Menina – Parte 2

POV SOFIA.

– VEM LOGO SOFIA! – Nanda minha amiga de infância gritou chamando minha atenção do outro lado da boate… Com essa música alta, só dá para conversar dessa maneira mesmo. – Que demora! Onde você estava?

– No bar, fui pegar um drink.

– Tá tanto faz, quero te mostrar alguém, quero que conheça o Caio. –  O homem sorriu quando nossos olhos se encontraram (até que ele é bonito). – Caio essa é minha amiga Sofia.

– Muito prazer Sofia.

– Prazer em te conhecer Caio.

– Posso te pagar uma bebida?

– Não… Eu gosto de pagar pelo o que consumo.

– Hum… Bom, o que posso fazer para ter um tempo para conversar com você?

– Apenas converse ué! Sou aberta a um bom diálogo.

– É… Você realmente é diferente.

– Não me diga que para conversar com uma garota aqui no Brasil precisa pagar algo para ela?

– Na maioria das vezes sim… Mas quer que eu lhe conte um segredo? – Afirmei e ele se aproximou da minha orelha. – Pagar bebida para conversar com uma mulher tem suas vantagens.

– Você é sincero, e isso é bom, admito que isso é um ponto para você.

– Gosto desse joguinho de pontos, aposto com você que ao longo da noite posso vir a ganhar mais pontos. Vamos nos sentar ali? – Aceitei, afinal seria legal debater com ele, sobre assuntos aleatórios.

A noite correu e até que Caio é um cara legal, descobrimos que ele trabalha meio que em conjunto com o escritório da minha mãe.
Ele me deixou em casa ontem à noite, tentou me beijar… Claro que não conseguiu. Não estou fazendo tipo, mas eu conheço homens como Caio.
Eles se acham os imperadores os bons partidos… Aqui ele vai aprender a dançar outra música… Não vai ser como ele quer… Ele é bem bonitinho… Mas sou gay.

– Bom dia filha! –  Minha mãe parecia uma chefe de excursão de tão animada.

– Bom dia mãe.

– Nem ví a hora que você chegou, se divertiu?

– A balada não foi muito boa não, mas lá conheci um cara que diz até trabalhar com você, o Caio.

– Sério?

– É, ele é legal?

– Como profissional, ele é sim, mas enfim, temos nossas diferenças.

– Entendi, não é um cara tão legal para você.

– Filha, hoje eu vou fazer um jantar para você. – Fechei a cara, porque já imaginei um monte de gente chata que eu não conheço, que só está ali para conversar e não por mim. – Não faça essa cara, você fará a lista de convidados.

– Mãe, eu nem conheço tanta gente, será um jantar intimista.

– E que seja! Faça sua lista, mas me avise até a hora do almoço.

– Posso lhe passar agora se quiser. – Minha mãe me olhou com surpresa.

– Ok, se você já sabe… Dora vem aqui por favor? – Dora é nossa empregada, ela basicamente é a pessoa que me criou… Amo ela como se fosse a minha mãe (ou até mais).

– Prontinho dona Carla.

– Dora, lembra que hoje enquanto você colocava o café na mesa comentei sobre o jantar para comemorar a volta de Sofia? – Dora confirmou em um gesto animado. – Pois bem, pegue uma folha e uma caneta. – Dora foi rápida e pegou o que precisava.

– Prontinho Sofia, pode falar. – Dora se pôs a anotar prontamente.

– Nanda, Patty, Verônica. Olhei para Dora que estava anotando. – Posso continuar Dora? – A mulher fez um sinal de positivo. – Quero a Elisa.

– Que Elisa? – Minha mãe se assustou.

– Elisa ué! Sua amiga parceira de trabalho. – Disse tentando manter minha calma.

– Porque? – Minha mãe cruzou os braços na tentativa de me intimidar.

– Preciso realmente responder essa pergunta? – Cruzei os braços também.

– Desculpe, desculpe. – Minha mãe tomou o resto do seu suco em um só gole. – É que eu realmente não estou te entendendo, vocês duas nunca foram próximas, você nem gostava dela.

– OK respira Sofia. – Disse para mim mesma em voz alta para minha mãe entender bem a minha “leve” irritação. – Porque querida mamãe, eu hoje me dou muito bem com ela, ela é agradável, gentil, inteligente… É uma ótima companhia e linda.

– Linda?

– SÉRIO? Sério que de tudo o que eu falei sobre Elisa, a única coisa que você reparou é que eu acho ela linda? Qual o problema de achar ela linda? Até porque, para sua informação, eu sempre a achei linda.

-SOFIA!

– O que eu fiz? Dizer que acho Elisa linda agora soa como um palavrão? –  Minha mãe ficou sem justificativas. – Posso convidar quem eu quero?

– Pode.

– Anote ai Dorinha por favor, Elisa e por último e mais especial. – Minha mãe me olhou com curiosidade. – Quero você Dora.

– EU? – Dora ficou surpresa.

– Dora? A Dora? – Minha mãe apontava o dedo para Dora sem realmente acreditar.

– Sim, Dorinha é uma pessoa que eu amo e super considero, eu não quero ela servindo, em um jantar que é para mim, eu quero ela do meu lado, comendo, rindo e conversando.

– Menina… Eu não sei se devo, eu não posso aceitar seu convite.

– Posso sim! E não aceito não, Dora, eu sei que seus filhos tem um certo ciúmes de mim, afinal seu trabalho fazia você ficar mais comigo do que com eles, mas hoje, quero que você ligue para eles e avise que vai jantar aqui, como minha convidada de honra. – Olhei para minha mãe.

– Então é isso! Dora, Sofia te quer no jantar! Contrate um buffet, relaxe hoje e a noite queremos você como nossa convidada.

POV ELISA.

-Eu? – Perguntei incrédula para Clarice, minha secretária. – Tem certeza? Carla não se enganou?

– Não senhora…Sofia quer você no jantar, a dona Carla pediu para avisar você, e ela não estava com cara muito boa não.

– Por eu ter sido convidada?

– Não sei, acho que não, vocês são amigas, não há porque.

– É… –  Afirmei com incerteza. – Clarice. – Chamei a atenção de minha secretária. – Carla está em reunião?

– Não senhora, de manhã a agenda dela está tranquila. – Levantei da mesa e sai da minha sala sem avisa-la, escutei a voz de Clarice me chamando, então eu voltei. – Vou conversar com Carla.

– Pode entrar. – Escutei a voz de Carla autorizando a minha entrada em resposta as minhas batidas na porta. – Bom dia Elisa. – Carla me ofereceu um sorriso gentil.

– Podemos conversar?

– Claro. – Carla foi seca comigo. –  Algum problema em obra?

– Não, está tudo ok… A Clarice me passou o seu recado, tem certeza que sou eu?

– Ah sim, sobre o jantar? É, tenho certeza, Sofia parece gostar de você, disse que te acha uma boa companhia e bonita, parece que gostou da sua consultoria e está até animada com a reforma no quarto dela.

– Fico feliz com a empolgação dela, pena que ela não quis seguir nosso ramo, ela é muito criativa Carla! – Ela abriu um imenso sorriso. – Como está as coisas entre vocês duas?

– Se resume a mim, mendigando o carinho de Sofia, e ela, me evitando… Acredita que ela chamou a Dora para esse jantar? – Fiquei parada tentando entender o porque da indignação de Dora ter sido chamada. – Qual é Elisa! Não me olhe assim!

– Desculpe, mas eu realmente não entendi o seu tom de voz, qual o problema da Dora se sentar na mesa como convidada?

– É que, ela é uma empregada!

– Carla! Que absurdo é esse em pleno 2016? Você está parecendo a patroa do filme A que horas ela volta.

– Não exagere… Cada um tem seu lugar na vida, simples assim!

– Você pensa assim agora, porque quando éramos duas pobretonas que estávamos fodidas na vida, nós não nos conformávamos com isso, lutamos, corremos atrás… Veja bem, não digo que Dora esteja fodida na vida, só quero que você entenda o ponto de vista.

– Sei sei sei… Mas é que, olha eu gosto da Dora, até porque não teria logica eu manter alguém com passe livre na minha casa se eu realmente não gostasse. Mas é que eu tenho ciúmes dela com Sofia.

– Como assim?

– Ela criou mais a minha filha do que eu! E eu inocentemente achei que não haveria problema.

– Carla, não se martirize por isso, Sofia entende que tudo o que você fez foi para dar uma qualidade de vida melhor para ela!

– Não, quer dizer, até foi isso, mas eu fui muito inadimplente, eu deixava de estar com a minha filha para sair, você sabe! Você mesmo na época me alertava sobre isso, preferia barzinhos paquerar do que estar com ela. Eu era assim antes de casar…Depois no dia seguinte, voltava para a casa, minha filha pedia para brincar comigo e eu negava dizendo estar cansada… – Carla estava perdida em seus pensamentos. – Ela foi crescendo e parou de pedir e hoje ela ama mais a Dora do que eu, e admito ela tem razão.

– Olha, não fica assim… Você já admitiu seu erro, mas ela voltou, vocês podem construir uma nova história, Sofia ainda é uma adolescente… Só não force as coisas.

POV SOFIA.

Tudo correndo perfeitamente bem, meus convidados chegaram, incluindo Elisa, preciso ressaltar que ela está linda, em um belo vestido tubinho preto…

Dora estava se sentindo deslocada coitadinha, mas fiz questão de não sair de perto dela em momento algum.

Minha mãe a todo momento me fuzilava com os olhos, eu sei que ela queria ser tratada como eu trato Dora, mas, eu sinto por Dorinha algo muito forte, foi ela que estava ao meu lado me dando a mão quando eu estava com febre a noite, quantas vezes ela deixou de ir para a casa, só porque não queria me deixar sozinha.
Eu tenho consideração por isso, amo Dora.

– Querida, acho melhor eu ir, amanhã terei que estar cedo aqui.

– Amanhã é sua folga, é sábado!

– Não querida, minha folga é no domingo, sábado é dia de trabalho.

– Pois eu estou te dando folga! – Olhei para meu lado e vi minha mãe mais uma vez nos olhando. –Mãe, vem aqui. – Ela prontamente veio em minha direção.
– Oi querida.

– Bom, já que eu vou passar uma temporada aqui, gostaria de saber se essa realmente é a minha casa?

– Mas que pergunta é essa? Claro que é!

– Ok, Dora, trabalha aos sábados e eu acho isso muito estranho, no pais de onde vim, não se usa trabalhar aos sábados… Quero que Dora trabalhe de segunda a sexta. – Minha mãe olhava para Dora, sem entender aqui, Dora se sentia constrangida.

– Menina não precisa, estou acostumada.

– Precisa sim, olha mãe, não foi a Dora que me pediu, eu só acho que é o certo a se fazer.

– Ok Dora, de segunda a sexta…

– Senhora não precisa.

– A decisão é da minha filha, vamos nos virar sem você no sábado, não se preocupe Dora, vamos sobreviver sem você.

– Dora está cansada eu vou levar ela até a sua casa, já volto mãe.

– Não precisa. – Dora tentou me impedir, toda vermelha de timidez.

– É perigoso. –  Minha mãe me advertiu.

– Tá, eu vou levar ela, mas não vou só, meninas. – Chamei minhas amigas. Meninas eu vou levar a Dora, vocês querem ir?

– Amiga, já estamos saindo, se você quiser a gente leva ela, eu peço pra minha mãe, ela acabou de chegar.

– Não precisa, eu quero levar ela… Elisa, você pode ir comigo levar a Dora?

– Posso, vamos no meu carro depois eu te deixo aqui na porta, pode ser?

– Claro, vamos Dorinha.

No caminho Dora e Elisa conversaram muito, Elisa é uma boa pessoa, as duas conversavam de forma animada, demorou quase quarenta minutos

– Nossa Dona Elisa, muito obrigada por ter me trazido.

– Pode tirar esse dona da frase ok?

– Me chame de Elisa, e não precisa me agradecer, estou a sua disposição.

– Menina, vem aqui. – Dora abriu os braços e eu me encaixei. –  Obrigada pelo convite, mas prometa não bater de frente com a sua mãe.

– Dora. – Tentei reclamar mais ela me impediu.

– Elisa, leve essa menina em segurança para casa.

– Pode deixar Dora, até porque se eu não devolver ela em segurança, minha amiga me mata. – Demos uma risada, Dora entrou em casa e eu entrei no carro de Elisa. – Ela é um amor.

– Dorinha é sim.

– Bom, você pode conectar seu celular se quiser no meu carro, pra você escutar o que você gosta.

– Eu prefiro escutar o que você gosta, diz que dá pra conhecer muito uma pessoa através do seu gosto musical.

– Meu Deus, vou ser avaliada?

– Claro que vai, presto bastante atenção em você.
Continua…

 

Parte 3

Já leu?

Parte 1

assinatura paula okamura.fw

 

One thought on “Menina – Parte 2

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Time limit is exhausted. Please reload CAPTCHA.