Menina – Parte 3

POV ELISA.

Me sentir acuada, é exatamente isso que eu estou sentindo, Sofia sabe fazer isso involuntariamente? Já não sei
A garota está virando minha conta do Spotify e disse estar gostando das músicas, o que eu estou adorando é ela deixando se levar pela batida da música, droga, preciso parar com esse pensamento.

– Porque você se separou? – A garota me perguntou do nada.

– Como sabe que eu me separei?

– Bom, sua esposa não está aqui e vocês duas eram um grude… E você não está mais usando aquele anel com uma pedrinha de rubi, ela tinha um igual, imaginei que era a aliança de vocês.

– Meu Deus, você reparou bem em mim! – Soltei uma risada nervosa.

– Ainda reparo, Elisa… Você é muito linda, impossível não reparar.

– Você está sendo muito gentil Sofia.

– Verdadeira com o meu ponto de vista, apenas isso.

– Sei… Bom, me fale de você! Temos quase uma hora de volta, como era sua rotina da Inglaterra?
– Bom eu fiz o ensino básico, cursei faculdade de comercio exterior e é isso.

– Não deixou nenhum namorado lá?

– Não, nem namorado e nem namorada. – Ela me encarou e eu desviei o olhar. – E você tem aproveitado a vida de solteira? Ou não está solteira.

– Nenhuma das opções, não estou com ninguém e nem tenho tido cabeça para isso.

– Ama sua ex esposa?

– Não, quando terminamos eu fiquei bem mal com tudo… Ainda gostava dela, hoje não.

– Isso é bom.

– Desprendimento?

– É, ver a pessoa e não sentir mais nada… É gratificante, pelo menos é assim que eu penso.

– Eu também penso assim. – Precisava mudar de assunto logo, ou sabe se lá Deus onde isso iria parar. – E você e sua mãe? Como está esse processo de adaptação?

– Difícil, ela se esforça, mas quando eu começo a me soltar, ela dá alguma mancada e ferra tudo.

– Exemplo oque?

– Minha mãe pediu para você me interrogar? – Ela me olhou desconfiada.

– Não! De maneira nenhuma, mesmo que se ela tivesse mandando eu não faria… Eu só queria puxar uma conversa, desculpa se fui invasiva.

– Relaxe Elisa, está tudo bem, só estava brincando com você… Bom, eu acho minha mãe meio quadrada, senti que ela ficou incomodada com o fato de ter exigido Dora no meu jantar.

– Não a interprete mal, a Dora cuidou mais de você do que ela! Ela sente ciúmes.

– É, pode ser isso também.

– Pretende ficar quanto tempo aqui?

– Não sei, vim pensando passar seis meses, mas talvez, eu fique mais… Tudo vai depender do que ou quem me prenderá aqui.

– Mas não me prenderei ao Brasil, e você? Gosta de morar aqui?

– Honestamente? Não… Esse pais é uma bagunça, corrupção, mas minha carreira tá aqui.

– E só o que te prende é seu trabalho?

– Sim, meus pais já morreram, não tenho esposa e nem filhos.

– Mas os negócios podem ser tocados a distância, o escritório é super equipado, percebi que vocês tem funcionários altamente capacitados.

– Eu já tenho 42 anos Sofia, eu não quero ficar sem trabalhar em outro pais e a concorrência seria grande, tenho medo de não ser contratada.

– Besteira, você é capaz! Bom, desde já ofereço minha casa na Inglaterra quem sabe no final da minha temporada você não venha comigo. – Dei uma gargalhada alta – Eu estou falando sério! Não me responda agora, deixe para me responder quando eu estiver prestes a voltar para casa.

– Esta bem.

– Meu Deus! Eu amo banda do mar! Seu gosto musical é excelente!

– Sério? Gosta mesmo?

– Sim! Sou apaixonada, louca para ir em um show deles… A voz do Marcelo e da Malu é voz que faz carinho na alma… Meu Deus eu amo essa música. – Sofia aumentou o volume, e depois diminuiu. – Posso aumentar o volume? Só nessa música.

– Claro, mas já aviso eu não consigo ouvir essa música e não canta-la!

– Ótimo, vamos cantar juntas!

– Beleza! 1 2 3 e já!

“ Mesmo que não venha mais ninguém, ficou só eu e você! Fazemos a festa somos do mundo sempre fomos bons de conversar, eu só espero que não venha mais ninguém, ai eu tenho você só pra mim! –  Apontamos o dedo uma na direção da outra e o clima constrangedor se instalou da minha parte, ela apenas riu com aquela boca maravilhosa. “– Continua Elisa!

Mas quando você vem eu fico melhooor. – Caímos na risada.

Cantamos durante o caminho inteiro, Sofia era muito engraçada, interpretava todas as musicas.

– Pronto, chegamos. – Estacionei o carro em frente à casa. – Pelo visto sua mãe ainda está acordada, mãe é mãe… Diga para ela que eu me comportei bem ok? – Sofia riu de maneira divertida. – O nosso show acabou.

– Pena! Por mim ficava a noite inteira nesse carro.

– Foi muito bom mesmo, obrigada pela companhia.

– Estou a sua disposição, agora toda vez que escutar banda do mar vou lembrar de você.

– Digo o mesmo. – O silêncio tomou conta. –  Boa noite Sofia.

– Boa noite Elisa. – Sofia me deu um beijo na bochecha e saiu andando sem olhar para trás. – Elisa. – Ela disse bem baixinho chamando minha atenção.

– Oi.

– Obrigada por ter levado a Dora e desculpa pelo meu canto desafinado.

– Não precisa agradecer… Estamos quites nessa parada do canto, tchau Sofia. – Liguei o carro e sai.

POV SOFIA.

– Elisa, eu gostei dessa cor, o que me diz? –  Perguntei a ela que estava concentrada em uma paleta de cores.

– Bonita, pensou nessa cor aonde?

– Na parte do Home Office.

– Certo, vou pedir o código dessa cor, para que eu possa fazer uma simulação e te mostrar como ficaria ok?

– Ok, você já teve alguma cliente assim? – Elisa que estava concentrada, olhou para mim

– Assim como?

– Indecisa ao extremo.

– Ah sim, todo mundo é indeciso essas horas… Se você visse meu apartamento, iria ver que aquele ditado, casa de ferreiro espeto de pau é a mais pura verdade. Meu apartamento é super simples.

– E quando você vai me dar a chance de conhecer seu apartamento? – Sei lá qual a visão que Elisa tem de mim, mas acredite, por dentro eu fico morrendo de vergonha… Mas por mais que eu sinto os olhares dela em cima de mim, quando acha que eu não estou olhando-a, sei que ela não fará nada.

– Bom eu ainda não sei, não sou boa anfitriã. – Ela ficou vermelha.

– Não se julgue, quando quiser testar sua habilidade em receber pessoas na sua casa, me chame, prometo avaliar severamente e lhe ser sincera na nota final.

– Ok, sendo assim, gosta de comer oque?

– Gosto de comida normal… Quero aproveitar que estou no Brasil e me alimentar de muito arroz e feijão, até tem umas lojas na Inglaterra que vende comida brasileira, mas nada chega aos pés daqui.

– Eu sou mineira… Cozinho muito bem, está no sangue das mineiras. Gosta de frango caipira?

– Nunca comi… Mas já ví fotos em livros de culinária parece ser bem gostoso.

– Teria coragem de experimentar? – Ela me perguntou em um tom animado.

– Claro!

– Sério? – Ela ficou super surpresa com a resposta, até tirou os óculos do rosto.

– Seríssimo.

– Bom, sábado à noite é uma boa data?

– Sim!

– Pior que sábado à noite e sexta vocês jovens gostam de ir para balada, pensando bem, no domingo.

– Eu não sou dessas garotas ratas de balada, tenho certeza que vou me divertir muito mais com você do que em qualquer boate… Vamos manter o programa para o sábado, tudo bem?

– Sim, sábado então você vai experimentar um cardápio mineiro, inclusive galinha caipira.

– Estou ansiosa para sábado.

– Também. – Ela deu um sorriso tímido e voltou a encarar a tela do computador.

Os dias passaram e finalmente chegou o sábado, Elisa tinha me passado o endereço de sua casa, pegaria um taxi para ir até ela.

– Tchau mãe. – Encontrei minha mãe na sala com o meu padrasto vendo um filme qualquer.

– Onde vai filha?

– Vou jantar fora. – Não é que eu tinha vergonha de dizer que seria com Elisa na casa dela, mas sei que minha mãe não acharia certo, seja lá qual motivo estranho ela possa vir a ter.

– Com quem?

– Querida deixa a Sofia, ela não tem mais 16 anos. –  Meu padrasto se manifestou.

– Sou mãe, sempre vou me preocupar com ela… É com o Caio?

– Não, é com a Elisa.

– Elisa? Minha amiga?

– Sim, agora pode ficar tranquila, estarei em ótimas mãos, acompanhada da sua amiga.

– Sofia, é melhor você ligar para ela e desmarcar.

– Me dê um bom motivo?

– Filha, a Elisa ela… É de outra vibe, esse jantar será entediante.

– Você conhece pouco sua sócia, ela é uma ótima companhia, conversamos muito, não há porque desmarcar. – Percebi que minha mãe estava completamente incomodada com essa situação. – Olha aqui mãe, eu poderia muito bem mentir para você e dizer que iria sair com as minhas amigas, porque sei que você não vê com bons olhos a minha aproximação de Elisa, porém, para termos uma convivência saudável, eu preferi perder meu tempo e lhe contar a verdade… Seja lá quais os motivos que você tem, eles não me interessam, eu já sou uma mulher adulta e posso muito bem jantar com quem eu quiser… Se não está bom para você o modo como eu me comporto, eu tenho a solução, vou para um flat.

– Pelo amor de Deus Carla, para que ficar com essa cara? – Meu padrastro repreendeu minha mãe. –  A Sofia está certa, Elisa é sua amiga, Sofia estará em boa companhia e se você continuar fazendo cara feia é pior… E essa temporada que ela veio foi para vocês duas se acertarem, terem uma convivência saudável, controle seu ciúme… Elisa não quer roubar seu lugar de mãe… Nem ela e nem a Dorinha. Deixe a menina respirar.

– Tudo bem, bom jantar Sofia. –  Minha mãe disse de maneira seca.

– Obrigada Ricardo, fico feliz que tenha alguém que ajude minha mãe a ver as coisas como realmente são… Pode acreditar, eu não quero transferir minha carência de uma mãe para Elisa. Bom filme para vocês, até amanhã.
Continua..

Parte 4

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Parte 1

Parte 2

assinatura paula okamura.fw

3 thoughts on “Menina – Parte 3

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