Eu tenho uma amiga linda por dentro e por fora. Nunca está de mau humor, mesmo com o mundo dela caindo, nunca reclama da vida, mesmo tendo perdido o pai para um câncer, e estamos sempre fazendo algo juntas, mesmo estando eu de mau humor. Conversamos abertamente sobre quase tudo. Quase.
Uma das melhores amigas que eu já tive, com mesmos gostos e preferências e também formas de ver o mundo. Quando estamos ambas com tempo, nos vemos toda semana. Somos muito carinhosas uma com a outra. Escrevemos mensagens fofas, dizemos que estamos com saudade uma da outra, trocamos carinhos e abraços. Uma cumplicidade muito bacana.
Eu a conheci pela internet. Desde o primeiro encontro não desgrudamos mais. Lá se vão dois anos… Pouco tempo para uma amizade tão forte, eu diria. Mas, para mim, essa amizade tem muito mais significado. Porque ela é nativa, eu sou estrangeira. Sou estrangeira no país dela. Sou a pessoa que entrou num mundo novo e precisou fazer suas próprias amizades, conhecer sua vizinhança. E ela foi a primeira amiga de verdade que é nativa. Tudo bem, ela fala português e isso facilita. Porém, facilita também o fato dela ser uma pessoa super fácil de conviver e aceitar as diferenças, as poucas diferenças que temos. Ela não olha de cara feia para mim quando peço aquele bifão e ela fica na saladinha vegetariana dela. Nem eu a provoco com um pedaço de bacon.
Um dia, quando nos despedíamos, senti um olhar diferente dela. Senti que ela ficou sem jeito, sem saber se me abraçava, ou se simplesmente ia embora…Sabe aquele olhar profundo? Pois é.
Eu fiquei com vergonha e excitada. Sim, fiquei excitada. E dali em diante pensei “por que não?”. Nos gostamos, nos damos bem e o mundo em que vivo hoje é tao aberto, minha cabeça também.
Alimentei esse desejo por muitos e muitos dias. Sondei seus desejos também. Mas, percebi que seus princípios e valores são mais fortes. Não conversei com ela sobre isso. Não tive coragem, apesar de uma amiga no Brasil ficar me incentivando. Porque, claro, corri pra pedir conselhos para quem entende melhor do assunto do que eu, já que nunca tive experiência semelhante.
Contudo, o beijo ainda não senti, as mãos ainda não acariciei e abraços não viraram amassos. Mesmo querendo, mesmo desejando. Acho que mais importante do que sentir esse novo sabor, é manter a amizade, é não perdê-la. Estamos bem também assim.
E ela não precisa se sentir culpada por ter “atrapalhado” um casamento. Não contei? Sou casada. Apesar de eu saber que meu amor por ela é um, pelo meu marido, outro, sei que pra ela seria demais. Então, deixa assim.
Nesse momento, ela está visitando a mãe em outro estado, não a vejo há duas semanas. Hoje escrevi pra ela: “saudades de você…”
E do que beijo que não dei.
Anna
Q lindo! Tão delicado! Apaixonei! Parabéns à autora!