A Guerra Fria dos relacionamentos amorosos

Por definição, a Guerra Fria foi um período no qual os Estados Unidos e a União Soviética após a Segunda Guerra Mundial disputaram a primazia política e econômica mundial. Como isso aconteceu? De um lado do mundo predominava o Capitalismo, e do outro, o Socialismo. E por que este nome? A Guerra foi chamada de Fria porque não houve nenhuma luta direta e armada entre as superpotências; era mais algo de ideais. Era uma luta mental.

Quando trazemos a questão da “luta mental” para dentro das situações cotidianas, conseguimos ver claramente o tanto de lutas mentais que enfrentamos todos os dias. O psicológico está sempre passando por (re)configurações para se ajeitar consigo mesmo e com o outro. E, se pensarmos que o que move o ser humano são os sistemas e as relações que ele têm, concluímos que dentro de relacionamentos amorosos nós duelamos quase a todo o momento e, por sorte, às vezes uma das partes sai viva dessa.

banner.fw (Cópia em conflito de Celine 2015-09-24)

Para ter uma relação promissora, precisamos lidar bem com nossas próprias relações internas. Fazer um checklist, com direito a double-check [verificar de novo], de todas as coisas resolvidas, ou má resolvidas, do nosso passado, e listar nossas atitudes para o que acontecerá futuramente. Feito isso, aí vem a melhor parte: ainda não estamos prontos para lidar com um relacionamento! Pelo único e simples motivo de que estaremos num ciclo eterno tentando preencher um vazio existencial que carregamos conosco desde a saída do útero materno até o fim de nossas vidas. Passamos Janeiro, Fevereiro, Junho, Outubro, Dezembro atrás da tampa da nossa panela, mas só estamos tapando o sol com a peneira: nada nos completa. Um emprego, uma nova faculdade, um visual diferente, mudança de casa, intercâmbio, alteração do status de relacionamento do Facebook… São cuidados paliativos! Situações que nos integram por uns instantes e logo já nos tornam insatisfeitos de novo, numa corrida incessante atrás da grama mais verde do vizinho.

É isso, e nada além disso, que torna nossas relações amorosas estressantes. A todo o momento, especialmente diante de um novo conflito, estamos implorando para que o parceiro seja aquilo que queremos. Em gritos silenciosos ou – dependendo dos ânimos – ensurdecedores, travamos guerras frias para que a nossa opinião seja mais correta que a do outro; para que o nosso modo de amar seja mais bonito que o do outro; para que o nosso medo do fim esteja menos evidente que o do outro. Revoluções recorrentes, com sinceridades cortantes e vácuos desimportantes, tornam desgastados os casais que um dia fizeram juras de amor e comemoraram o fim da colonização na solidão. E tudo isso pra quê? Somente para ver qual lado deste país de amor vence a guerra.

 Irrelevante? Sim. Mas completamente intrínseco do ser humano. Não vivemos sem lutar por nossos direitos! A raiva presente em nosso âmago é o que nos move a levantar da cama todas as manhãs e viver. O sentimento é sempre tão forte, que acabamos divergindo tanto a ponto de brigar por isso e não largar o osso. A emoção toma conta e a frieza desses combates não nos deixa levantar bandeira branca. Para resolver estes conflitos é sempre necessário abaixar o tom de voz, manter a respiração controlada e devagar ir diminuindo a distância, para que consigamos olhar no fundo dos olhos um do outro e reconhecer aquela área que, no início, tivemos tanta vontade de explorar. Para aquietar os nervos exasperados – pelo menos por um minuto – é preciso colorir a nuvem cinza das relações, e tornar quente esta guerra fria.

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