POR TODA VIDA – PARTE 11

POV AMANDA

Eu realmente não me importo com o que dizem sobre mim e a Lilian admito que até gosto.

Reta final da gravidez, está me dando um aperto no coração… Eu queria tanto acompanhar o crescimento dessas duas. Não quero elas longe de mim.

– Vamos passar na casa da Giovana? – Lilian me perguntou.

– Vamos, sim.

– Aleluia! Até que enfim me respondeu, eu estou faz uns cinco minutos perguntando isso e você quieta.

– Desculpa, eu estava com a cabeça em outro lugar.
– Sei, quer compartilhar?

– Podemos antes ir para nossa casa? Queria falar sério com você.

– Claro, vamos para casa primeiro, depois voltamos para jantar com a Giovana, você avisa ela?

– Vou mandar uma mensagem. – Mandei uma mensagem para Giovana, enquanto o silêncio predominava no carro, até que chegamos.

– Quer conversar onde?

– Na sala, pode ser?

– Claro, vem, eu te ajudo a subir

– Senta aqui comigo, Lili… É sobre as crianças.

– Elas estão bem? A médica disse algo dessa vez?

– Não, não. Está tudo bem com elas… Sou eu.

– Você o que?

– Sobre o nosso acordo… De você assumir a maternidade, e assim que elas nascerem você e elas desaparecerem da minha vida. – Comecei a chorar. – Eu não quero mais, eu quero quebrar o acordo, eu amo minhas filhas eu quero poder estar perto em cada passo. Me desculpa.

– Ei, calma. – Ela me envolveu em um abraço. – Tudo bem, está tudo bem.

– Não, não está, eu sei o quanto a ideia de você ser mãe te enche de alegria e eu tirei isso, eu quebrei um acordo nosso.

– Olha para mim. – Ela segurou meu rosto. – Está tudo bem, eu já peguei um monte de vezes você conversando com elas, chamando de filhas… E você nem me via. Amanda, não é errado chamá-las de filhas, é o que elas são… Suas filhas e você é a mãe. Eu admito que estou bem feliz, em ver que você criou vinculo de amor com essas duas menininhas que estão dentro de você.

– Não está brava comigo?

– De modo algum, estou orgulhosa do ser humano que você é… Posso beijar sua barriga?

– Claro.

– Ei mocinhas, novidade aqui no mundo externo. A mamãe de vocês, essa aqui que deu a casinha para vocês ficarem. Ela já ama vocês mais do que tudo no mundo e quer cuidar de vocês, e eu, eu também amo muito.- Lilian parou de falar e começou a chorar baixinho. Aquilo cortou meu coração. – Vocês terão a melhor mãe do mundo. Estamos ansiosas para ver vocês chegarem.- Ela depositou dois beijos na barriga. – Não se esqueçam de mim. – Ela se levantou enxugando as lágrimas. – Eu estou bem! Juro que estou, eu só… Fiquei emocionada, apenas. Vamos para a casa da Giovana? Estou com fome.

– Vamos. – Ela saiu na frente limpando os olhos, tentei apressar meu passo para alcança-la. – Lilian, olha para mim… Me abraça? Não precisamos ter pressa para chegar na Giovana. – Assim ela fez.

Quando notamos que emocionalmente estávamos mais estabilizadas, fomos para a casa da Giovana.

– Que bom que vocês chegaram, preciso falar com vocês duas.

– Diga.

– Esse ano foi um ano desafiador para todo mundo…

– Meu Deus você está falando como se estivéssemos em Dezembro, calma aí ainda é Julho.

– Fica quieta, Amanda! Eu só quero dizer que foi um ano de reencontro, nós três nos reencontramos… E vocês foram tão importantes na minha adolescência que pensei em trazer mais uma pessoa que foi fundamental para essa minha fase teen… E para a Lilian eu diria… Com vocês, a única, a incrível a melhor prima do mundo! DEBORA! – Debora saiu da cozinha toda animada, e eu quase caí para traz, Lilian se levantou correndo para abraçá-la.

– LILICA! – Debora disse toda animada… Por Deus, Lilica? Que apelido bosta.

– Deby! Meu Deus, que saudades suas!

– Eu digo mesmo, perdemos o contato, não é mesmo? Mas, procurando seu nome na internet achei um monte de coisas legais sobre sua carreira… Fiquei tão orgulhosa, sempre disse que você tinha jeito!

– É mesmo, você foi minha maior incentivadora, minha primeira modelo.

– Você ainda tem aquelas fotos?

– Sim, tenho, estão no meu apartamento no Rio em uma caixa.

– Ai, ótimo porque algumas são babados né? – Debora disse começando a rir. Até que ela me viu. – Amanda, tudo bom? – Ela me abraçou – Bom te ver!

– Bem e você?

– Estou ótima! Você é uma grávida linda… Eu sei da história mas, se me permite dizer, você está incrivelmente bela.

– Obrigada, Debora, você não mudou muito, mas, está ótima.

– E ai gostaram da surpresa? – Giovana disse divertida, Debora e Lilian se manifestaram na hora, eu preferi ficar calada. – Gente, mas eu juro que tem comida, fiz uma lasanha de batata que ficou incrível, né prima?! Vamos pra cozinha.

– Vamos! – Debora saiu arrastando Lilian que nem se lembrou da minha existência.

– Miga, está tudo bem?

– Está… Está tudo ótimo, acabei de partir o coração da Lilian contando que não vou dar os bebês para ela, que desfiz nosso acordo e quero ficar com as crianças. Ela foi fofa como sempre, mas chorou. E agora você desenterra a Debora que foi a primeira vez da Lilian! Eu estou ótima! Eu acho que se eu não estivesse com esse baita barrigão eu daria na sua cara.

– Nossa… Eu não tinha pensado por esse lado. Dei mancada.

– É, deu, e das feias. Vamos jantar logo.

O jantar foi regado de risadas das duas, elas pareciam duas adolescentes idiotas que não paravam de rir, contando histórias daquela época, lembrando de cada pessoa que estudou junto com elas e sempre com aquela típica pergunta: “e como ele está agora?”.

Giovana me olhava praticamente implorando perdão, afinal não é segredo para ela que eu gosto da Lilian, que eu quero ficar com ela. Aí ela vem e traz a Debora, que está com o corpo totalmente em cima, em forma,  solteira e dando super mole para ela, toda hora uma necessidade de encostar, de tocar, de alisar. Isso é ridículo.

Com muito custo consegui ir embora daquele local, mas Lilian e Debora combinaram de jantarem juntas no dia seguinte. Como Debora disse: “relembrar os velhos tempos”

Em pleno domingo acordei com minhas alunas na porta da minha casa, disseram que queriam fazer surpresa, que iriam fazer um almoço para mim. Apesar do cansaço, achei isso incrivelmente fofo, espero que minhas filhas sejam tão gentis como elas.

Lilian pegou intimidade fácil com as meninas, e as meninas endeusavam Lilian como se ela fosse a melhor pessoa do mundo. O que eu concordo plenamente. Depois do almoço deitei por algumas horas, e elas ficaram conversando com Lilian, quando acordei quase cinco da tarde, Lilian e elas estavam conversando ainda, me aproximei de onde estavam até que escutei.

– Não conta nada para a professora, hein, Lilian!? – Julia disse toda preocupada.

– Porque não? – Lilian perguntou curiosa.

– Porque a professora sempre diz que o beijo tem que ser dado com amor, e eu beijei por curiosidade. Eu não quero decepcioná-la. – Achei fofo, continuei escondida.

– Tudo bem, não direi nada. – E fechou a boca com um zíper imaginário.

– E você, Lilian? – Petrisa perguntou.

– Eu o que?

– É verdade o que dizem por ai de você?

– Petrisa, cala a boca! – Julia e Nicole a repreenderam.

– Como assim, gente? Meninas, deixem ela falar… Pode falar, Petrisa.

– É que eu fiquei curiosa! Posso falar mesmo?

– Claro. Fala.

– Você é gay mesmo?

– Sim, sou gay mesmo. – As meninas abriram a boca em um perfeito O. Segurei a vontade de gargalhar mas Lilian não se conteve.

– Eu nunca conheci alguém gay antes… Que legal!

– Provavelmente você conheceu e essa pessoa não te falou, ou nem ela no fundo se entende. Mas, sim, eu sou gay.

– Seu primeiro beijo foi com menino ou menina?

– Foi com menina.

– Foi beijo de amor ou de curiosidade igual o meu?

– Bom… Depende, dá minha parte amor, da parte dela… Foi nada.

– Como assim? Você gostava dela e ela não gostava de você?

– Resumidamente, é bem isso…

– Conta detalhes!

– Ok. Eu estava em casa, era noite… Ela foi me visitar porque não tinha ido a aula, eu sempre gostei muito de pescar, ficar com meu pai. E ela disse que teria uma festa, que era para eu ir. Eu a princípio disse que não. Mas depois eu fui, fui até por ela. Mas enfim, ela perguntou se eu já tinha beijado, eu disse que não, ela me disse que sim. Mas não me contou quem, aí ela disse que eu precisava saber beijar, que iria me ensinar, então ela trancou a porta do meu quarto e me beijou.

– Que primeiro beijo estranho. – Nicole disse fazendo careta.

– Pois é… E assim foi o meu primeiro beijo.

– Você gostava muito dessa garota?

– Muito.

– Tipo amor?

– Tipo amor… Ela foi meu primeiro amor, mas sofri tanto que sinceramente dava para fazer parceria com a Marilia Mendonça e só escrever música de sofrência. – Elas caíram na risada, e eu fiquei parada, como até esse momento do primeiro beijo eu pude estragar. Se ela soubesse realmente a história. Talvez, ela mereça saber.

Fingi estar chegando naquele momento, as meninas ficaram mais um pouco, e depois foram embora. Voltamos para dentro da casa, Lilian disse que iria tomar um banho pois iria jantar com a Debora, sorri de um jeito falso então ela desapareceu subindo as escadas.

Quando ela reapareceu na minha frente, quase tive um treco. Bota, calça rasgada jeans, uma bata e uma jaqueta de couro mais curta, usando maquiagem, e cabelos levemente enrolados.

– O que acha? – Ela rodopiou.

– Está linda, Debora vai gostar.

– Hum… Ficará bem sem mim?

– Sim, ficarei. – Ela se aproximou sem falar nada e se ajoelho, segurando meu rosto. – O que foi?

– Só quero te dizer uma coisa: Tem certas coisas que não mudam, não mudaram, pelo menos para mim.

– Me dê exemplos.

– Sentimentos. – Ela se levantou e saiu andando.

POV LILIAN

Posso estar ficando louca, mas acho que Amanda estava com ciúmes de mim… Torço para que seja isso.

– Nossa, não merecia toda essa produção. – Débora começou a bater palmas e todo restaurante nos olhava.

– Claro que merece. – Dei um beijo no seu rosto.

– É, eu sei, fui sua tabua de salvação.

– Sim, você foi.

– E fui sua professora no sexo… Se bem que você não precisava de muitas lições.

– Ai, meu Deus, só você mesmo!

– Poxa, está tímida porque? Deveria saber que uma hora ou outra iriamos falar de sexo.

– É, eu sei.

– Saudades inclusive, tenho curiosidade em saber o que minha bela amiguinha aprendeu nesse tempo todo.

– Não foram muitas coisas, mas, nunca tive reclamações.

– Aposto que jamais terá… Está solteira?

– Sim, estou.

– Como foi voltar para cá? Giovana me contou o porque de você vir, mas, quero ouvir de você. – Contei tudo nos mínimos detalhes, conheço Debora, ela gosta de detalhes. – Uau, sabe, eu acredito muito em força do universo. Você precisava ficar até essa tragédia acontecer.

– As vezes, eu acho que sim.

– E como está sendo? Pelo seu coração se expor e de estar tão perto, morar junto com ela.

– Complicado, fico me policiando, mas, é complicado.

– Só é complicado por um único motivo: tem amor. E não é algo que se tira… É amor das duas partes.

– Deby, não começa, ela não me vê com os mesmos olhos.

– Ela te vê com todos os olhos. Meu Deus, quando eu grudei no seu pescoço se não fosse o fato dela estar grávida, acho que ela teria avançado em cima de mim.

– Exagero…

– Tire essa tampa dos olhos, você vai ver… Está nítido que ela quer você.

– Não consigo acreditar nisso.

– Avisada está. – Ela tomou um pouco de vinho. – O que fará? Seu trabalho não exige você estar no olho do furacão, então suponho que ficará aqui.

– Não posso. Não vou saber lidar e ver as crianças crescendo. Eu queria ser a mãe delas, eu queria me casar com a mãe delas! Assim que as meninas nascerem e Amanda pegar o jeito do que é cuidar de duas meninas, eu vou embora.

– Se quiser ir para Zurique, estarei lá…

– Vou pensar.

Depois de algumas horas de conversa e propostas tentadoras de me levar para um motel fui para casa, não queria deixar Amanda sozinha por muito tempo, ainda mais reta final de gravidez.

Cheguei em casa e encontrei-a dormindo no sofá… Ela me esperou.

Pensei em pega-la no colo, mas, não podia ser irresponsável nesse nível, então, acordei ela bem devagar e chamei para deitar.

– Você voltou? –Ela passou a mão pelo meu rosto.

– Claro, não era para voltar?

– Nem pense nisso. Senti sua falta. Sentimos.

– Eu também senti muita falta.

– Dorme comigo?

– Durmo… Vamos descansar. – A guiei até o quarto. – Quer água?

– Quero sim.

– Vou buscar. – Desci as escadas, peguei a água e voltei correndo e na volta ela já estava deitada. – Pronto.

6 thoughts on “POR TODA VIDA – PARTE 11

  1. Andrea Rodrigues says:

    Estou amando cada conto seu. Caraca muito expectativa e muito amor em cada história. Em 3 dias li todos. Ansiosa pelos proximos.
    Parabéns 😘😘😘

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