Improvável – Parte 8

POV JULIA.

Acampar. Isso nunca me passou pela cabeça, mas Cindy e Maya praticamente me obrigaram, sei lá, na época que eu morei no Brasil, eu ví um monte de filme americano de terror que acontece quando jovens acampam, e sim, eu tenho medo.

Patty disse que vai acampar sempre naquela montanha, mesmo assim eu não estou indo cem por cento segura. Montamos duas barracas, uma pra mim e Cindy outra para Maya e Patty. Exploramos o local fazendo trilha, encontramos um rio lindo, tiramos muitas fotos depois voltamos antes que escurecesse. Tomamos um banho, não dá pra dizer que foi aquele super banho, mas deu pra ficar limpinho.

Patty e Cindy foram deitar. Em volta da fogueira só eu e Maya, eu como sempre trago um cobertor, tenho pavor de passar frio. Olhei ao meu lado Maya estava toda encolhida.

– Toma. – Joguei um pedaço do meu cobertor para ela. – Você parece estar com um pouco de frio.

– Estou mesmo, posso me juntar a você?

– Pode. – Achei que Maya se sentaria do meu lado, mas ela fez mais do que isso, ela se sentou, me trouxe para junto dela e me abraçou.

– Quer que eu lhe solte? – Maya perguntou, provavelmente entendendo minha surpresa.

– Está tudo bem.

– Ok, Julia, posso te perguntar uma coisa?

– Pode.

– Quando eu invadi sua casa, na tentativa de falar com você… Eu ouvi coisas que eu não entendi, você foi noiva?

– É eu fui, mas aí ela me trocou por uma colega de trabalho dela, eu fiquei bem mal, me mudei pra Nova York e cá estou.

– Sinto muito por isso, não deve ser fácil… Mas quer saber? Foi ela quem perdeu, não você.

– Sei…

– Olha, você deveria se amar mais, você é linda! Atraente, inteligentíssima, qualquer pessoa se sentiria bem com você!

– Obrigada pelas palavras de consolo.

– Não são palavras de consolo, eu realmente acho isso… Eu sinto isso desde que eu te. – Ouvimos um gemido alto da barraca onde Patty e Cindy estavam.

– Já está tarde, eu vou dormir. – Me levantei correndo da fogueira e fui em direção a barraca. – Não seja inocente de que Cindy sairá da barraca e você terá uma bela noite de sono, pode dormir na minha barraca se quiser. – Maya se levantou e veio em minha direção. – Espero que você não ronque.

– Olha, nunca reclamaram, mas vou usar essa noite como teste. Afinal, se eu roncar sei que você vai me dizer.

– Pode apostar que sim!

POV MAYA

Ok, a situação não é das boas, eu estou aqui, em Florença na Itália divulgando um filme, e hoje fiquei sabendo pela fofoca da Cindy que contou pra Patty que me contou que Julia vai ter um encontro hoje à noite.

Não aguentei e perguntei para Julia, liguei para ela que  me confirmou. Ela não estava muito animada, dava para perceber pela voz, me contou que conheceu a mulher em uma conferência do ramo imobiliário e ela resolveu aceitar o pedido pra sair.

Eu estava puta de raiva! Não posso imaginar outra pessoa do lado dela que não seja eu! Por sorte a maratona de divulgação termina hoje, vou pegar avião, jato, foguete seja lá o que for mais rápido vou pra Miami.
Sei bem onde ela estará jantando.

POV JULIA

Salto alto, ok.
Batom vermelho, ok.
Vestido, ok.
Cabelo, ok.

Agora é só esperar por Vera. Não é exatamente com quem eu gostaria de estar indo a um encontro. Mas uma parte de mim tenta se conformar, Maya nunca olharia pra mim como mulher.

Vera foi pontual, agradável e o jantar seria em um restaurante de comida mediterrânea, admito não ter gostado da escolha, mas quem sabe a companhia me faria sentir-me compensada.  Estava tudo correndo de certa forma bem, Vera começou a cometer aqueles erros que não se pode cometer em hipótese alguma, falar da ex ou falar muito de você.

– Sabe Julia, eu tenho um senso de caça, eu diria para o mercado em que atuamos, gosto de aniquilar as empresas que tentam vender mais barato ou mostrar lugares melhores, o mercado imobiliário de Miami é para cachorro grande! Sua imobiliária ainda é um bebê… Não me leve a mal, será bom pra você passarmos um tempo maior juntas, creio que você vai aprender muito só em me observar. – Eu não podia acreditar naquilo que eu estava ouvindo, eu deixei transparecer meu total desanimo. Vera parece aqueles imperadores romanos metidos. – Amanhã poderíamos passar um tempo juntas em meu iate, foi caríssimo!

– Nossa. – Foi a única coisa que conseguiu sair neste momento de pura animação… Só que não.

Resolvi me concentrar no prato, tentar comer algo ali, já que eu não sabia o que era, ela fez questão de escolher o que eu comeria.

– JULIA! – Uma voz familiar me chamou, quando olhei, eu não acreditei.

POV MAYA

Minutos antes …

Cheguei no restaurante, a tal Vera já perdeu pontos em escolher uma culinária que Julia uma vez mencionou não gostar. Avistei as duas conversando… Merda, Vera é bonita, mas pela cara da Julia o papo não está agradando. Julia mal abre a boca pra falar, Vera parece estar em meio de um monologo sem fim… Preciso tirar ela dessa.

JULIA! – Caminhei em direção da mesa delas, Julia me abriu um sorriso e Vera estava me olhando com uma cara até simpática.

– Maya? O que você está fazendo aqui? Você não estava na Italia?

– Disse bem! Estava, voltei correndo pra casa, me deu vontade de comida mediterrânea, lembrei que você tinha dito que viria aqui então, resolvi aparecer.

– Legal! Bom, Vera essa, você já deve conhecer… Maya.

– Sim! Assisto você! Muito prazer em conhecê-la!

– Prazer é todo meu! Sente ali por favor. – Direcionei Julia para uma cadeira ao lado e me sentei no lugar dela, de frente para a Vera. – O que estão comendo?

– É, eu não sei… Você pediu o que? – Julia me perguntou curiosa, desconfiando do motivo real da minha presença.

– Nada, não gosto de comida mediterrânea. – Disse arrancando uma risada de Julia.

– Mas você disse que estava com vontade. – Vera me perguntou toda séria.

– Esquece o que eu falei. – Julia começou a rir novamente. – Ah, isso é bom.

– Gostou do lugar? – Vera me perguntou abrindo um sorriso.

– É o que a gente espera de um restaurante de comida mediterrânea, mas não falo disso, falo dela… A Julia tem a risada mais doce e gostosa de se ouvir, quantas vezes você fez ela sorrir hoje?

– Isso é uma pergunta? Isso é sério?

– Extremamente sério… Mas deixa pra lá, me diga garota, como você está? – Passei meu braço em volta de Julia e me virei para conversar com ela, ignorando totalmente a presença de Vera.

– Vou bem… Você está bem? – Julia estava com as bochechas rosadas.

– Agora te olhando, eu estou ótima. – Meu rosto corou, mas eu prometi a mim mesma que diria a verdade, sem filtros. Era ou conquista-la ou infelizmente saber que não havia nenhuma possibilidade para nós.
Vera estava inquieta na mesa, tentando introduzir um assunto qualquer, mas para a minha plena alegria, Julia estava prestando mais atenção em mim do que em Vera.

– Ei! – Vera chamou nossa atenção. –  Maya, eu sou fã do seu trabalho, mas, até quando você vai ficar aqui?

– Em Miami? – Me fiz de boba. – Bom, eu moro em Miami!

– Tá, eu entendi, eu falo de aqui, aqui. – Vera colocava a mão na mesa, dava para perceber uma leve irritação nela. – Aqui, comigo e a Julia.

– Ah sim, bom, eu não pretendo sair. – Disse com um imenso sorriso no rosto. – Gosto muito da companhia da Julia. – Me virei e continuei a conversar animadamente com Julia.

Vera não aguentou por muito tempo, inventou uma desculpa ruim e disse para Julia se despedir de mim que ela precisava dormir cedo, e levaria Julia para a casa.

– Pode ir dormir! Preocupa com isso não Vera, eu estou de carro eu deixo Julia em casa.

– De modo algum, ela veio comigo, volta comigo. – Vera ficou realmente estressada.

– Vera, eu realmente agradeço sua gentileza, mas pode ficar tranquila, Maya me levará para a casa.

– Sendo assim, não vou insistir… Mas, Julia eu realmente quero um segundo encontro, espero você me ligar.

– Entendido. – Vera saiu da mesa, e nos deixou sozinhas. – Maya! O que aconteceu aqui, você pode me explicar?

– Posso. Eu viajei que nem uma louca pra te tirar das garras dessa mulher, eu estava vendo vocês de longe, se você estivesse rindo, se divertindo eu não iria me intrometer, mas você não estava!

– Estava me vigiando? – Julia cruzou os braços fingindo irritação.

– Estava, e não tenho vergonha de admitir isso, você merece um encontro descente!

– Mereço?

– Sim, merece e eu vou lhe dar isso.

– Como assim?

– Hoje à noite, eu e você teremos um encontro. – Julia me olhava como quem não acreditava em minhas palavras. – E estou falando sério, vamos sair desse lugar de comida estranha. – Peguei em sua mão, e caminhamos até o carro.

Julia não sabia onde iriamos, mas era o lugar mais óbvio.
Antes passei em uma loja de conveniência, fiz ela esperar no carro, comprei tudo o que eu julgava precisar. Vinho, queijo, torradas, chocolate, frutas e flores. Entrei no carro e parti para o destino: sua casa.

– Deixa eu ver o que você comprou, te ajudo a cozinhar.

– Nada disso. Isso é um encontro, eu preciso mostrar minhas habilidades, fazer uma boa impressão, por favor, fique à vontade, não vou demorar. – Julia jogou as mãos para cima em forma de redenção e foi para a sala de vídeo, depois de quase vinte minutos chamei-a para cozinha. – Prontinho!

– Nossa! Vinho, frutas, frios e fondue! Que chique. – Ela se sentou e eu sai da cozinha. – Tem mais?

– Sim! Feche os olhos. – Voltei correndo para cozinha e parei atrás dela, estiquei meu braço a sua frente. – Pode abrir. – Não ví seu rosto, mas escutei sua respiração. – Flores para uma flor.

– São lindas! Maya! – Me ajoelhei de frente a ela. – Eu nunca ganhei flores, são lindas… Eu não mereço.

– Nem pense nisso, você merece flores sim, todos os dias… Eu queria mais flores, mas só tinham essas na loja, e como eu queria fazer surpresa você iria desconfiar se eu dirigisse até uma floricultura. – Julia me olhava com um brilho nos olhos, uma felicidade que nela eu nunca tinha visto, e de repente ela me deu um beijo na bochecha. – Gostei disso! Agora vamos comer!

O jantar foi bem legal e engraçado, conversamos muito, nada referente a nós, eu realmente estava com muito receio dela não ter entendido minha intenção, ou talvez achasse que era brincadeira.

– Vem aqui. – Me levantei da poltrona.

Continua…

Parte 9

Já leu?

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Parte 2 

Parte 3

Parte 4 

Parte 5

Parte 6

Parte 7

assinatura paula okamura.fw

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