A PRINCESA – PARTE 10

– Não recebo ordens de uma pirralha. – Ele continuou quebrando tudo. – Jogou a estante no chão.

– Mas de mim irá receber, eu já pedi para que pare!

– O rei ordena que eu ensine essa família a não tentar se meter com a família dele! – Dava para ver nos olhos dele o prazer em fazer aquilo. Pulei o sofá e me coloquei na frente deles.

– Para encostar um dedo neles, vai ter que bater em mim. Eu juro por Deus que te acuso de bater em mim, e ai, sua vida está acabada. Então o que prefere?

– Estão avisados! Eu sinto o cheiro de vocês de longe, eu acharei vocês no fim do mundo se o rei ordenar!– O Marechal saiu de perto deles e em seguida quebrou a TV deles jogando no chão. – O rei saberá disso, princesa.

– Com o rei eu vou me entender mais tarde… Agora saia da minha frente!

Os três saíram arrancando com o carro. Olhei para a parede e ví Priscila e toda sua família assustada.

– Vocês estão bem?

– Sim… Estamos.

– Senhor… Senhora, me desculpem por isso. De verdade, me desculpem. Eu vou pedir para reparar qualquer estrago. – Falei com a maior vergonha do mundo, eu não sabia como olhar nos olhos deles.

– Não foi você que pediu para eles fazerem isso, e nós te conhecemos. Obrigado por vir interceder por nós. – O pai de Priscila se aproximou.

– Priscila. – Disse vendo ela encostada na parede, chorando sem parar, mas foi só eu chama-la que ela veio correndo para me abraçar. Fernando e Fabiana nos olhavam ainda assustados. – Crianças vocês estão bem?

– Sim… Estamos, princesa.

– Senhor, senhora… Não era assim que eu pretendia dizer, esclarecer certas coisas. Preferia que fosse em um clima mais agradável, mas, creio que precisamos conversar.

– Sente-se, querida. – A mãe dela tirou alguns portas retratos do sofás.

– Eu e sua filha. – Priscila me deu sua mão. – Nós nos conhecemos por acaso, e assim que botei meus olhos nela… Eu me apaixonei e pelo visto ela também. A filha de vocês lutou muito para não ficar comigo, mas, não deu. Nos gostamos, e ontem, fizemos um mês de namoro… Eu realmente não sei como o rei descobriu nosso relacionamento, o único que sabia de lá, era o Carlos e minha irmã e confio minha vida nos dois. Eu temo que daqui para frente seja complicada a permanência de vocês.

– Sobre o relacionamento, nós já desconfiávamos… E bom, nós amamos nossa filha, não é o primeiro relacionamento dela com uma mulher. E princesa, nós gostamos de você, então creio que está tudo bem quanto a isso. Não é amor? – O pai dela segurou na mão da esposa.

– Sim, claro… Mas, não podemos nos mudar, nossa vida inteira foi dedicada a levantar essa nossa casa, criar nossos filhos. Eu e Dirceu somos aposentados, trabalhamos por nossa conta, mas… Eu não sei se você sabe, Maria… Posso chama-la pelo nome?

– Sim, claro.

– Bom, não sei se você sabe mas, aposentados não ganham bem, se não fosse o emprego da Priscila e o nosso trabalho estaríamos perdidos.

– Compreendo… Mas, peço que aceitem minha oferta, arrumem as coisas de vocês, o quanto antes, agora de preferência. E venham comigo e fiquem em um hotel. Amanhã sairemos para encontrar uma casa segura para vocês. Faço questão de arcar com a casa, e com os moveis. Com tudo.

– Não podemos aceitar isso, é muito dinheiro. E se seu pai já está furioso com a aproximação de vocês duas, imagina saber que aceitamos dinheiro seu.

– Ele não é meu pai. – Todos me olharam com espanto. – Digo, é, biologicamente falando, mas, nunca o considerei como tal. Por favor, não entendam como algo esnobe, mas, dinheiro não é o problema para mim. Eu sou apaixonada pela filha de vocês, eu gosto das crianças e de vocês. Com vocês eu passo momentos mais agradáveis do que naquele palácio imenso… Eu pretendo um dia, me unir a Priscila e para mim, vocês já são minha família. Eu sei que querendo ou não a culpa é minha por vocês terem tido a porta arrombada e levado todo esse susto, mas, por favor, me deixem reparar o erro, cuidar de vocês. Eu quero me dispor a cuidar de vocês do mesmo jeito que me dispus a cuidar da sua filha.

– Crianças, o que vocês acham? – Priscila perguntou, tentando melhorar o astral

– Eu gosto da Maria. – Fabiana se manifestou. – E então você é uma princesa agora mana?


– Eu também?


– Calma, eu não sou princesa, só namoro com uma. – Ela fez um carinho no rosto dele.

– Eu sei que vocês gostam muito daqui, sei que vocês tem amigos. – Me ajoelhei na frente dos dois. –  Isso não vai impedir vocês de voltarem para cá, para visitar seus amigos, é só uma medida de segurança. Eu gosto de vocês demais e não quero que vocês passem por isso novamente.

– Por mim tudo bem, e você Fabi? – Fernando sorriu.

– Vamos arrumar nossas coisas. – Fabiana se levantou correndo.

– Eu também vou. – Priscila se levantou. – Vou ajudar os dois, a se organizarem. – Mãe, pai… Está tudo tranquilo sobre o meu relacionamento?

– Sim querida, queremos a sua felicidade. E Maria é uma boa pessoa. – Os três se abraçaram, Priscila foi atrás dos dois.

– É um gesto muito nobre vindo de você, princesa. – A mãe dela me chamou.

– Imagina senhora, vou fazer umas ligações necessárias. – Abracei-a apertado. – Nunca mais vai sentir medo pelos seus filhos, eu prometo.

– Maria. – O pai de Priscila me chamou. – Obrigado por chegar a tempo, eu não ia deixar aquele monstro encostar um dedo na minha família e provavelmente eu seria preso por assassinato ou tentativa de assassinato ao Marechal da guarda real.

– As crianças tem muita sorte em ter um pai como o senhor… Não precisa me agradecer.

Passei algumas horas ajeitando tudo e me escondendo dos vizinhos que iam lá para ver o que aconteceu.

Carlos chegou acompanhado de uma van, entrei correndo no carro fugindo de olhares curiosos, com toda a família. E seus pertences.

Encontrei um hotel distante daquele lugar, contratei uma agencia de segurança. Preciso protege-los.

– Priscila, qual o seu banco? Preciso dos seus dados bancários para transferir o dinheiro para comprar uma casa em um lugar seguro.

– Não podemos ver isso depois? Eu sei que a situação é de emergência, mas, eu não quero ficar com seu dinheiro isso ainda me parece errado.

– Acredite não é errado. É necessário… Só quero me certificar que estarão em segurança. – Me aproximei para beija-la.

– Com licença, desculpa atrapalhar meninas. – Os pais de Priscila surgiram na porta. – Princesa, você nos orientou de procurarmos um lugar o quanto antes, e bem, o lugar em especifico não temos, mas, temos uma noção onde queremos morar.

– Ótimo, e onde querem morar?

– Niterói. – A mãe de Priscila disse animada.

– Niterói? – Priscila ficou sem entender.

– Gosto de Niterói. – Me manifestei.

– Sim, Priscila, Niterói é absurdamente perto do Rio, tem a barca que facilita as coisas e tem a ponte, e é uma cidade mais calma do que o Rio de Janeiro, é estar longe e não estar ao mesmo tempo.

– Bom, está bem… O que vocês decidirem por mim está ok.

– Falei com as crianças eles gostaram da ideia, justamente por terem um motivo de andar de barca.

– Ótimo, vou ligar para uma secretaria minha, vou pedir que ela procure uma imobiliária… Se me permitem dar um palpite.

– Claro.

– Escolham uma casa em condomínio fechado, facilitará mais e uma casa que tenha quartos para cada um de seus filhos, Fabi e Fernando estão crescendo jajá não vão querer dividir mais o quarto.

– Tem razão, princesa.

– Ótimo, deixarei isso tudo com a Michele, ela é minha secretaria e podem confiar nela. O que vocês escolherem está ótimo.

– Prometemos não gastar muito, princesa.

– De modo algum, já disse que dinheiro não é problema, o importante é vocês em segurança e qualidade de vida.

Michele já começou a procurar casas e amanhã iria se encontrar com eles em Niterói para procurar por casas no perfil.

– Preciso ir. – Abracei-a apertado atrás da porta do quarto de hotel.

– Eu sei.

– Agora vocês estão em segurança, esse hotel é seguro.

– Obrigada por cuidar de mim e da minha família.

– Serão a minha família também… Priscila, você sabe que talvez, eu precise me afastar por um tempo. Eu não sei como será a conversa com o rei, talvez para assegurar a vida de vocês eu precise me afastar.

– Eu sei. – Ela começou a chorar.

– Me espera. – Pedi em prantos também.

– Sim. – Ela me beijou.

Depois do beijo não tinha coragem de dizer nada, e nem olhar para trás.
Peguei minha moto e fui em direção ao rei, sei que aquela conversa seria decisiva.

– Ora ora mais quem finalmente chegou… A heroína dos pobres! – Ele gritava e batia palmas ao lado de minha mãe e minha irmã.

– Com que direito você pede para o comandante da guarda real destruir a casa de pessoas inocentes!?


– Pessoas inocentes? Pessoas depravadas… Pelo menos uma delas eu sei que é… Priscila… Muito esperta ela, seduzindo a princesa do país, é um bom jeito de subir na vida.

– Cala a sua boca.

– CALA, VOCÊ! – Ele bateu na mesa. – Amanhã eu e sua mãe iremos viajar, vamos para Suécia fechar a negociação.

– Que negociação?

– Dos casamentos… Ou você e sua irmã acharam que a revista era apenas para aproxima-las do povo jovem desse pais?

– Como assim casamento, papai? Eu não posso me casar agora, eu tenho quinze anos e minha irmã ama a Priscila. – Carolina se manifestou.

– CALA A BOCA! Está vendo o que você fez com a sua irmã! A lavagem cerebral que você fez com a coitada!

– Eu não fiz nada!

– Papai ela não fez nada!

– Não grite com seu pai! Ela fez sim, desde quando duas mulheres é normal… E mesmo que se fosse, por Deus! Maria, deveria ter feito veterinária por se apaixonar por uma macaca fedida como aquela mulher.

– MAIS RESPEITO COM ELA. – Minha vista ficou cega, não pensei em mais nada fui na direção dele já para enfiar um soco no meio da cara.

– Mana, não! – Carolina entrou na minha frente e me segurou.

– Vamos, mãe! Faça alguma coisa! – Implorei por ajuda da minha mãe.

– Eu não posso minha filha, ele é o seu pai, ele é o rei.

– ESSE MONSTRO NÃO É MEU PAI!

– Queria não ter te colocado no mundo mesmo, tamanho desgosto. Eu fiz de tudo o que podia para te criar longe desse pecado mas você se tornou uma abominação! E um casamento real ajudará a te converter.

– EU NÃO VOU ME CASAR COM UM HOMEM! EU AMO PRISCILA E É COM ELA QUE EU VOU ME CASAR!

– CALA A BOCA! EU VOU MANDAR MATAR A FAMILIA DELA SE VOCÊ SE APROXIMAR. Pense que eu sou burro, Maria? Eu vi o jeito que você olhou para ela quando me apresentou na festa da sua irmã. Imediatamente eu tratei de puxar a ficha dela… Sei com quem ela mora, quem ela anda, onde trabalha.

– Não tente encostar um dedo sequer naquela família ou eu juro que todos vão ficar sabendo!

– Vão ficar sabendo do que? – Carolina perguntou ao ver que o rei e minha mãe ficaram sem palavras.

– Está decidido, eu e sua mãe partiremos amanhã bem cedo. Você se casará com o futuro rei da Suíça e você Carolina se casará com o irmão mais novo dele assim que fizerem dezoito anos. – Ele foi saindo da sala sem olhar para trás.

– Papai, não. – Minha irmã pediu chorando.

– É necessário, querida. – Minha mãe abraçou minha irmã mais nova que não parava de chorar.

– Ah, mais uma coisa, Maria… Veja minha bondade, você terá três dias para se despedir daquela garota e se nunca mais se verem, eu prometo não fazer nada com aquela família de macacos.

– SEU DESGRAÇADO! – Disse tentando alcança-lo, mas fui impedida pela minha irmã.

– Não faça isso… – Minha mãe segurou em meu braço.

– Mãe… Porque? – Perguntei para minha mãe, o que sempre tive vontade e medo da resposta.

– Ele é o rei filha… Ele é o rei. – Ela saiu de cabeça baixa.

Me sentei no chão frio em completo desespero.

– Ele vai mudar de ideia, minha irmã.

– Não, ele não vai.

– Converse com a Priscila, avise ela!

– Como? Como vou falar por telefone que o rei negociou meu casamento com o príncipe da Suíça?

– É verdade, não é algo que se diz por telefone.

– Vamos sair daqui… Vamos para os quartos.

Cheguei no quarto várias mensagens de Priscila, a maioria dizendo que estava preocupada comigo, que não era para ser explosiva que seria pior.

Não tive coragem de ligar, como iria dizer para ela que amanhã ele vai finalizar o meu casamento.

Só respondi dizendo que conversei… E perguntei se ela se importaria se um dia eu não fosse mais nobre.

Então ela me respondeu.

“ Nobre você sempre será, seu coração é nobre, e isso não vem de berço, não vem de títulos reais. Eu não me importo, eu só quero no final de um dia cansativo olhar para o lado e te ver sorrindo, feliz e comigo.”

É a resposta que precisava, está decidido quando aquele monstro voltar, eu vou renunciar meu título, vou pegar o dinheiro que é meu por direito. Vou embora desse lugar sem olhar para trás, começarei uma vida normal e me casarei com Priscila.


Vou renunciar o trono.


Dormi mal, acordei como se um caminhão tivesse passado por mim.
Me certifiquei de ficar o dia inteiro com a minha irmã, ela estava abalada com a possibilidade dela precisar se casar aos dezoito anos com um rapaz que ela jamais viu.

– Princesas. – Carlos entrou na sala.

– Oi, Carlos.

– Princesa Maria, podemos conversar em particular?

– Aconteceu alguma coisa com a Priscila com a família dela?

– Não, eles estão em segurança.

– Carol, já volto. – Caminhamos até a porta, então fechei. – O que houve, Carlos? Eu te conheço, você está em pânico por dentro.

– O rei e a rainha.

– Eu já sei, eles já chegaram na Suécia.

– Não.

– Mas eles saíram super cedo, e é onze horas de voo é para eles terem chegado.

– Eu não sei por onde começar, mas, princesa… O rei e a rainha estão mortos. O avião colidiu em uma montanha e explodiu. – Senti minhas pernas falharem, me segurei na porta enquanto Carlos me segurava. – Vou chamar o médico.


– Não, eu preciso falar com a Carolina, eu não quero… Meu Deus, minha mãe. – Cai no choro. Carlos me abraçou apertado. – Meus pêsames.

Fiquei uns quinze minutos chorando, mas me recuperando, precisaria ter forças para falar com a minha irmã.

– Mana. – Fechei a porta.

– Você está chorando? – Ela se levantou preocupada.

– Sim, eu estou chorando… Sente-se, Carlos me chamou para me falar uma coisa… Eu nunca quis que fosse assim, eu nunca pensei que precisaria te dizer isso. Mas, os nossos pais… Eles estão mortos.

– O que?

– O avião que eles estavam colidiu em uma montanha… Não se sabe ao certo o que aconteceu. Só se sabe que não sobrou ninguém vivo.

– NÃO… NÃO! NÃO! MEUS PAIS, NÃO!

Continua…

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