Improvável – Parte 11

POV JULIA

Os braços de Maya me segurando e me protegendo, sua respiração batendo em meu pescoço. Saí com cuidado da cama, para não acordá-la.
Tomei um banho e preparei nosso café. Resolvi chama-la para a cozinha, tinha uma surpresa para ela.

– Amor… Amor, acorda. – Maya abriu os olhos de um jeito manhoso. – Bom dia estrela.

– Bom dia amor… Tô com fome.

– É, eu te conheço! Preparei uma mesa de café com tudo que você tem direito, levanta e vamos comer. – Maya me segurou pela cintura. – Mas já acordou animada?

– Muito! Tô com fome de você, a gente pode tomar café depois.

– De jeito nenhum, veste uma roupa, tem um monte de roupas suas no guarda roupa. Se troca, te espero na cozinha. – Dei um beijo e sai.

Não demorou muito para Maya aparecer de cabelo bagunçado, com um andar manhoso e um sorriso no rosto. Ela se sentou na mesa, e percebeu uma caixinha preta ao lado do copo de suco.

– O que é isso? Posso abrir?

– Calma, deixa eu te explicar o que é isso. – Segurei em uma de suas mãos. – Lá no meu pais, no Brasil, além do carnaval e do brigadeiro… Tem uma coisa, que bom, até onde eu sei, nós brasileiros que temos esse costume. Quando a gente começa a se relacionar com alguém, a namorar, geralmente compra dois anéis de prata, que simboliza que essa pessoa não está sozinha… Mas eu quero te mostrar que eu não pretendo ficar longe de você, que se esse for o preço que eu tenho que pagar pelas minhas escolhas… Por ter escolhido você e por você ter me escolhido… Ok, eu pago. – Maya chorava emocionada. – Abre, pode abrir. – Maya desfez o laço e abriu a caixinha, dois anéis de prata dentro daquela caixa. – Tem o nosso nome gravado, e a data do nosso primeiro beijo, que foi quando começamos a namorar. – Maya olhava atentamente por dentro dos anéis. – Olha, eu vou entender se você não quiser usar, é uma tradição brasileira, eu só quero demonstrar que independente de qualquer coisa, eu estou com você… Podemos deixar guardados, como algo simbólico, você não é obrigada a usar.

– Vai ser uma honra usar esse anel, o que tem meu nome é o que vai estar com você? – Confirmei como um gesto. – Gostei disso, vem aqui, senta no meu colo. – Fiz o que ela pediu. – Eu posso fazer as honras? – Ela colocou o anel em meu dedo e em seguida eu coloquei no seu. – Eu te amo.

– Também te amo.

Três meses depois…

– Maya, vai ficar com essa cara até quando? – Bati a porta do carro dela e fui em sua direção.

– Até você aceitar que eu compre um carro pra você!

– De jeito nenhum! Para de besteira.
– Não é besteira, já faz três meses que você anda de taxi o tempo todo, é bom você ter um carro… e aquele carro é teu sonho, eu posso te dar um, não vai fazer nem cocegas na minha conta no banco.

– Fico feliz por você não precisar se preocupar com dinheiro… Amor, olha pra mim. – Maya me ignorou, então segurei seu rosto. – Amor, já falei pra não se sentir culpada pelo que aconteceu… A polícia já resolveu, as garotas tão fazendo trabalho voluntário e reciclando seu comportamento… Está tudo bem, a imobiliária tá começando a expandir, quem sabe eu não ganhe um aumento e dê pra acelerar o processo de compra do meu carro.

– Claro que eu me sinto culpada.

– Não se sinta. – Dei um beijo nela. – Vem, hoje é seu dia de folga, e a gente não andou duas horas e meia de carro pra parar em frente a sorveteria e ficar com essa cara. Vamos aproveitar ok?

– Ok, amor. – Entramos na sorveteria, nós andávamos de carro por tanto tempo não só pelo sorvete de lá ser incrivelmente maravilhoso… Mas por lá ser um lugar simples, decoração anos 70. E por ser em uma cidade super pacata perto de Miami, todas as vezes que íamos lá, quase não havia ninguém… Mas hoje foi diferente, assim que entramos havia uma mesa lotada de adolescentes, que quando viram Maya, engoliram o grito… Talvez pela fase nada boa entre elas e seus fãs. – Vamos sentar lá no fundo dessa vez.

Depois que tudo aconteceu, Maya fez um texto enorme em seu twitter desabafando, texto esse que ela não me disse nada que iria escrever, eu ví assim como todo mundo, quando ele foi postado.

Maya deu uma bronca nos fãs, se mostrou decepcionada com eles, e disse que iria se afastar das redes sociais por um tempo, pois já não havia mais motivos dela compartilhar os momentos dela com eles, já que a relação de respeito acabou.

Por mais que na minha mente, eu tenho medo dos fãs dela, pois sei que eles não gostam nenhum pouco de mim, eu sei que não são todos… Mas minha mente generalizou… Enfim, mesmo assim eu tentei falar com ela, usei todos os argumentos e nada fez ela voltar atrás. Hoje o twitter dela é somente para divulgar seu trabalho. Seu instagram é privado, só vê o que ela posta quem ela permite.

Eu sou fã de um monte de artista, eu ficaria magoada se meu artista predileto se fechasse em uma concha… Por mais que ele esteja em seu direito. Eu não quero ser conhecida como a Yoko Ono dessa história.
Fizemos o nosso pedido, conversamos por um longo tempo, tiramos fotos divertidas, fotos essas que guardávamos só para nós.

Maya é especial, pessoas especiais nos fazem se sentir importantes só por estarmos do lado delas, e comigo não era diferente, ela me mima tanto, me enche de carinho e nunca solta minha mão ou deixa de me abraçar… Como se o corpo dela dissesse a todo instante que me ama. E eu amo me sentir assim.
Na hora que estávamos indo embora, fui pagar a conta.

– Julia? – As garotas se aproximaram de mim.

– Oi. – Foi a única coisa que consegui dizer, era estranho mas me sentia intimidada.

– Desculpa te incomodar, eu sou muito fã da Maya, e eu lamento muito pelo o que alguns fãs dela fizeram com você… Sei que ela não está nada contente com os fãs, mas será que você poderia pedir pra ela depois tirar foto comigo e com as minhas amigas?

– Falo, falo com ela sim. – Maya achou estranho eu e aquela garota conversando, e veio até nós.

– Algum problema, meu amor?

– Não… Não, essa meninas são muito fãs do seu trabalho e vieram até a mim para que eu pedisse pra você tirar algumas fotos com elas. – Maya continuava com aquela cara de poucos amigos, mas aos poucos foi sendo mais amigável, conversou com todas as garotas, resolvi me sentar em uma mesa qualquer vendo aquela cena, os olhinhos das meninas brilhando enquanto Maya conversava com elas, aquilo era bonito de se ver. Orgulho da Maya, do seu trabalho e de como é legal isso de inspirar pessoas, uma garota que estava com elas, disse que resolveu fazer teatro por causa de Maya. Ela tirou foto com cada garota e depois estavam tentando tirar algumas em grupo. – Quer que eu tire? – As meninas ficaram me olhando com surpresa, mas uma delas me entregou o telefone. – Sorriam!

Nos despedimos das garotas e voltamos para a casa, Maya ficou calada durante todo trajeto, respeitei seu silêncio.

– Estamos bem? – Maya me perguntou, atenta ao volante.

– Acho que sim, você ficou calada… Fiz algo?

– De modo algum. Desculpe eu só não soube lidar com você e fãs no mesmo lugar, notei um certo pânico vindo de você.

– É, admito fiquei meio travada, acho que generalizei na minha cabeça, enfim, há fãs legais.

– Até eu admito que generalizei.

– Que bom, agora tudo volta à santa paz…

– É, mas, honestamente em rede social… Sei lá, estou bem com essa desintoxicação.

– Aos poucos as coisas se ajeitam. – Fiz um carinho em seu cabelo, e fui surpreendida por um selinho.

POV MAYA

Um ano e meio depois.

Cá estou vestida para um baile de gala, hoje é a noite do baile na faculdade da Ju. Um ano e meio se passou, e graças a Deus, estamos bem.
Juntas, felizes. Ela se forma oficialmente amanhã… Eu tenho trabalhado muito e fui indicada ao Oscar como melhor atriz coadjuvante. Não poderia estar mais feliz, na verdade, pensando bem… Eu posso. E vai depender de Julia, amanhã.

Julia não me contou sobre o baile de formatura, fiquei sabendo pelo meu irmão. Ele disse que haveria a noite do baile e Julia não iria, por não ter companhia. Bom, mas ela também não me convidou. Admito, fiquei brava com ela, mas ela disse que não falou comigo por causa das pessoas que talvez não me deixaria curtir a festa. E por ela ter sido alvo de piadas malvadas, desde que começamos a namorar. Mas depois de uma pequena discussão, a convenci a irmos. É seu baile de formatura!  Ela lutou anos e anos para isso, ela merece comemorar.

Estou indo buscá-la, a noite só não irá ser melhor, porque seus pais estão aqui. E quando eles vem visita-la evitamos dormir juntas.

Bati na porta e fui recebida pela mulher mais encantadora: Julia com um vestido curto rodado de festa, com os olhos brilhando e uma maquiagem maravilhosa (Ju, sempre arrasa na maquiagem). Todo formando tira foto com a acompanhante e conosco não seria diferente, a mãe dela pegou a câmera, e nós posamos para algumas fotos.

Eu de vestido até o joelho, um vestido rodado na cor azul marinho e Ju, de vestido vermelho, com o decote em “V”, sexy e deslumbrante.

Fiz tudo como manda a tradição, geralmente quando um cara convida uma moça pro baile, a cor da gravata dele tem que ser de acordo com a cor da pulseira (uma pulseira com detalhes e uma flor). No caso como estou de vestido azul marinho, a pulseira que eu mandei fazer para Ju, é do mesmo tom.

Chegamos e como já era esperado, assim que entramos no salão, pessoas nos olhavam, com uma certa surpresa. Julia estava visivelmente corada, um pouco incomodada… Mas nos prometemos ter uma bela noite. Ela tinha feito amizades em seu curso, dois amigos e uma amiga, estávamos em uma mesa, os amigos de Julia e seus acompanhantes.

Comemos muito, rimos muito… Fiquei feliz dos amigos de Julia terem me aceitado entre eles com naturalidade… Parecíamos amigos de longa data.
Conforme a noite foi passando a rainha e o rei do baile foram escolhidos, dançamos muito e aos pouco as pessoas se sentiram mais a vontade de se aproximarem de mim e pedir uma foto. Bom, eu não podia negar isso.

Julia até se afastou para que eu pudesse atender melhor aquelas pessoas, não queria que ela soltasse minha mão, mas ela fez… Se encaminhou para a mesa e lá ficou conversando com um amigo.

Quando finalmente consegui voltar para Julia, seu semblante parecia calmo, eu estava contrariada detestava deixa-la de lado, era como coloca-la em banco de reservas, eu não queria que fosse assim, que ela se sentisse assim.

Era tarde, amanhã seria a formatura, e nós nos despedimos dos seus amigos (que agora, eram meus também). Passei em uma loja de conveniência, comprei uma caixa de chocolates para ela… E para mim, Queria prolongar a noite, nem que seja dentro do carro apenas conversando em frente da sua casa.

– Enfim, chegamos ao castelo da princesa. – Estacionei o carro e apaguei o farol. – Já disse que amei seus amigos?

– Já. – Julia soltou uma risada e se soltou do cinto de seguranças. – Essa caixinha aqui você comprou porque sabe que eu sempre divido meu chocolate com você, estou certa? – Apenas confirmei com um gesto. – Sabia! Te conheço senhorita Montreal. – Ela começou a desembrulhar o pacote. – Até que nos divertimos.

– Sim, foi divertido e nós na pista de dança, foi bem legal… Adoro dançar em excelente companhia.

– Eu também. – Julia me deu um selinho e voltou a se concentrar em abrir o pacote.

– Amor… – Julia me olhou com atenção. – Como você se sente quando alguém nos interrompe para conversar comigo, tirar uma foto? Tipo, não foi a primeira vez que isso acontece, e eu me sinto um pouco mal por deixa-la de lado, não quero que você se sinta mal com isso.

– Olha, Maya… Sempre que nós saímos juntas, eu assisto as pessoas olharem para você, eu assisto como as feições delas mudam no minuto que elas veem você. – Ela colocou a caixa de bombom de um lado e segurou minha mão com toda delicadeza sem tirar os olhos dos meus. – Eu nem mesmo sinto ciúmes ou raiva por eles te darem tanta atenção, ao invés disso eu estou gritando internamente SIM! CONTINUEM OLHANDO PARA ELA, ELA NÃO É A COISA MAIS LINDA? – Julia soltou uma risada divertida. – É sério meu amor, e sabe, eu fico tão animada porque eu sou a única que pode estar com você, quando toda aquela gente sair. – Ela se aproximou e encaixou seu corpo ao meu. E então ficamos em silêncio… eu fiquei pensando sobre isso por um longo tempo, eu não consegui sequer dizer algo de volta, porque ela não soou como algo possessivo em sua voz. Ela disse algo que eu espero que todos possam ouvir um dia… Isso fez meu coração sair do meu peito. Então abracei-a apertado. – Esse vestido está me incomodando, não vejo a hora de tirar ele.

– Se quiser tirar aqui, eu não me importo.

– Maya! – Ela deu um tapa em meu ombro. – Controle-se! – Caímos na risada, enquanto ela pegava a caixinha de bombom. – Se comporte e coma.

Continua…

Parte 12

Já leu?

Parte 1

Parte 2 

Parte 3

Parte 4 

Parte 5

Parte 6

Parte 7

Parte 8

Parte 9

Parte 10

assinatura paula okamura.fw

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