MENINA – PARTE 4

POV ELISA.

Eu estou nervosa, faz anos que não recebo ninguém em casa, passei a tarde inteira cozinhando, fiz arroz, feijão tropeiro e galinha caipira.
O porteiro já me ligou pedindo autorização de Sofia para subir.

Espero que ela goste, e que ela não esteja tão linda… Que merda, eu preciso me afastar dessa garota. Hoje, é isso mesmo… Hoje será a última vez que a encontrarei sem ser para assuntos profissionais.

– Já vou! –  A campainha tocou, me ajeitei no espelho, e fui abrir a porta. – Olá, entre seja bem vinda.

– Obrigada, nossa o cheiro está ótimo!

– Espero que o gosto também esteja, quer esperar um pouco ou já está com fome.

– Podemos atacar de uma vez? Estou morrendo de fome.

– Claro, vem comigo. – Sai andando em direção da cozinha, por pouco não tropecei, seria ridículo, mas imaginar que Sofia está na minha casa, atrás de mim, em direção a cozinha… Me deixa nervosa.

– Seu apartamento é bem legal.

– É, mas não a decoração.

– É simples, porém aconchegante, prefiro assim do que aquela casa da minha mãe, parece mais uma mansão daqueles filmes americanos.

– Sim, daqueles filmes que eu via na sessão da tarde na época que eu não trabalhava. – Caímos na risada. – Mas nem que se eu quisesse eu teria dinheiro o suficiente para comprar e manter uma casa daquelas.

– Ah claro que sim, você e minha mãe são sócias, vocês duas devem ganhar a mesma coisa.

– Sim ganhamos! Temos um administrador que cuida dessas coisas desde o começo. – Puxei a cadeira para ela. – Vou lhe servir, só um minuto.

– Se quiser eu te ajudo a trazer as panelas para cima da mesa, vai ser mais cômodo para quando formos repetir não precisar ficar levantando.

– Pode ser! Então venha aqui, me ajude. – Sofia me ajudou com tudo, a comida estava literalmente na mesa. – Bom, eu sei que você trouxe vinho, mas acho que a melhor forma de acompanhar esses pratos é com refrigerante, era assim na minha casa.

– Ah tudo bem, sem problemas… O vinho fica como presente então.

– De modo algum, depois de comermos eu abro e tomamos uma taça enquanto conversamos.

– Perfeito.

O jantar não poderia ser mais perfeito, Sofia amou, ela repetiu por três vezes, e me fez prometer fazer novamente em outra ocasião.
Resolvemos lavar a louça, a garota é muito simples apesar do padrão de vida dela, ela é encantadora. Quando ela fez um coque no cabelo, sua nuca ficou exposta enquanto eu guardava a louça… Por Deus, quase fiquei louca.

Terminada a tarefa de lavar e guardar a louça, abri a garrafa de vinho e fomos para a sala, me joguei no sofá, enquanto ela olhava meus CD’s e DVD’s na estante.

– Vou colocar esse DVD aqui. – Ela levantou a caixa, pude ver que era o DVD Caetano e Maria Gadú. –  Pode ser?

– Claro, você tem um belo gosto musical menina.

– Obrigada… Você também só escuta coisa boa. – Ela se sentou do meu lado e me ofereceu sua taça. –  Já tomou?

– Não, estava a sua espera.

– Um brinde!

– Um brinde ao seu quarto novo.

– Um brinde á nós, somos uma dupla perfeita.

– A nós.

No decorrer da noite, conversamos muito… Sofia tem apenas 23 anos mas a sua alma parece de gente velha. Ela é tão madura e sábia para sua idade.
Quando dei por mim, estávamos falando sobre meu falecido casamento, contei tudo para ela. Coisa que nunca contei para ninguém, como o fato de eu ter sido traída.

Ela me ouviu atentamente e ao mesmo tempo foi me confortando, falou sobre os seus relacionamentos, ela me contou sobre seus relacionamentos, a maioria deles com meninas, somente um com um rapaz.

Sofia para mim era como um turbilhão… Tão cheia de coisas, ela sabe ser fatal, te rasgar por dentro com um olhar. Ser meiga, amiga compreensiva… Fora o seu humor, ela é tão encantadora, é uma pena ela ser filha de Carla.

– Elisa, é melhor eu ir indo, está tarde.

– Bom, vou chamar um taxi para você, eu bebi não é bom eu dirigir.

– Tudo bem, eu entendo. – Peguei meu celular e liguei para um taxista de minha confiança, ele viria rápido, pois estava no meu bairro deixando uma cliente. –  Elisa…

– Diga. – Finalizei mais uma taça de vinho.

– Você já ficou com alguém depois do termino do seu casamento? – Ela se levantou e foi pegar sua bolsa.

– Não, não namorei, acho que nem sei como é isso. – Dei uma risada para descontrair.

– Não falo em namoro, falo de… Beijar alguém.

– Também não. – O interfone tocou, o taxista já estava à espera de Sofia. – Sofia, o seu taxi já chegou.

– Ok, eu vou indo. – Me aproximei para me despedir e agradecer pela companhia, e fui surpreendida com um selinho. – Agora você pode dizer que alguém já te roubou um beijo… Boa noite.

Ela abriu a porta e sumiu, e eu fiquei com essa cara de bobona, como se tivesse ganhado o primeiro beijo na vida.

Eu poderia até me preocupar agora, ficar indignada com o atrevimento dela, mas não… Eu gostei.

POV SOFIA.

Já faz alguns dias que não vejo Elisa, desde o jantar.

Sei que daqui alguns dias terei que vê-la, ela terá que me mostrar a simulação das cores.

Resolvi me exercitar na praia.

– SOFIA! SOFIA! – Era Caio que estava em uma barraca bebendo.

– Oi Caio. – Parei em frente à mesa deles.

– Oi gata. – Ele se levantou e veio em minha direção me dar um beijo no rosto. – Galera dê um oi para Sofia, minha futura esposa. – Seus amigos me deram um oi.

– Para de besteira Caio.

– Vem tomar uma cerveja com a gente!

– Obrigada, eu estou caminhando.

– Quer companhia?

– Não precisa, gosto de caminhar sozinha.

– Precisamos sair mais vezes.

– Depois vemos isso.

– Me manda um whats, e a gente marca algo só nós dois.

– Beleza. – Ignorei e sai andando, escutando alguns comentários dos amigos dele sobre meu corpo… Enfim, trouxas.

Recebi uma mensagem de Elisa, dizendo que estava com a simulação de cores prontas para me apresentar, a respondi imediatamente e marcamos para amanhã, no escritório da empresa.

No dia seguinte estava lá a sua espera como combinado.

Elisa estava séria comigo, falando somente o essencial, imaginei que seria por conta do selinho no fim da noite.
Não queria pedir desculpas, não fiz nada de errado e no fundo sei que ela gostou.

– Elisa, posso falar com você um pouco na sua sala?

– Não vai dar, eu tenho que atender uma cliente. – Ela nem olhou na minha cara.

– Eu espero ela sair, e nós conversamos. – Fui firme na voz, ela me olhou, percebeu que eu não sairia de lá, sem conversar com ela.

– Esta bem, se você insiste.

– Sim, insisto.

Elisa saiu em direção a sua cliente e eu resolvi ficar conversando com Clarice sua secretária, depois de quase cinquenta minutos Elisa me chamou.

– Pronto Sofia, sente-se.

– Olha, não me trate assim.

– Assim como? – Ela continuou a digitar olhando atentamente para tela.

– Friamente, tudo isso por causa daquele selinho que eu te dei na sua casa.

– Aquilo foi por causa do vinho.

– Na verdade não, eu sabia bem o que eu estava fazendo… Mas mesmo não achando que devo, quero te pedir desculpas e quero que você aceite e volte a ser aquela Elisa por quem… Digo, pela Elisa que eu adoro estar perto e conversando.

– Podemos esquecer aquele selinho? – Ela esticou a sua mão.

– Posso tentar, só não suma de mim. – Apertei sua mão e ela sorriu.

– Amigas?

– Amigas.
Dois meses se passaram, nesses dois meses ela e eu ficamos bem próximas, conversamos muito, tomamos café em livrarias caminhamos pela praia.

Mas sempre que eu a convido para um jantar ou balada ela declina.

Minha mãe continua parecendo um cão de guarda, Caio também.
Caio é uma pedra no meu sapato… Tentei me afastar de vez dele, mas ele sempre descobre onde estou e minhas amigas ainda forçam a barra chamando ele para a balada.

Até minha mãe, já chamou ele, somente ele para jantar lá em casa. Ela literalmente está me jogando nos braços dele.

Meu quarto ficou pronto, ficou lindo é meu lugar predileto.

Elisa: Sofia você está online?

Eu: Sim estou, tudo bem Elisa?

Elisa: Sim, eu acabei de saber que a Banda do Mar vai se apresentar no próximo fim de semana na Lapa, tô pensando em ir… Lembrei que você também gosta… Quer ir?

Eu: Claro.

POV ELISA.

Hoje é meu aniversário, hoje é dia do show da Banda do Mar, estou animada, Sofia vai comigo, ela não sabe que hoje é meu aniversário.
Combinamos de nos encontrar na frente da casa de shows.

Foi difícil, mais consegui um lugar para estacionar, não muito longe, pude ver Sofia em um vestido vermelho curto colado ao corpo, chamando a atenção de alguns rapazes perto dela.

– Desculpa a demora Sofia.

– Nossa Senhora! Que produção é essa! Você está maravilhosa Elisa!

– Ah pare com isso! Você que está linda! Vamos entrar?

– Vamos.

O show não demorou muito a começar, estávamos na área vip, havia mesas para assistirmos tudo com melhor comodidade porém e impossível ficar sentada em um show daqueles.

– Boa noite. –  Um rapaz se aproximou de mim.

– Boa noite. – O respondi e voltei a olhar para direção do bar, onde Sofia estava pegando algo para nós.

– Qual seu nome? – O cara se mantinha parado olhando meu decote.

– Elisa, e o seu?

– Eduardo… Ambos começam com a letra E, acho que isso é destino.

– Apenas coincidência.

– Não acho, está no comecinho do show, percebi que está apenas com uma amiga, não está acompanhada… Posso te fazer companhia?

– Não obrigada, agradeço a gentileza.

– Elisa, eu sou um bom homem… Tenho certeza que não vai se arrepender.

– Querida aqui está sua bebida. – A voz de Sofia se fez presente, senti seus braços envolvendo minha cintura. –  Posso te ajudar cara?

– Quem é você? – Ele perguntou olhando para o gesto dela, de me abraçar por trás.

– Essa pergunta quem deveria fazer sou eu, já que você está flertando com a minha namorada.

– Namorada? – Eduardo olhava incrédulo para nós duas.

– É surdo?

– Não.

– Ótimo, porque vou falar só uma vez, Elisa tem companhia e sou eu… Então por favor saia de perto de nós duas, ela já está em boa companhia. – Eduardo saiu sem falar nada, eu cai na risada e pude ouvir a risada de Sofia perto do meu ouvido. – Cara folgado.

– Você é uma ótima atriz Sofia.

– Sei marcar território quando quero, se você não se importa, seria melhor ficarmos o show inteiro assim, só para mantermos bem a mentira. – Meu corpo estremeceu com só de pensar na possibilidade de ter seu corpo grudado ao meu.

– Tá. – Foi o máximo que consegui falar.

O show está maravilhoso, Sofia não me soltou em nenhum momento, em algumas músicas senti sua mão fazendo carinho em minha cintura seu corpo se aproximando.

Me deixei levar pela música e comecei a dançar.

Continua..

Leia também

PARTE 5

Já leu?

Parte 1

Parte 2

Parte 3 

 

assinatura paula okamura.fw

Deixe uma resposta