ELA – PARTE V

Ficamos por um tempo ali namorando, abraçadinhas até que decidimos sair. Ela me agasalhou como uma mãe agasalha um recém-nascido!, duas toalhas, um roupão e um cobertor. Tudo isso pra mim, enquanto ela ficava tremendo de frio. Chegando em casa, fui direto pro banho e ela também, só que em banheiros diferentes. Quando sai, ela estava na cozinha tomando chocolate quente, e uma caneca quentinha à minha espera. E adivinhem a primeira coisa que ela me perguntou?

– Está bem agasalhada? Colocou quantas blusas? Deixa eu ver se você está de meia.
– Anjo, eu tô bem… Eu só não coloquei o lenço porque é um saco, às vezes eu gosto de ficar sem… Tem problema?
– Nenhum! Vem aqui, fica pertinho de mim, seus pais vão me matar se souber que eu te levei pra piscina num dia cinza e chuvoso (risos)
– Pode ser o nosso segredo…
– Deve ser. Segredo?
– Segredo. (risos)
– Sentirei sua falta esse fim de ano…
– Porque?
– Porque todos os anos você volta pra sua família, no Brasil.
– Então, meus pais tiveram uma ideia muito boa esse ano…
– Qual?
– Ao invés de eu ter que ir, eles e meu irmão que vão vir.
– Sério? Sério mesmo?
– Sério, é claro que você não é obrigada a passar o natal comigo, mas eu vou estar por perto.
– Ai Anjo, para com isso! Óbvio que o natal vai ser aqui na minha casa, com a sua família e a minha junta… Vai ser o primeiro de muitos!
– Certeza que não vai se enjoar de mim? Não quer férias no Natal?
– Claro que não! Eu quero você por perto todos os dias da minha vida… Eu te amo, Camila
Camila ficou me olhando, nós nunca dissemos “eu te amo”, não por medo de dizer, vergonha. Mas eu não sei o que Camila pensa,  eu não disse isso antes porque, acho que meu ato já demonstrava isso.
– Eu te amo, eu te amo … EU TE AMO! – disse Camila aos gritos.
– Para de fazer escândalo, anjo.
– Repete, pelo amor de Deus.
– Eu te amo!
– Eu também te amo! Eu te amo demais…

Dias depois, resolvemos jogar vídeo game até tarde… Como sempre ela foi desleal, estávamos jogando futebol! Eu com a seleção da Espanha. Ao invés dela jogar com uma seleção do nível, ela vem com a seleção do Brasil! Só tem craques no time dela… Assumo, tomei uma goleada dela. Mas ok, dela eu aceitava perder.

À noite resolvemos ver um filme, o filme era bem hot, mas era um bom filme. Eu fiquei pensando, o que Camila pensava, pelo fato de não termos tido relações sexuais. Às vezes, os beijos ficavam mais intensos e eu sempre cortava aquele clima, não sabia se era melhor não tocar no assunto. Ou era melhor falar sobre, mas resolvi arriscar.

– Amor, já tá dormindo? – Perguntei
– Não amor, só quietinha mesmo, ta precisando de alguma coisa? – Disse Camila.
– Não, só queria conversar sobre… sexo
– Como assim?
– É que, todas as vezes que nossos beijos ficam mais intensos, eu corto o clima ou coisa assim… Você percebeu?
– Sim, e te respeito.
– Eu sei que me respeita, mas eu queria deixar claro, que não é porque eu não tenho tesão em você! Eu tenho, sim! Só que eu quero estar bem com o meu corpo, eu ainda não me sinto confortável com meu corpo… A gente está quase um ano juntas, e eu não quero que ache que eu não tenho desejo por você. Eu só quero estar de bem comigo mesma, eu quero estar segura, e eu quero estar linda pra você!
– Amor, você é linda… Mas eu respeito e entendo sua decisão, fico feliz em saber que você tem desejos por mim (risos), eu estou subindo pelas paredes, mas eu espero… Eu te espero o tempo que for preciso. Eu sei que vai valer a pena.
– As vezes eu me pergunto o que eu fiz para merecer você…
– Provavelmente, algo muito sério porque me ter é um castigo. Eu sou grudenta demais, ne amor?
– Não acho, sinto falta de você quando você não está perto… Conto as horas pra você parar de gravar e poder vir me dar um beijo de boa noite.
– Ah, então você gosta de ficar pertinho de mim?
– O tempo todo amor!
– Xii, estou achando que vou ter que por um diamante bem lindo no seu dedo, e depois me casar com você!
– Isso é uma indireta, dona Camila? (risos)
– E se for, dona Laura?
– Se for, bom… Sendo sincera eu não aceitaria.
– Sei (risos).
– É sério.
– Sério? Você não aceitaria o meu pedido de casamento, Laura?
– Hoje, não… Não fique brava, não feche a cara! Mas é que eu prefiro ver o que vai me acontecer ano que vem, quero ver se vou ser capaz de passar por essa doença, fazer a cirurgia, e ficar curada! Quero me recuperar, quero pensar nos meus projetos que tive que adiar. E é claro pensar em nós duas.
– Ok
– Sei que está chateada, mas talvez eu morra e…
– Chega! Dá pra você parar de cogitar essa coisa de morte!? Isso me machuca, toda vez que você fala isso é como se eu levasse um soco no meio do estomago, porque eu não quero pensar nessa hipótese! Pra mim ou você sai viva e bem da maldita cirurgia, ou você sai bem e viva da cirurgia… Pra mim, não há segunda opção! Não tem!

Eu nunca tinha visto Camila tão brava, sabia que não era minha culpa. Quer dizer, de certo modo é, mas sabia que a fúria dela era por toda essa situação. Eu resolvi ficar calada. Enquanto ela andava pelo quarto.

– Desculpa… Desculpa, Laura.
– Tudo bem, amor.
– Eu não deveria gritar com você, mas é que quando você fala em morrer eu fico puta de raiva, é assim que eu me sinto por dentro… Eu estou envergonhada pela minha ação.
– Amor, vem aqui, está tudo bem… vem me dar um abraço, deixa eu te dar colo.

Ela veio e deitou sua cabeça no meu peito e ficou quietinha. Eu nunca tinha parado pra pensar na situação dela. Ver quem ela ama dizer que vai morrer. Além de ser chato, deve ser perturbador. Eu precisava ser mais otimista, por mim e por ela.

 

A noite ficou um clima tenso, fiquei pensando em tudo o que ela me disse e realmente acho que ela está certa. Fiquei com medo do que ela poderia vir a pensar sobre o fato do casamento, de dizer que eu não me casaria com ela… Por mais que eu tenha explicado, creio que não deve ser agradável ouvir da pessoa que você ama que ela não se casaria com você.

Mas não toquei mais no assunto, e os dias se passaram tranquilamente.
Camila foi convidada por um grife para desfilar, a princípio ela me chamou e eu preferi não ir (e ela ficou um pouco chateada). Na verdade eu queria fazer uma surpresa mesmo.

Camila sempre me chama pra sair, fica praticamente me tirando a força do meu apartamento. Eu queria fazer uma surpresa. Eu iria ficar escondidinha no camarim dela, e quando acabasse o evento eu iria dar flores a ela, e chama-la pra almoçar comigo no Sushi Time… Meu Deus a comida daquele lugar é maravilhoso.

Fiquei quietinha no camarim, e quando o desfile acabou um dos seguranças me avisou para esconder, que a Camila já iria voltar para o camarim.

Quando Camila entrou eu escutei uma outra voz, uma voz feminina. Eu conhecia aquela modelo, era a Ashiley. Resolvi ficar na minha escutando o papo.

– Você arrasou, Camila! – disse Ashiley
– Obrigada!
– Deveria seguir carreira de modelo!
– Não, eu não sirvo para isso… Vou ficar atuando.
– Tudo você faz bem…
– Você disse que precisava falar comigo, o que é?
– Eu queria seu telefone, saber se você não quer ir jantar hoje na minha casa.
– Bom… obrigada pelo convite, mas eu quero ir ver a Laura antes que ela deite.
– Ótimo! Vá até ela e depois vá para a minha casa.
– Melhor não, eu no lugar da Laura não iria gostar da ideia. Eu posso estar confundindo as coisas mas você parece estar com outras intenções.
– E estou! Você é linda e muito sensual. Eu queria uma chance com você. Uma noite! Eu não quero te roubar da sua namoradinha… Mas vocês estão passando por um momento complicado, eu só quero poder te relaxar. Coisa que ela não deve estar fazendo agora. E é um desperdício deixar uma mulher linda como você, sem um sexo gostoso.
– Desculpa, eu fico envaidecida, você é uma mulher linda, mas eu já tenho uma namorada e ela me satisfaz por completo… Em todos os sentidos.
– Ela está doente, ela nem vai desconfiar… Ela nem vai ficar sabendo!
– Mas eu vou saber que eu agi de maneira incorreta com ela! E eu não conseguiria olhar para ela, olhar nos olhos dela sabendo que fui infiel a ela. E não é só questão de culpa… Eu amo a Laura, ela é a mulher da minha vida.

Eu fiquei emocionada, pela atitude da Camila, afinal era uma modelo linda dando em cima dela, e quanto a mim… Eu não estava fisicamente muito bem. Camila dispensou a menina, sentou no sofá pra pegar algo na bolsa e eu apareci.

– Amor!
– Laura? Como você chegou aqui? Que horas você entrou?

Fui correndo abraça-la, e ela ficou sem entender.

– Aconteceu alguma coisa, meu amor? Vem, senta aqui comigo no sofá – Disse Camila
– Eu escutei sua conversa com aquela vagabunda!
– Calma, amor (risos)
– Ela sabe que você é minha! Como ela pode tentar uma coisa dessas!
– Ela sabe que eu sou sua, o mundo sabe… Você sabe!
– Por um momento eu fiquei com medo, confesso.
– Medo?
– De você ceder ao convite dela.
– Laura! Nunca, meu amor!
– É que ela é linda… Ela provavelmente daria a você hoje a noite, algo que eu não me sinto à vontade ainda.
– Se refere ao sexo?
– É.
– Boba, eu te amo e eu disse que vou esperar você, eu sou paciente…
– Eu sei, desculpa por duvidar de você.
– Tudo bem, eu quero deixar bem claro uma coisa… Independentemente de qualquer opção que estivesse em minha frente, não escolheria nenhuma daquelas que não me fizesse sorrir, que não me fizesse feliz assim como você faz… Por isso todos os dias eu escolho você!
– Você me diz cada coisa que me deixa tão feliz!
– Eu só digo o que eu sinto.
– Te amo, Camz.
– Te amo, minha linda!
– Eu comprei essas flores para você.
– Tulipas! Minhas flores prediletas!
– Sim, eu sei… Gostou?
– Claro, amor! Obrigada, mas a melhor surpresa o melhor presente é a senhorita aqui!
– E é só o começo! Quero te fazer um convite!
– Faça!
– Vamos comer hoje naquele restaurante de comida japa maravilhoso! O Sushi Time?
– Claro! Vai ser ótimo… Você espera eu tomar um banho rapidinho para irmos embora?
– Claro, mas antes deixa eu te dar mais um beijo?
– Não… eu quero mais que um. Me dê um monte!

A Camila é uma mulher que se arruma rápido, e não demorou muito para sairmos do local do evento, na garagem demos de cara com a vagabunda da Ashiley.  Ela me olhou e me deu um sorriso tão falso! A minha vontade era de tirar satisfação com ela, mas a Camila me segurou. A Camz sabe a mulher que tem, ela sabe que apesar de estar fraca e em tratamento ainda há sangue espanhol nas minhas veias e eu não levo desaforo para a casa.

Camila foi rindo de mim, disse que eu estava com cara de lutadora de UFC encarando a Ashiley. Chegamos enfim ao restaurante, e tudo corria em perfeita harmonia, comida boa, companhia excelente! Como estávamos em uma parte privada do restaurante, a gente deu vários beijinhos, ficamos despreocupadas sem paparazzi por perto. Camila estava radiante!
Quando estávamos dentro do carro, ela iria me deixar em casa e depois iria dormir, até que o celular dela tocou. Ela parou o carro no acostamento quando viu na tela quem estava ligando…
– Droga.  – Disse Camila
– O que foi, amor?
– Só um minuto amor, eu vou atender lá fora.

Ela saiu correndo do carro e atendeu o telefone, não dava pra escutar muito bem, mas ela conversava com toda cautela do mundo como se estivesse falando com um homem bomba prestes a explodir uma cidade inteira. Entrou no carro, preocupada comigo.
– Amor, eu vou ter que te deixar em casa, eu tenho algumas coisas a resolver.
– Você está branca. Você não está bem, Camz.
– Não se assuste. Eu vou ficar bem, amor.

Foi ai que me lembrei de Jhon, lembrei que ele me disse que ela tinha dado um número que só os dois sabia ele ligava desse número sempre que passava mal após usar alguma droga.

– Deixa eu ir com você pegar o Jhon.

Camila ficou assustada, e não me respondeu.

– Camz, eu sei… Ele me contou o que você faz por ele.
– Por que?
– Porque ele me disse? Eu não sei. Talvez ele quisesse que eu reconhecesse o quanto você é boa.
– Era o nosso segredo. Por favor, Laura, não conte a ninguém isso.
– Tudo bem amor. Agora acalma, encosta o carro que você está tremendo!
– Eu preciso te deixar em casa.
– Eu vou com você! Já disse, eu fico quietinha. Encosta o carro
– Pra que?
– Você está nervosa, tremendo e não vou deixar você dirigir assim. A gente vai até ele sim, mas eu vou dirigir.
– Não precisa.
– Precisa sim. Vamos. Encosta, Camila.

Ela encostou o carro e trocamos de lugar. Há tempos eu não dirigia, mas era como andar de bicicleta, não tinha erro. Camila foi me dando as coordenadas, eu confesso que fiquei um pouco assustada com o local, bem afastado da cidade, quase sem postes acessos. Um bar que parecia mais uma casa de madeira dos filmes de terror.

Camila antes de sair pediu para eu trancar bem o carro e não acender as luzes de dentro dele, para não chamar atenção. E assim eu fiz, fiquei com medo de deixar a Camila entrar naquele local sozinha, mas ela não me deixou ir de jeito nenhum. Demorou alguns minutos e ela voltou pro carro dizendo que ele não estava lá e não atendia o celular. Os caras do bar disseram que viram ele, e ele estava bem louco.

Finalmente depois de quase quinze minutos tentando falar com Jhon, ele atendeu o telefone só escutávamos risadas e o barulho no fundo. Um barulho de mar, de ondas. Foi ai que lembramos que tinha um lugar ali perto que parecia um porto abandonado  e fui dirigindo até lá. No final da praia lá estava ele, pulando ondas, totalmente maluco, em um mar bravo e perigoso.

– Fique aqui! Se você sair daqui eu juro por Deus que a gente vai ter uma boa briga! Fique aqui, ouviu Laura?

Ela foi tão rude comigo. Isso de certo modo me assustou, mas eu disse que ficaria. Ela saiu do carro, jogou seus sapatos e saiu correndo na areia, e pulou naquele mar atrás do Jhon. Quando ela sumiu no meio daquelas ondas, eu quase tive um treco, e eu também perdi o Jhon de vista.

Quando eu sai do carro ví os dois sendo jogados pro lado dos rochedos, mas por sorte Camila conseguiu segurar ele e tirar ele de lá. Meu coração parecia que ia sair pela boca, eu comecei a chorar e finalmente a Camila conseguiu chegar na areia com o Jhon, totalmente fora do seu normal.

Ela levantou ele e veio até ao carro. Camila era tão forte, Jhon tinha mais de um metro e noventa, e é bem musculoso. Ver ela segurando ele daquele jeito era como a cena de um filme triste, um filme de guerra onde dois amigos vão lutar  e um deles se machuca. E nem assim o outro amigo deixa ele machucado no campo de batalha, e vem trazendo-o.

Quando chegaram perto do carro eu fui ajudar, mas a Camila gritou comigo dizendo que não.  Ela colocou ele no banco de traz do carro.

– Consegue dirigir até a casa dele? –  Disse Camila
– Claro.
– Ei Mila! Quem é a moça bonita ai? – Disse Jhon
– É minha namorada, Jhon, agora fica quieto.
– Linda ela! Eu atrapalhei vocês duas ? vocês estavam transando?

Eu estava em estado e choque, o Jhon não estava nem me reconhecendo. E falando coisas que ele normalmente não falaria. Chegando em casa Jhon deu um trabalho para a Camila, eu queria ajudar mas ela estava irredutível.

Ele quebrou coisas em casa, ria alto, queria ligar o som… E de repente, ele apagou, como um desmaio. Camila parecia tão tranquila, como se nada daquilo fosse novidade. Ela pegou ele e levou até o banheiro, colocou ele na banheira, para tirar a areia do corpo dele, e depois o deixou na cama. Saímos da casa em silencio, eu fui dirigindo até o meu apartamento sem nos falar. Chegando na garagem, nós trocamos de lugares.

– Eu nem sei o por que de ter entrado nesse carro. Eu vou indo, amanhã nos falamos. Boa noite, Camz.
– Ei, espera, desculpa ter gritado com você e ter sido rude, a nossa noite estava tão perfeita. Eu fiquei com medo de você achar que eu estava te traindo, ou você ajudar e passar mal, porque você está fraca. Eu fui uma idiota. Desculpa.
– Tudo bem.
– Posso te pedir uma coisa?
– Claro, amor!
– Me abraça?

Puxei ela pra perto de mim, e sentia seu coração bater de um jeito tão rápido, e escutei ela chorando baixinho. Camila odiava chorar em público, independente se fosse apenas uma pessoa ou uma multidão, ela sempre segurava seu choro. Vê-la chorando como uma criança me deixava de coração apertado e depois de algum tempo ela se recompôs ainda chorando. Eu resolvi descer do carro, dei a volta abri a porta e tirei ela de dentro do carro

– Hoje você vai dormir comigo, Camz.
– Não posso, e seus pais vão pensar o que?
– Você pode, você vai e não se preocupe com meus pais. Hoje vamos inverter os papeis literalmente, hoje sou eu que vou colocar você pra dormir e cuidar de você.

Chegando em casa entreguei umas roupas minhas, e pedi para que ela tomasse um banho bem quente, afinal ela entrou de roupa e tudo no mar, e a roupa depois secou no corpo dela. Preparei um chá e ela bebeu. Nos deitamos e ficamos abraçadas enquanto eu fazia cafuné em seus cabelos… e dormimos.

Os dias se passaram, meus sogros e meu cunhado chegaram, iriamos passar as datas de fim de ano juntos. Era dia 24, todos estavam na minha casa. Meus pais, os pais da Camila e seu irmão. Falando em irmão, os meus irmãos estavam para chegar, havia um ano que não os via, e eu estava morrendo de saudades deles. Quando eles chegaram eu mal acreditei no que ví: a minha abuelita veio! Ela enfrentou o medo de avião e veio me ver!

No começo eu percebi que ela ficou um pouco chocada em me ver mais magra, careca. Conversamos muito e ela parecia estar bem. Eu não contei a Camila que minha abuelita tinha chegado, queria que ela tivesse a mesma surpresa do que eu. Como disse, abuelita não sabia o que dizer sobre o meu relacionamento com a Camila. As duas nunca tinham se visto, e abuelita estava com bastante receio com relação ao meu namoro.

Quando a Camila chegou com a sua família e viu minha abuelita, ela tentou agir normalmente mas eu conheço bem a namorada que tenho, e eu sei que ela estava surpresa e tinha ficado tensa, pois minha abuelita tinha fama de brava.  Na verdade ela não só tinha a fama, mas também fazia jus a ela. A ceia correu tudo bem, de manhã abriríamos os presentes de baixo da arvore. Camila queria voltar pra casa, mas meu apartamento era imenso, e tinha um quarto de hospedes que caberia muito bem ela e sua família.

Meu plano era dormir abraçadinha com ela, mas ela achou melhor em respeito a abuelita dormir com seus pais e seu irmão. Mas antes de irmos dormir, eu e Camila ficamos na sala, conversando sobre a ceia, e namorando, é claro.

– Você está linda, amor – disse Camila
– Você também! Estou tão feliz por estarmos aqui, estarmos assim… Juntas! Com nossas famílias reunidas.
– Eu te amo! Eu te amo.
– Eu também te amo! E teria lhe beijado mais se você não estivesse se cagando de medo da minha abuelita.
– Não é exatamente isso, é que você me disse que ela não tinha aprovado e nem desaprovado.  E toda vez que eu olho para ela ela está me olhando!
– Calma amor, ela está te avaliando… Vendo se você é digna para estar do lado da neta dela (risos).
– Esse é meu medo, e se ela não achar
– Se ela não achar bom, isso será algo embaraçoso porem não vou deixar de andar de mãos dadas, nem de te abraçar na frente dela. E ela que vai sair perdendo, ela não vai conhecer o ser humano maravilhoso que você é. Além do mais quem tem que aprovar você na minha vida sou eu!
– E você, aprova?
– Hum, sabe o que eu acho? Que você está tão ocupada sendo você, que não sabe o quanto você é extraordinária!
– Para vai, eu perguntei sério!
– E eu estou te respondendo sério. Amor, você é incrível! Eu te aprovo e te quero na minha vida sempre! Esse será o primeiro de muitos natais que passaremos juntinhas!
– Sim, será!
– Vem aqui comigo, Camz.

Segurei a mão de Camila e levei ela pra perto do Visco pendurado, ela ficou sem entender nada.

– Lembra sobre a história do Visco, sobre amores eternos e verdadeiros… Então, não me xingue no que eu vou falar, mas eu preciso falar.
– Lá vem bomba.
– Esse natal pode ser o último da minha vida.
– Ah, não, Laura. Eu me recuso!
– Por favor, amor, escuta… por favor.
– Ok.
– Por talvez ser o último eu me sinto abençoada, eu quero que saiba que foi o natal mais perfeito que eu já tive. Que desde que a gente se beijou você se tornou a coisa mais importante na minha vida, e eu sei que quando eu fiz aquela merda de te afastar de mim, eu te machuquei… Camila eu só quero que você saiba que você é definitivamente a melhor coisa que eu já tive em toda a minha vida. E que eu te amo, e eu sou grata a você por me amar. Amar o que eu sou e não por como eu estou.

Os olhos dela estavam cheios de lagrimas, os meus também. Aquilo não era uma despedida, eu só queria que ela soubesse tudo o que eu sinto por ela. E nos beijamos, em baixo do visco, como a tradição mandava, agora era um laço, eu e ela para sempre… Amor eterno e único.

Quando acordei meus irmãos estavam em cima de mim, brincando e pulando, parecíamos três crianças na manhã de Natal. Encontrei todos em volta da arvore, todos! Camila e sua família, a minha abuelita também estava de pijama.

Desejamos feliz natal e fomos abrir os presentes. Depois de muita farra, a minha mãe e a mãe da Camila resolveram fazer chocolate quente para todos nós (gente, estava uma delícia!) Depois de muito conversar e rir, Camila foi para o piano e ficou tocando algumas músicas de natal.

– Camila, porque você e a Laura não cantam alguma música natalina juntas! – Disse meu pai todo animado.
– Pai, faz tanto tempo que eu não canto! Nem sei mais se consigo fazer isso (risos)
– Amor! Claro que consegue deixa de besteira e canta aqui comigo, senta do meu lado… Vamos cantar All I Want for Christmas is You.

O Natal foi perfeito! E os dias que se passaram também foram incríveis!
Abuelita tinha virado fã da Camz, as duas conversaram muito, trocaram receitas, foram pra cozinha juntas. Minha mãe me disse que a abuelita disse a ela que estava feliz em ver que a Camila me fazia bem e que cuidava muito bem de mim. Ou seja, melhor aprovação impossível!

E no dia 27 recebi um convite para jantar na casa do criador da série, aquela série onde eu conheci a Camila e todos os meus melhores amigos.
Camila também tinha sido convidada, e quando chegamos na casa dele percebemos que todos os que participaram como alunos nos três e quatro primeiros anos da série estavam lá.

Foi um jantar agradável, lembramos de histórias na época das gravações, fomos até uma sala enorme sentamos todos no chão e vimos milhares de fotos daquela época, estava pura sessão nostalgia, até que Rick, criador da série, despejou um discurso.

– Gente, eu estou muito feliz de ver vocês todos aqui, lembro da nossa primeira reunião na FOX, meu Deus, vocês eram uns bebes e hoje são adultos. Naquela reunião, eu ví talento, força de vontade, e os olhos brilhando por estarem começando a carreira dos sonhos de vocês. Hoje, eu ainda consigo ver o brilho nos olhos de vocês. Vejo talento, vejo prêmios, vejo People´s Choice Awars, Globo de Ouro, Oscars e muitas outras premiações incríveis que eu não me recordo o nome porque estou velho de mais pra isso.
A série vai acabar ano que vem, foram quase dez anos. Eu até poderia inteirar os dez, mas eu não quero roubar essa marca de “dez anos” da minha série predileta: Friends. No último ano da série, eu quero… Quero muito que todos vocês voltem! Eu sei que vocês tem seus compromissos, e se vocês autorizarem eu vou falar pessoalmente com cada diretor dos filmes e series que vocês estão e bolar um cronograma para vocês poderem participar, juntos, de dez capítulos da série.

– Como seria essa volta, Rick? – Perguntou Camila
– Mila, todos voltariam com um propósito. No caso da sua personagem, ela foi embora triste e tal, magoada por não ter ficado com o amor da vida dela que é a Maria. Como sua personagem dança muito! Eu pensei em que ela poderia ter se formado na melhor faculdade de dança do mundo. E também fizesse faculdade de pedagogia.  Ai ela seria professora, uma professora famosa no meio. E apesar da carreira maravilhosa, o lado pessoal dela seria uma merda, porque no fundo ela amava ainda a Maria. Maria que por sua vez, é uma atriz famosa de Hollywood, bem sucedida, teve várias namoradas, mas nunca deu certo com nenhuma porque ainda ama Luci, e ela passou a vida inteira procurando achar você, pedir desculpas mas nunca descobriu seu endereço. E vocês se reencontrariam na escola.

– Ok, então nós todos voltaríamos de diversos lugares, para a escola ao mesmo tempo, porque fomos chamados pra que? – Jhon perguntou

– Foram chamados porque a esposa do treinador de coral viu que os novos alunos estão no coral, mas parecem não gostar de estar lá. É como se tivessem vergonha do prazer de cantar, e eles se tornam rebeldes de mais, acha que coral em escola é algo antiquado. E ela consegue falar de alguma maneira com todos vocês, para que vocês apareçam de surpresa, e tente ajudar a reerguer a moral e a qualidade do coral.

– Genial! Eu topo! Pode conversar com a produção da série, que eu estou dentro! Tô com saudades de fazer a Lucy, vai ser bom trazer a essência dela. – Disse Camila toda empolgada.

Na verdade todos que estavam lá ficaram empolgadíssimos com a chance de trabalhar novamente juntos, e ainda mais em um projeto tão especial como aquela série é para nós. O ano que estava por vir seria, cheio de coisas boas.  Final de Janeiro eu finalmente iria operar e tirar esse tumor de mim. Eu tinha um plano! Me recuperaria e já começaria a trabalhar na série e a gravar meu CD. CD esse que eu acabei optando por escrever as canções, a maioria delas.

As semanas de Janeiro passaram tão rápido, e eu não sabia se aquilo era realmente bom. Eu estava nervosa e tensa, Camila tentava não demonstrar nervosismo, mas era em vão, eu a conhecia bem para perceber a sua real situação.

Meus amigos tentavam ser otimistas, me perguntavam se eu estava preparada para a operação, e como eu me sentia. Eu não fui honesta com eles, me limitava a sorrir e dizer que estava bem. Mas com você que está lendo isso eu posso ser sincera. Eu estava me sentindo uma vaca, no frigorífico em um corredor minúsculo aonde não tem como voltar, só seguir em frente. Eu me sentia como uma vaca indo para o abate.
Minhas reais chances de sobreviver a operação? Bom, elas melhoraram de 0,33% foram para 2%. E era esses dois por cento que me fazia ter forças pra sorrir e dizer que estava tranqüila e bem, quando na verdade eu não estava.  Camila que já era o meu grudinho, tinha se tornado meu “grudão” . Ela nem estava mais indo na casa dela, ela saia do trabalho e ia direto para minha casa ficar comigo e só ia embora quando eu dormia. Nós tentávamos não tocar no assunto, mas era visível que ambas queriam se curtir o máximo, por literalmente não saber se aqueles 2% me salvaria de um procedimento tão complicado.

A operação duraria horas, uma equipe grande de especialistas. Confesso que foi estranho conhecer todos eles, dias antes de eles me operarem. Dia 29 estava chegando.
E chegou…

Reveja as partes

Parte I

Parte II

Parte III

Parte IV

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Parte VI

Parte VII

Parte VIII

Parte IX

Parte Final

assinatura paula.fw

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