Improvável – Parte 7

Sai da casa dela pulando de raiva, queria matar a Rubi, mas precisava esfriar a cabeça. Não quero ir para a minha casa, sei que sozinha só pensaria besteira, então parei no lugar mais obvio nos últimos dias: a casa da Patty. Por sorte ela estava acordada e me ouviu, no começo até ela demorou a acreditar na minha inocência, eu estou em choque com cada palavra que eu li daquele print. Aquilo não sou eu! Nem no meu pior momento de loucura eu escreveria aquilo. Patty me ouviu, me acalmou e me deu morada na noite.

Acordei calma, porém revoltada com aquela situação.

– Bom dia, tá mais calma? – Patty estava tranquila escrevendo um artigo para o jornal em que trabalha.

– Um pouco. Aquele chá que você fez me ajudou a apagar.

– Que bom, é essa a intenção.

– Não consigo acreditar em tudo aquilo que eu li… Eu admito que senti a Rubi com um certo ciúme de você e da Julia, mas ela foi cruel. Ela jogou muito baixo!

– Pois é. Eu andei pesquisando pela manhã…

– Como assim que horas são?

– Quase quatro da tarde de uma quinta feira, tinha algum compromisso?

– Não, se não me empresário teria me achado… Ele já me encontrou em cada situação que nem te conto. – Dei uma breve risada lembrando da louca que eu fui.

– Imagino… Enfim, existe um programa no Google Play Store que chama WhatsFun, nele você pode simular uma conversa pelo whats, eu baixei o aplicativo e testei, veja. – Patty entregou o celular na minha mão. – Aqui diz que você vai me dar um milhão de dólares.

– Só pode ser isso! Ela só pode ter usado o aplicativo!

– Pois é, mas isso não é nada. Honestamente, acho que você deveria criar uma armadilha para pegar a Rubi no flagra. Pelo o que você  me contou ela se fez de super simpática, anjo, um ser iluminado para a Julia.

– Armadilha… Boa ideia, Patty! – Levantei correndo do sofá indo embora.

– Louca, onde você vai?

– Resolver minha vida! – Joguei um beijo no ar. – Depois te dou notícias! Fui!

Dirigi em direção ao escritório do meu irmão, ele vai me ajudar nessa, ele tem que me ajudar!

– Meu Deus, agora tá entrando sem bater nos lugares? Porque invadir casas eu sei que agora é sua especialidade.

– As notícias correm, não é mano? – Me sentei na poltrona à sua frente.

– Sim, foi um desrespeito o que você fez, quase matou a Julia de susto!

– E ela me deu um puta de um tapa! Olha aqui, mano, eu juro por Deus que eu não escrevi aquilo!

– Sei…

– Juro pelos nossos pais!

– Opa, a gente prometeu que a gente só juraria pelos nossos pais em casos extremos…

– Eu reafirmo, eu juro pelos nossos pais! Ontem eu passei a noite na casa da Patty, quando eu acordei ela me mostrou esse aplicativo aqui. – Peguei meu celular. – Até baixei ele, ele consegue simular perfeitamente conversas de whats!
– Misericórdia. Você acha que a cobra da Rubi fez isso?

– Acho! Mas sei que isso não ajudara muito o meu filme que está queimado com a Julia.

– Queimado não, querida, tá em cinzas mesmo… Virou pó.

– Por isso mesmo que eu preciso de você, preciso que convença ela a ir até a minha casa, eu vou dar um jeito de fazer a rubi confessar tudo.

– Não vai funcionar…

– Como não?

– Se a rubi ver a Julia, ela vai dar um jeito de contornar a situação, e ficar bem com vocês duas. A Julia tem que ficar escondida, ouvindo tudo, e na hora certa ela surpreende a cobra.

– Boa… Você é bem inteligente.

– Claro ne¿ Deus antes de nos enviar para a terra perguntou, quem quer ser o mais belo, você foi rápida e conseguiu. Então sobrou para mim ser inteligente… Até porque bicha burra ninguém merece, espera ai que eu vou ligar para a Julia, e fica calada que eu vou colocar no viva voz!

Demorou, demorou muito, mas meu irmão conseguiu convence-la. Não seria hoje, e sim amanhã…Liguei imediatamente para Rubi fingindo que estava tudo bem, disse que queria beber muito amanhã  e ficou combinado, as 21 horas ela iria lá pra casa.

POV JULIA

Sabe quando você sabe que tá fazendo algo que a sua razão não aprova, mas por algum motivo muito forte dentro de você, você vai e faz.
Pois é, essa sou eu neste momento, saindo de uma loja de conveniência e indo para a casa da Maya. No plano, eu ficaria escondida na dispensa enquanto Maya arrancaria a verdade de Rubi… Espero que eu não me machuque mais.

Eu sei meu lugar no mundo, sei que jamais Maya me veria com os olhos de desejo, ela já pegou tanta mulher gostosa. Lindas, com corpos esculpidos pelos mais fodas cirurgiões e eu, apenas uma estrangeira, gorda que ainda junta dinheiro para comprar o carro dos sonhos. A Maya não é para meu bico.

– Olá. – Maya me recebeu de sorriso aberto estendeu as mãos, mas eu passei direto. – Tá de excelente humor.

– Olha aqui Maya, eu não quero ser feita de trouxa novamente… Onde eu fico escondida?

– Vamos resolver tudo, e calma, sente-se ai… Falta trinta minutos para ela chegar.

– Ok, mas já aviso, não quero papo com você até lá.

– Está bem, pegue um livro qualquer ali e leia, mas olha posso pelo menos discutir o plano com você?

– É necessário?

– Sim.

– Fala.

– Quando ela chegar, vou leva-la até a cozinha, você vai ficar escondida. Vou falar com calma, não posso tocar direto no assunto, mas não vou oferecer bebida, só pra ela não vir com essa desculpa de que estava bêbada… Depois vou começar a falar mal de você, a Rubi sabe da agonia que eu arrumei quando você começou a me ignorar e se afastar de mim, então vou fingir que não estou nem aí mais com isso… E vou falar mal de você. Não leve para o pessoal, ok?

– Vou tentar.

– Por favor, tente porque não quero levar outro tapa… E aí por algum motivo vou mexer no meu celular, te mando uma mensagem no whats e você aparece e nós duas vamos bater de frente com ela… Ok?

– Ok.

Ficamos em silêncio até a chegada de Rubi.

– Vem aqui na cozinha, tô preparando uns aperitivos pra nós.

– Cadê a bebida?

– Calma, espera o aperitivo ficar pronto. Tá louca pra beber, tá na seca?

– Não, enquanto você estava no planeta dos caretas eu continuei a viver… Mas tô louca pra beber com a minha vadia predileta!

– Isso ai! Saudades de você também, puta.

– O quem feito da vida?

– Dei uma sumida, não é? Pois é trabalhando demais, sem tempo e sem saco pra nada… A série renovou por mais três temporadas, tô firme lá até a sétima!

– Ou seja, mais alguns anos tendo o trabalho difícil de pegar a gostosa da Lucy… Vida difícil, beijar a gostosa e ainda ganhar uns milhões por isso.

– Você sabe que eu não tenho o mínimo tesão na Lucy, e nem ela por mim.

– O mundo quer vocês juntas.

– Vai ficar querendo!

– E você tá mais calma sobre aquela bobagem?

– Que bobagem?

– Sobre a gordinha lá, a Julia.

– Não vale a pena, ela que perdeu a chance de andar com alguém bem interessante e sexy como eu.

– Não pense que ser sexy faz com o que estão a sua volta também sejam! Principalmente no caso dela, sem chances! – Rubi deu uma gargalhada. – Menina louca, vocês estavam conversando de boa e depois te ignora.

– Pois é! Foda-se ela!

– Foda-se sozinha, porque duvido que alguém queira ela. – Rubi soltou mais uma gargalhada. – Sabe que até cheguei a pensar que você estava afim dela?

– Deus me livre.

– Boa. Ai meu Deus, como é bom ter minha amiga de volta!

– Eu voltei, vadia!

– Tá fazendo o que?

– Respondendo minha mãe no whats. – A mensagem de Maya chegou até a mim, perguntando se já era o suficiente pra mim ou se eu precisava ouvir mais. – Pronto.

Claro que já era o suficiente para mim, eu queria matar Rubi, mas antes de sair, eu abri minha bolsa e tirei o meu presente para ela. Afinal ela disse que apostaria duas garrafas de tequila, então fiz questão de comprar duas garrafas da melhor tequila. Faria questão de entregar para Rubi pessoalmente.

Abri a porta da dispensa sem fazer muito barulho, A Rubi estava de costas para mim, Maya fingiu não me ver e continuou a conversar normalmente.

– Parabéns, Rubi! – Dei um grito chamando sua atenção. Quando Rubi se virou ela estava vermelha, não sei dizer se é de vergonha ou apenas ódio. – Olha que eu trouxe para você, toma é seu! Duas belas garrafas de tequila, do mesmo jeito que você apostou com ela!

– O que está acontecendo? – Rubi olhou para Maya totalmente desesperada.

– O que está acontecendo pergunto eu Rubi, porque? Porque você falsificou, inventou aquela conversa! – Rubi estava muda olhando em choque para Maya. – ANDA, RUBI! FALA!

– Eu odeio ela! – Rubi se levantou do banco e veio em minha direção. – Ela estava roubando você de mim!

– Você é louca? Eu não tô roubando ninguém de ninguém!

– Cala a a boca, sua baleia! – Não deu tempo de revidar a ofensa, antes que eu pudesse dizer algo Maya deu um belo tapa na cara de Rubi.

– Não se atreva a falar assim dela! Não se atreva a chegar perto dela! A pensar nela! Eu juro que eu te mato!

– Vai defender ela agora? Vai esquecer a nossa amizade?

– Nós não somos mais amigas! E já te aviso, se me ver na rua, não encosta em mim, me evita, some da minha frente, nem pense em me ligar, em mandar mensagem… Eu vou bloquear você em minhas redes sociais, eu vou bloquear você em tudo! Inclusive proibir sua entrada aqui no condomínio! E se você insistir em algo, eu mando meus advogados entrarem em contato com a polícia pra emitir uma ordem para você ficar distante de mim! –  Maya gritava com toda a força, se colocando na minha frente como quem quisessem me proteger.

– Você não pode fazer isso!

– Já fiz! E vou te dizer uma coisa, se você começar a falar mal de mim por ai, eu pego a gravação, porque tem três câmeras filmando desde que você tocou aquela campainha. Eu jogo na internet e deixo você se fuder!

– Você vai se arrepender, Maya! Você vai implorar pela minha amizade!

– Sai da minha casa, sai agora! – As duas se encararam e Rubi saiu levando as duas garrafas que eu dei.

– Eu te odeio, Maya!

– Vai pro inferno, Rubi! – Ouvi os passos da Maya voltando para a cozinha. – Game over.

– É.

– Você está bem?

– Não sei, me deu um medo dela. – Maya veio correndo me abraçar e por total fragilidade minha eu me encaixei nos braços dela.

– Não precisa ficar com medo, eu vou te proteger de tudo, eu prometo.
POV MAYA

Já se passaram três meses desde que Rubi foi desmascarada, ela sumiu.
Nos encontramos em alguns eventos, felizmente ela fugiu de mim como o diabo foge da cruz. Eu e Julia estávamos mais próximas, ela até me chama pelo nome! Nada de formalidades, nada de senhorita Montreal.
Eu realmente encontrei meu equilíbrio, eu estou 90% feliz, trabalho indo bem, no tempo livre eu tenho tempo pra mim, para minha família e para meus amigos. Até me matriculei em uma escola de dança! É a mesma escola que Julia frequenta, ela dança muito bem, eu pareço um poste enquanto ela detona nos movimentos, ela fica tão sexy dando hip hop… É mal de brasileira ser assim?

Patty e Cindy se conheceram em um jantar na casa de Julia, e as duas estão ficando. Como Marco vem jogando na minha cara, até a Patty se ajeitou e eu ainda estou sem saber o que fazer.

Pra ser bem sincera, eu acho que demorou a ficha cair, eu não quero só a amizade da Julia, eu quero mais! Eu quero cuidar dela, viver um monte de coisas com ela. Eu só preciso de um sinal, pra que eu possa investir nisso.
Eu não quero ninguém, eu quero a Julia.

Hoje será uma noite legal, estou na casa dos meus pais, o namorado do Marco está aqui, meus pais vão fazer um jantar em comemoração a isso e chamaram a Julia (tenho uma leve impressão que eles torcem para que nós duas fiquemos juntas).

– Julia! Seja bem vinda querida. – Minha mãe abraçou-a. – O que é isso?

– Eu trouxe um jogo de tabuleiro, que o Marco disse que tinha vontade de jogar e eu tenho esse jogo… E fiz brigadeiro, para vocês experimentarem.

– Até que enfim vamos provar brigadeiro! – Falei atrás dela na tentativa de assusta-la, e pelo pulinho que ela deu eu consegui. – Oi, Julia.

– Oi Maya, tudo bem? Como sempre me assustando!

– É minha marca registrada!

– Criançona você, isso sim!

O jantar correu maravilhosamente bem, e para nossa surpresa o namorado do Marco pediu ele em casamento na frente de todos!
Minha mãe chorou horrores, admito, eu também. Marco não cabe em sí de tamanha alegria, e meu pai ficou feliz com o pedido.

Brigadeiro é o melhor doce do mundo! Está decidido, eu comi como nunca, eles estavam em forminhas de papel vermelho com aquele granulado por cima, por Deus, aquilo é o paraíso em uma bolinha de chocolate. Ainda bem que a Julia fez um monte, ela quase não comeu, mas eu comi por ela! Meus pais queriam canonizar.
Se a noite já estava perfeita, ela ficou ainda mais, limpamos a mesa e jogamos um jogo de tabuleiro. Definitivamente esses jogos são os melhores. Como as pessoas pararam de jogar isso? É incrível! Jogamos como pares, meu irmão e meu cunhado, meus pais e Julia e eu.
No final da noite o placar, não podia ser mais vergonhoso, meus pais ganharam de lavada de nós…. Eu e Julia ficamos em segundo lugar (culpa minha que errei todas as 15 primeiras perguntas).

Julia foi para a casa, eu resolvi dormir na casa dos meus pais.

– Babou muito hoje! – Marco apareceu do nada em meu quarto.

– Ai, que susto Marco!

– Tá lendo o que? – Ele se sentou no meu colo, vestido de pijama.

– Texto da série mesmo… Decorando falas.

– Pode parar um pouco ai?

– Claro.

– Mana, tô tão feliz, eu vou me casar! Mas amanhã, eu vou sair para comprar babadores.

– Babador?

– Pra você, você está babando literalmente na Julia… Gata, chega nela e fala!

– Engraçadinho, eu não posso fazer isso agora, eu não sei se ela quer!

– É, tem razão…

– Ela não fala nada, sei lá, deixa escapar alguma coisa?

– Nada, Julia é ultra discreta, mas ela fala de você com muito carinho… Olha, porque você não aproveita o fim de semana que vocês vão acampar com a Patty e a Cindy e tenta investir, de um jeito sutil, quase imperceptível porque a Julia é arisca, então vai com calma, mas deixa subentendido… Mas mana, pensa bem antes de fazer qualquer coisa, porque a Julia não é uma mulher de uma ficada.

– Eu sei… Obrigada pelas dicas. – Dei um beijo em Marco e ele saiu do quarto. – Marco. – Chamei a atenção do meu irmão. – Eu realmente gosto dela.

 

Continua…

Parte 8

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Parte 5

Parte 6

assinatura paula okamura.fw

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