POR TODA VIDA – PARTE FINAL

– Você nunca mais viu a sua mãe?

– Ví duas vezes depois que ela foi embora para Nova York, uma depois de dois anos que fui para o Rio, meus avós compraram uma passagem para mim e fui para Nova York, fiquei hospedados na casa deles, minha mãe já morava em outro lugar, no fundo o que eles queriam era tentar fazer com que ela voltasse a falar comigo e enfim… Foi um fracasso, quando ela me viu, fechou a porta na minha cara.

– Nossa. – Dei um beijo. – E a segunda?

– Foi quando ela já estava inconsciente, no hospital especializado em câncer, eles a mantiveram viva mas, depois o tratamento não deu certo, então eles só a cederam para ela não sentir dor. Então fui vê-la porque os médicos disseram que ela tinha menos de uma semana de vida. Cheguei peguei em sua mão, beijei seu rosto, disse algo no ouvido dela e sai.

– O que disse?

– Que ela foi uma boa mãe. E que sentia sua falta – Lilian estava com a voz embargada. – Surpresa, não é?

– Admito que estou.

– Mas até o momento antes dela saber que eu era algo que ela desaprovava, ela foi a melhor mãe. Eu não acho justo dizer que ela foi horrível sendo que ela me deu todo cuidado e carinho do mundo comigo e com você também. Você sabe que não estou mentindo que ela era a melhor possível.

– Sim, nos dias das mães sempre comprei presentes para minha avó e para ela.

– Pois é.

– Desculpa, tá?

– Pelo o que?

– Pelo rumo da conversa, acho que não é uma boa conversa para se ter depois de fazer amor.

– Toda conversa é boa, e era sua curiosidade… Por mim, tudo bem.

– Seria uma boa entrevistadora.

– A melhor eu diria.

– Lembrei daqueles caderninhos de pergunta lembra?

– Lembro, respondi alguns quando estudava aqui… Mas, não conversávamos mais então acho que nunca respondi o seu.

– É… Mas irá responder agora.

– Ai meu Deus, é para responder como Lili adolescente ou como Lilian a mulher mais linda que existe? – Caímos na risada.

– Responda como os dois.

– Ok… Pode perguntar.

– Como nome completo não mudou vamos pular essa parte… Idade?

– 16 e 28 anos.

– Cor preferida?

– Amarelo e agora branco.

– Ator e atriz?

– Alinne Moraes… E continua sendo ela.

– Cantor ou banda preferidos?

– Rouge e… Agora meu coração é divido entre Beyonce e Ed Sheeran.

– Um sonho?

– Me casar com a garota que eu gosto, e agora é ser exemplo para minhas filhas.

– Um filme?

– Jurassic Park e atualmente gosto de A Liga da Justiça

– Uma comida?

– Seu bolo… E continua sendo.

– Um lugar?

– São Luís dos Montes Belos, melhor lugar do mundo… E agora, seu abraço. – Ela disse tímida. – Não tem mais perguntas?

– Só uma, mas essa é para Deus.

– Como assim?

– Como ele pode ter me dado alguém tão incrível como você? E por duas vezes, na primeira eu fui uma babaca, mas, a segunda vez não deixaria passar de jeito nenhum.

– Eu te amo, sabia? – Ela me abraçou apertado.

– Uhurum… Eu te amo mais.

Apesar da saudade das meninas, essa semana foi crucial para nós duas, conheci uma Lilian que não tinha muito tempo de conhecer, fomos a teatro, vimos exposições, vimos o mar por inúmeras vezes e jogamos conversa fora.

Foi aí que me deu o “start”, ela era a mãe das minhas filhas, seu nome, está nas certidões de nascimento das meninas assim como o meu. Temos tudo o que precisamos para sermos felizes juntas.

Fui seu primeiro amor, ela o meu;
Nosso primeiro beijo foi… Literalmente nosso primeiro beijo;
Somos amigas desde bebezinhas;
Ninguém cuidou mais de mim nessa vida do que ela;
Ela é doce;
Carinhosa;
Educada e altamente inteligente;
Parceira;
Linda;
Convivemos bem em casa;
Fluímos muito bem no sexo… Sei disso porque depois da primeira vez, acho que não teve um dia que não acordei já transando com ela, e é claro antes de dormir também;
Me deu filhas lindas.

Temos tudo,

Depois de transarmos, descemos para tomar café da tarde, foi aí que a recepcionista me disse que uma moça me aguardava na recepção.

Deixei Lilian de lado e fui ao encontro da moça. Tentei conversar o mais rápido possível, mas, certas coisas não são rápidas de se resolver, então demorei.

Quando voltei, Lilian parecia ter ido dar uma volta e no lugar colocou um clone que mal olhava na minha cara.

O resto do dia foi um porre, ela mal falava comigo, não quis ir para lugar nenhum, só quis ficar andando pelo hotel e mesmo assim. Com uma cara fechada que daria medo em qualquer um.

Já era tarde da noite, estávamos no quarto, ela sentada na poltrona lendo um livro e eu ali sem fazer a mínima ideia do que aconteceu.

– Você mal falou comigo hoje à tarde. – Eu disse na tentativa dela parar de me ignorar.

– Isso não é verdade.

– Ah então está entrando em ume estado vegetativo… Ou o gato comeu sua língua mesmo.

– Esta bem, quer saber o porque? Você demorou para voltar do.. Banheiro e eu fui atrás de você, então eu vi você e uma desconhecida, cochichando no hall do hotel, bem próximas, e vi que ela te entregou alguma coisa, me diz o que foi Amanda.

– Não foi nada demais.

– O que foi, Amanda? – Ela estava bem irritada

– Sei lá, chicletes? Bala?

– Amanda, para de me enrolar. Eu ví que você colocou na sua bolsa! Era o número dela? Você aceitou o número de outra mulher?

– Lilian, já disse não é nada!

– Amanda, nós não vamos dormir até você me dizer o que foi que aquela mulher te entregou e você colocou na sua bolsa!

– Droga. – Suspirei. – Me lembre de nunca mais tentar fazer alguma surpresa para você. – Ela ficou me olhando intrigada, peguei minha bolsa e abri na frente dela. E tirei uma caixinha de veludo, abri e mostrei para ela. Um lindo anel com uma pedra rosa.

– Um anel?

– Pois é. Aquela moça é uma vendedora de joias aqui de Ilha Bela que o hotel me indicou, como passamos esses dias todas juntas, eu tive que fazer tudo escondido de você, tudo por whatsapp… Bom, eu só estava tão próxima dela, fiquei com medo de você ver a caixinha.

– Então, ela não estava dando em cima de você?

– Não… Bom, eu pensei em te pedir em casamento de um jeito romântico sobre a luz das estrelas deitadas na areia, com uma roupa linda e toda maquiada mas… Enfim, nos meus planos não incluía estar de pijama rasgado, com a cara lavada e nem com o cabelo bagunçado, mas, vai ter que ser desse jeito.

– Iria me pedir em casamento?

– Ainda vou tentar. – Me ajoelhei na frente de Lili. – Quando eu estava no meu pior momento, solitária e triste… Você me amou. Quando eu era o um ser humano horrível, você via em mim uma alma boa apesar de tudo. Você faz do mundo um lugar melhor, porque você sempre vê o lado bom. E me tornou uma mulher melhor, porque… Eu procurava uma. Promete fazer isso sempre, para o resto de nossas vidas? – Ela afirmou com um gesto enquanto se derramava em lágrima. – Então, Lilian, aceita ser minha garota, minha melhor amiga, minha amante, minha esposa para todo sempre?

– Sim… Eu te amo. – Ela me abraçou apertado. – Desculpa por te tratar da forma que te tratei, eu só fiquei com medo de te perder.

– Eu te amo, eu te amo amor.

Prensei-a forte contra a parede, iniciando um beijo afoito, coloquei suas pernas em volta da minha cintura, alisando suas coxas. Enquanto ela tirava sua blusa.

– Vamos comemorar seu sim em grande estilo. – Pisquei para ela.

Quando senti segura, sai da parede e fui caminhando até a cama, enquanto devorava seus seios, que estavam saltando para fora do sutiã

Joguei-a na cama, e me deitei por cima dela, terminei de tirar seu short e sua calcinha, não me contive, fiquei olhando por um bom tempo.

– Amor, está tudo bem?

– Você não é a única que gosta de fotografar aqui dona, Lilian. – Dei um selinho nela. – Eu adoro te fotografar na minha mente… Não sabe como é gostoso lembrar de momentos como esse.

– Na verdade, eu sei sim. – Ela sorriu e eu não aguentei, desci minha boca até seu seio. – Porra, eu acho que jamais vou me acostumar com essa combinação, sua boca e meus seios.

Desci para sua virilha e seu corpo se esticou automaticamente, suguei seu clitóris e senti ela se derramar por mim

– Vem, aqui. – Chamei-a para sentar em meu colo. – Levanta um pouquinho o corpo. – Ela atendeu prontamente, coloquei dois dedos meus em seu sexo, que não parava de latejar. – Senta nos meus dedos, amor.

– Que delícia!

– Rebola nos dedos da sua esposa, vai. – Disse encarando-a, e aquilo foi um combustível para Lilian rebolar como nunca. Como é bom chama-la de esposa. Essa palavra se torna tão gostosa quando a referência é ela.

Aquele atrito foi aumentando, Lilian já nem estava rebolando mais, estava era pulando em meu colo, cavalgando lindamente e gemendo gostoso meu nome. Quando senti sua mão no meu ombro, percebi o anel que acabei de colocar em seu dedo, sorri.

Ela gritou meu nome acompanhado de um gemido arrastado. Senti minha mão ser triturada por sua boceta, enquanto seu liquido escorria por nós, coladas e suadas naquela cama.

5 anos depois.

Faz cinco anos que a pedi em casamento, voltamos para casa e no mês seguinte, nossa casa estava toda florida com nossos melhores amigos e parentes reunidos para nos casar.

As meninas entraram no colo do pai de Lilian trazendo as alianças… Só de lembrar desse momento, começo a sorrir.

Os bebês crescem rápido, e hoje temos duas belas meninas super aventureiras correndo pela casa acompanhada do nosso cachorro Boris, um dálmata que dei para Lilian de aniversário. Sempre foi o sonho dela ter um cachorro dessa raça, e meu Deus ele parece um furacão, e as meninas fazem o que quer com o pobre Boris, que só sabe dar amor e mais amor.

Max e Gio depois de dois anos tiveram um filho, Gabriel… Sou madrinha dele, é um anjo de rabinho, totalmente esperto e vive dizendo por ai que vai casar com as minhas duas filhas.

Lilian segue na carreira de fotógrafa, as vezes ela precisa se ausentar de casa, ir para o Rio ou para outro país, mas, é totalmente compreensivo, e ela sempre dá um jeito de estar sempre presente.

Admiro tanto sua sensibilidade, seu profissionalismo.

Lilian é uma poeta do olhar. Quando Deus criou a Lilian, ele queria provar que é possível construir um ser humano inteiro só com coragem, olhos e coração.

Pedi para uma ex aluna minha ficar com as meninas, pois hoje eu e Lilian não dormiríamos em casa.

Passei no meio do mato a quase nove da noite…

– Tá querendo me assustar? Para onde a gente está indo? – Lilian estava impaciente.

– Meu Deus, mais alguma pergunta, burro do Sherek? – Fingi irritação e ela sorriu.

– A gente já chegou? – Ela disse divertida

– Calma, estamos chegando.

Andamos por mais uns dez minutos.

– Ainda não faço ideia para onde estamos indo, só sei que estamos bem longes de casa. Até porque eu escuto a cachoeira.

– É por isso que se chama surpresa. – Dei um beijo em sua bochecha. – Estamos próximas do destino final, me dê sua mão, contarei uma história para você.

– Adoro histórias, como chama essa?

– Final Feliz. Se bem que não é final. Vamos chamar de Felicidade apenas.

– Ok.

– Certa vez, uma menina sofria de amor… Amor por outra garota. E essa garota sofria por amar e não saber o que fazer com o amor, não saber o que fazer com o julgamento dos outros e outras coisas mais. Essa garota medrosa, escutou da garota que sofria por amor as exatas palavras, em uma certa conversa… “Sabe, desde pequena, quando falávamos de sermos vizinhas até ficar velinhas. Eu concordava, mas no fundo. Eu queria ser jogadora de futebol e ter você como a mãe dos meus filhos! Desde que eu me entendo por gente eu sou apaixonada por você! Meu primeiro beijo foi com você e você nem imagina quanto eu sempre quis isso. Quantas vezes eu imaginei nós duas de mãos dadas por ai. Acampar com você, de fazer piquenique na cachoeira. Cuidar de você te dar todo meu carinho meu amor por você e para você. Imaginei tudo. Você nunca percebeu? Nunca, nunquinha? Quando a gente se beijou, eu te beijei com todo meu coração! Para dias depois te ver atracada com outro na garagem de uma festa. E você me tratou com tanta frieza. Eu sinto todo esse sentimento sozinha. E só eu sei como dói… Não fala mais comigo Amanda, por favor me erra… Sai da minha casa. E se eu posso te dar um conselho, fica longe de mim, pra ninguém achar que você é… Sapatão. Porque eu sou uma aberração e não quero você por perto por pena ou por qualquer tipo de coisa. E volto a afirmar, por mim, fique tranquila, da minha parte nunca ninguém vai saber que o meu primeiro beijo foi com você.’’

Lilian segura minha mão tremendo.

– Como você lembra disso? Foi exatamente assim que eu falei.

– Eu sei, jamais saiu da minha cabeça, acredite… E desde que Deus me deu a chance de te ter de novo e fazer tudo diferente, eu, venho tentando, todos os dias, te recompensar… Me toquei que nunca acampamos perto da cachoeira como você sonhava. Então, pensei em fazer isso hoje.

Nos aproximamos da cachoeira, iluminei com a lanterna a barraca que tinha feito, e o piquenique que nos aguardava.

– Que horas você fez isso tudo?

– Bom, falei que ia fazer compras de supermercado hoje, lembra?

– Lembro sim, meu Deus isso está lindo… Está perfeito, mais perfeito que qualquer melhor sonho meu.

– É essa a impressão que eu tenho, todos os dias quando olho para o meu dedo e vejo a aliança dourada, quando desço as escadas e abro a porta e vejo nossas filhas dormindo junto do Boris. Quando encontro nossas fotos espalhadas pela casa e pregadas na geladeira. Parece um sonho.

– Eu também sinto a mesma coisa.

– Precisou que eu quebrasse a cara, e te visse ir embora… Precisou toda aquela tragédia para a gente se reencontrar. E acredite, do fundo do meu coração, eu me sujeitaria a toda dor só para andar de mãos dadas por ai com você, só para poder te dizer que te amo. Todos os dias da minha vida.

– Eu não sei o que estaria fazendo sem você e nossas filhas.

– Eu também não me imagino sem você… Vamos, me dê sua mão. – Puxei para me sentar com ela, no cobertor espalhado no chão. Hoje faz exatos cinco anos do pedido de casamento, e quero te dar uma coisa. – Ela ficou me olhando atentamente. Tirei um colar com um pingente dourado redondo.

– Meu Deus, é daqueles que abre e dá para colocar foto dentro?

– Desses mesmos. Mas, já me adiantei e coloquei as fotos. – Não precisei pedir para que ela abrisse, ela assim o fez de imediato. De um lado, foto das nossas filhas acompanhadas do Boris (acho que não existe foto das duas sem aquele cachorro) e do outro lado, uma foto nossa. – Eu sei que celulares servem para colocar foto de quem se ama de papel de parede mas, eu quis fazer assim… Achei mais romântico. E eu também tenho um, coloca em mim?

– Claro… Espera ai, tem algo escrito?

– Tem sim. No meu e no seu a mesma frase.

– Tente não cair pelo pátio. – Ela me olhava sem entender.

– A nossa metáfora, todas as vezes que eu me encontrei triste, desiludida, eu lembrava de você me dizendo, tente não cair pelo pátio… Todas as vezes que por algum motivo você se sentir só, estiver só e precisar de tirar forças, abra o colar, leia a frase atrás e não se esqueça nunca o quanto eu te amo Lili.

– Eu te amo Amanda. – Ela me puxou para um beijo. – Indo e vindo, indo e vindo até o infinito.

– Indo e vindo, indo e vindo até o infinito.

Fim!

2 thoughts on “POR TODA VIDA – PARTE FINAL

  1. Raisa says:

    Muitos bacana esse conto. Parabéns a autora.Vc é show.( apenas um detalhe de nome trocado do advogado). Fora isso linda e inspiradora história de amor verdadeiro entre duas mulheres.

    By Rai

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