Aquele peixão mordeu sua isca… Ela é tua.

– Não dá para acreditar.

– Nunca ví seus olhos brilharem tanto, isso é tão bom… Mas tente não agir como uma babaca e converse, socialize.

Quando Maria voltou, assim foi o que fiz e realmente fluiu mais o nosso papo. Conversei também com a princesa Carolina. Ela é um amor de pessoa e estava muito animada.

Aos poucos as pessoas foram indo embora, já eram quase três da manhã.

– Precisamos ir, Paloma. – Disse.

– Ah, está bem. – Paloma parou de conversar com Carolina e se levantou.

– Não, fiquem mais um pouco, por favor. – Maria pediu.

– Isso, fica mais um pouco. – Carolina puxou Paloma pelo braço. – Estou adorando essa coisa de ficar acordada de madrugada.

– Que nosso pai não te ouça, mocinha. – Maria disse dando uma piscada para a irmã. – E… Priscila, gostaria de me acompanhar até a estufa do jardim? É longe mas, podemos ir de carro até lá. – Ela estava tímida, talvez seja pela presença da irmã que nos observava atentamente.

– Claro, vamos sim. Se me dão licença. – Disse tímida e passei por eles acompanhando Maria, lado a lado.


POV PALOMA

– E lá se vão elas… Formam um belo casal. – A princesa Carolina disse.

– Você sabe? – Fiquei espantada.

– Sim, minha irmã me falou da Priscila. Minha irmã e eu temos uma relação muito boa, muito sincera, mas ela nunca se abriu nesse departamento. Fiquei admirada, Maria está apaixonada por sua amiga.

– É tão lindo pensar nisso, não é?

– É, na prática não será fácil, mas se sua amiga quiser tanto quanto minha irmã… As duas passaram por isso.

– É, na prática já é outros quinhentos… Ditado antigo da minha avó.

POV PRISCILA.

Maria dirigiu o carro até a estufa. É um lugar lindo, de vidro, iluminado com flores em volta.

– Enfim a sós.

– Enfim a sós. Você está tão linda Maria, que toda vez que te olho eu perco meu ar.

– Você é mais linda. Trouxe meu celular, venha, tire uma foto comigo. Quero registrar esse momento, acho que não temos nenhuma foto juntas.

– Não temos mesmo.

– Vem. – Ela me pegou pela cintura e tiramos algumas fotos. – Vou achar aqui no Spotify, só um minuto.

– Achar o que?

– A música real, quero dançar com você…Há varias na verdade, mas a coreografia é a mesma não se preocupe. Tenho em mente a música perfeita.

– Qual?

– Stay with me, do Sam Smith… Conhece a letra? – Ela perguntou enquanto se aproximava.

– Não sei falar em inglês. – Disse meio tímida.

– Tudo bem, depois procure. Músicas de Sam Smith e Ed Sheeran estão fazendo sentido ultimamente. – Ela fez carinho em meu rosto. – Senhorita Priscila, me concede a honra dessa dança?

– Sim, princesa.

Ela segurou minha mão me levando até o centro da estufa, colocou um de seus braços para trás e se curvou na minha frente.

Erguemos as mãos juntas, minha palma tocando a dela, giramos lentamente enquanto a música tocava, olhando uma nos olhos da outra.

Trocamos de mãos, girando em sentido contrário… Erguemos os braços que estavam para trás, unindo-os em cima de nossas cabeças. Caminhando para frente e para trás.

Me afastei e girei em volta dela, enquanto ela me admirava com um enorme sorriso no rosto.

Segurei sua mão e dei mais uma volta, parando na frente dela, que para minha surpresa me ergueu com facilidade, como a dança pede.

Me descendo com delicadeza, girando nossas mãos, me segurando pela cintura e descendo comigo, enquanto me apoiava em sua nuca.

Me levantei, ela me ofereceu sua mão e caminhamos no compasso da música pelo espaço.


Ela foi me girando com delicadeza, unimos nossas mãos novamente. A princesa me ergueu mais uma vez, lentamente… Coloquei minhas mãos em sua nuca, e ela fez o mesmo. Nossos rostos próximos demais.

A música acabou, então ela se ajoelhou.

– Obrigada por conceder tal honra, senhorita. – Ela beijou minha mão.

– Honrada estou eu de dançar com a princesa mais bela. – Me curvei rapidamente. – Levante-se. – Assim que ela se levantou, suas mãos foram para minha cintura, e seu rosto se juntou ao meu. – Beije-me. – Disse baixinho com os olhos fechados, mas senti ela sorrir. E logo depois sua boca se chocou com a minha.

POV MARIA.

– Ficar perto de você e não te beijar é tortura. – Sussurrei.

– Eu sei… Penso o mesmo. – Priscila me beijou novamente.

– Eu tento ir com calma, eu tento ser racional, mas é só te ver… Eu não consigo, Priscila. Eu só quero ficar com você. Eu sei, sei que para você é confuso, sei que para você é demais no momento, mas quero que saiba que eu… Eu estou aqui. E se depender de mim, sempre estarei.

– Sabe que no fundo isso é um conto de fadas, não sabe? – Seus olhos ficaram tristes. – Que é impossível ficarmos juntas.

– Só me diga, você ficaria comigo?

– Se não fosse impossível, claro que ficaria, eu gosto de você.

– Então ficaremos.

– Não vai ser fácil. Seu pai não sabe de você, e ele é homofóbico! A sociedade talvez não entenderia, e ainda tem o bônus disso tudo, você pele clara olhos claros e eu… Negra, nem pertenço a uma família real, eu sou uma simples plebeia.


– Eu sei… Mas enquanto ambas quiserem, isso e qualquer outra coisa que apareça, nós passaremos. Eu te juro que ninguém vai lhe maltratar enquando eu estiver por perto e se eu souber também tomarei as devidas providências. Meu Deus, estamos em 2018, o racismo parece uma praga! As pessoas precisam entender que isso é cruel, que isso machuca. Não deixarei ninguém te machucar.

– Eu não sei…

– Pois eu sei. Olha Priscila, eu não posso prometer que será tudo normal. Eu não poderei estar todos os fins de semana ao seu lado, nem te levar até a esquina para comer um lanche e irmos no cinema. Não agora, mas lhe prometo, que darei um jeito de recompensar minha ausência. Eu não tenho nenhuma rede social, então não dará para você me marcar nas coisas, e admito que ainda escrevo cartas. Sou bem estranha. – Perdi minha linha de raciocínio. Na verdade, me julguei… Eu nunca senti isso. Nunca senti algo tão intenso eu não quero que ela ache que estou mendigando amor, eu só quero que ela tenha certeza de que se ela quiser, eu luto.

– Eu, realmente não sei. – Ela me respondeu com os olhos marejados. Os meus provavelmente não estavam diferentes.

– Tudo bem. – Soltei sua cintura, de modo delicado.

– Acho melhor voltarmos, preciso ir, Maria.

– Como quiser. – Lhe mostrei a saída da estufa, e abri a porta para ela entrar no carro. – Eu só quero te dizer mais uma coisa. – Ela me olhou atentamente. – Eu não vou voltar neste assunto, mas não significa que eu não sinta.

 

Continua…

 

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