Inspirada em “Um quarto em Roma”, peça Roma fala sobre noite de amor entre 2 mulheres

Quem aqui assistiu “Um quarto em Roma”? Se não, corre para ver. É um dos clássicos filmes lésbicos, recheado de sensualidade e que tem uma dinâmica e narrativa peculiar. O filme mostra as 12 horas de um único encontro entre 2 mulheres numa madrugada. O que elas fazem, conversam e como isso termina, visto que elas acabaram de se conhecer. É um filme que te prende até o final e, claro, deixa com gostinho de quero mais. Quero viajar para Roma. hahaha

Envolvida também por esse fascínio, a atriz Linn Jardim decidiu levar essa história para os palcos. Sob a direção de Renato Farias, texto adaptado e fazendo par com a atriz Juliana Lohmann, a peça ROMA está em cartaz no Rio de Janeiro até dia 20 de dezembro, no Teatro Sérgio Porto, 🙁 Mas já estamos torcendo para que ela volte em nova temporada e possa circular o país. Queremos assistir. Mais do que isso: merecemos.

O Globo montou uma entrevista com as atrizes, onde uma fazia perguntas à outra, veja abaixo como ficou 😉

Juliana Lohmann: O que, nesta história do filme, mais te inspirou para querer montar uma peça sobre o tema?
Linn Jardim: Sempre fui muito fã do diretor Julio Medem e, quando assisti a este filme, conheci duas personagens que ficavam apenas em um ambiente e traçavam uma trajetória muito linda. Quanta coisa pode acontecer em apenas uma noite? Hoje em dia tudo acontece muito rápido e as pessoas se tornaram um pouco descartáveis. Então o encontro é algo muito especial entre duas mulheres; o que também é lindo, já que o amor não tem gênero. Achei que seria interessante levar essa história para um lugar livre como o teatro, ainda mais em um momento em que está tão necessário falar sobre amor, da maneira que ele quiser aparece.

JL: Qual foi o seu maior desafio em todo o processo desta montagem, já que você esteve envolvida desde a idealização, até produção e construção de um personagem?
LJ: Estar tão próxima do público, contando uma história íntima, dá vontade de se proteger. O que acontece dentro de um quarto é para ficar entre quatro paredes e estamos aqui fazendo justamente o contrário. Então óbvio que bate uma insegurança e o maior desafio foi deixar esse sentimento para trás e contar a história da melhor maneira possível. Sem qualquer julgamento.

JL: Agora, como Isabela, eu pergunto para a Ana, sua personagem. O que você espera desta noite de réveillon em Roma?
LJ: Sabe quando você está sozinha em um lugar e de repente você começa a imaginar milhões de coisas? Você pensa que vai encontrar alguém interessante, começa a criar o seu comportamento frente àquela pessoa e logo toda uma história já existe dentro da sua cabeça. A Ana está nesse momento, sozinha há muito tempo, esperando encontrar essa pessoa para satisfazer as suas necessidades nessa noite. Tudo o que a Ana quer é um bom encontro!

Renato Farias assina a dramaturgia do texto da cia de Teatro Íntimo (Foto: Carol Beiriz)
Da Cia de Teatro Íntimo, Renato Farias assina o texto
(Foto: Carol Beiriz)

Linn Jardim: Agora eu devolvo a pergunta como Ana para a Isabela. Quais as expectativas da Isabela para essa festa?
Juliana Lohmann: Como Isabela, espero que essa festa em outro país, em um momento de virada, me traga um ciclo novo. Que no próximo ano eu possa experimentar coisas que nunca vivi até então e que eu possa me libertar de tudo o que me foi colocado e imposto. Quero romper com as ideias dos meus familiares que me fizeram ser quem eu sou de uma forma carinhosa para viver somente o hoje, dentro desse quarto de hotel em Roma.

LJ: O que você acha sobre a proposta de direção que aproxima atores e público e envolve até uma intimidade entre os próprios atores?
JL: O Renato (Farias, diretor) é um gentleman, muito carinhoso e paciente. Trabalhar nesse clima já é um presente. Aprendi muito com ele sem que fosse preciso levantar a voz um minuto; apenas com as palavras ele consegue te fazer enxergar o que ele mesmo está vendo. O diretor é o primeiro espectador de uma cena e o primeiro a ser afetado por esse acontecimento, então ele nos deixa muito livres para nos encontrarmos em cena. Ao mesmo tempo, ele tem nas mãos o poder de decisão. Fora que estamos ali abertos para a plateia o que fazer com que cada noite de apresentação seja uma experiência única.

LJ: Do que você mais gosta nesta história e o que te leva, como artista, a querer contar esta história no teatro?
JL: Li o texto e me apaixonei pela história e pelas pessoas envolvidas. A peça fala sobre amor e liberdade, que é o que todo ser humano quer no fim das contas: se sentir amado sem nenhuma restrição ou julgamento, da forma mais plena possível. Estamos vivendo um momento em que os questionamentos estão em ebulição, especialmente quando falamos sobre o lugar da mulher. É um momento bonito para levar isso para o palco e viver essa experiência com o público é uma maneira de dizer que o amor é possível em qualquer forma.

Celine Ramos
Baiana, feminista, negra e publicitária. Fundadora do SouBetina. Vivo na ponte-aérea Salvador-São Paulo. <3