TEMPO – Parte XI

5 ANOS DEPOIS

POV OLIVIA


Vancouver é lindo, estar no Canadá sempre é gostoso. Em cinco anos tanta coisa aconteceu. Meu Deus…

Profissionalmente, nós, cinco garotas que estávamos descobrindo a indústria da música nos tornamos cinco mulheres que fazemos parte de uma seleta lista de artistas de sucesso e referência. É bem engraçado imaginar que antes éramos cinco garotas que sonhávamos em conhecer grandes astros como Beyonce, Madonna, Lady Gaga, Justin Bieber, Taylor Swift, Elvis. Agora conhecemos e fazemos parte dessa lista.

Mega shows;
Mega eventos;
Mega estrutura;
Uma gravadora só nossa;
Uma grande e excelente equipe.

Tudo só nosso. Ryan mesmo sendo o criador e idealizador da ideia, foi super compreensivo quando pedimos para termos total controle da nossa carreira. Estávamos dispostas até a pagá-lo, mas ele não quis. Nos passou judicialmente tudo, sem problema algum. Ele sempre estará nos nossos corações, ele é o criador do grupo, nosso pai de coração. O escritório dele ainda cuida de alguns setores, ainda somos próximos.

A vida pessoal das cinco, creio eu que anda bem. Jane, que é a mais nova, cresceu ainda mais. Ela está uma mulher linda, confiante, que já namorou alguns caras e é super de bem com a vida.

Mia, bom, assim como Jane ela tem todas essas características positivas. Eu costumo dizer que uma das vantagens de ser baixinha, é que quando você abraça alguém você escuta o coração da outra pessoa. E pode ser paranoia minha, mas creio eu que ela tem uma dor em seu coração. Ela sempre se mostra bem humorada e de facil convivencia, mas sinto que tem algo ali que ela ainda não externou, eu não posso arrancar um relato dela, então espero na minha o dia em que ela se sentir bem para falar sobre.

Vero, a mulher criança. É assim que a chamo. Vero se tornou sexy simbol (assim como todas nós, mas é indiscutível que as pessoas (principalmente mulheres) suspiram mais por ela e pela Lu.) Ela é guerreira, tem seu estilo próprio, é extremamente observadora e um pouco misteriosa eu diria.
Sério, pode parecer estranho, mas, não que seja uma obrigação dela contar tudo o que faz, ou onde vai. Mas ela some no meio da noite, volta antes do sol nascer.
Sinto ela muito travada, se policiando o tempo todo, com medo das pessoas, principalmente dos fãs. É que as pessoas, principalmente quem é fã, que acompanha, se sente um pouco íntimo, chega conversando como se fosse amigo de infância. E sempre tem alguém que questiona Vero sobre sua sexualidade. E ela odeia isso! Ela já disse, já escreveu que odeia ser questionada e que é hetero.

(Cá entre nós, eu não acredito muito nisso. Sei lá, o jeito que ela olha para as mulheres quando ela acha que não tem ninguém olhando. É diferente. Claro que comigo, Jane e Lu ela também olha de modo tranquilo, mas, quando ela coloca os olhos dela em Mia… Vero não consegue disfarçar muito, acho que ela é apaixonada pela Mia. O que é uma pena, porque Mia não dá muito espaço para ela, as duas mal conversam nos bastidores. Pena, seria um casal bonito).

Luiza. Bom, já faz mais de seis anos, se for contar com a época do concurso, que conheço ela. E ela sempre me surpreende. Desde que Maria morreu, Luiza se fechou em uma ostra, ela não teve mais nada com ninguém. Não que eu soubesse. Ela vive para a família, para os amigos e para o trabalho. No mais, ela continua linda, inteligentíssima, talentosa, gentil ao extremo e com um coração maior que o corpo.

As pessoas cobram que está na hora dela se envolver com alguém, se apaixonar. Mas ela até que se sai bem com esse tipo de pressão. Eu quero muito vê-la feliz, com alguém bacana. Ver ela reaprendendo a amar alguém. A amar, se possível, me amar.

Pois é, algumas coisas mudaram, não só fisicamente. Eu estou completamente apaixonada por Luiza, faz quase um ano que me toquei o que eu estou sentindo.

Como me apaixonei? Não sei
Como isso foi acontecer? Não sei!
Quando foi que eu percebi? Vou te contar.

FLASHBACK ON (UM ANO ATRÁS).

– Não acredito, isso é um sonho. Três dias de descanso! Obrigada, meu Deus! – Jane disse se jogando no sofá da sala principal.

– Amém! Amém, meu Deus! – Vero disse entrando na brincadeira.

– Três dias sem usar salto, roupas apertadas. Deus é muito bom mesmo. – Luiza apareceu, subindo as escadas.

– Lu, vamos jogar video game?

– Não dá, Jane. Hoje vou jogar handebol com a galera.

– Ok, me diz uma coisa, quando sua energia termina? Porque puta que me pariu, você nunca descansa!

– Claro que descanso, sim

– Ha-ram ha-ram tá bom, você descansa correndo na praia, surfando, jogando handebol, escrevendo músicas o tempo todo, ou seria lutando todas as modalidades de luta existentes no mundo?

– Exagerada. – Lu se sentou ao lado dela. – Essas coisas me relaxam. De verdade, eu me sinto bem, é mais do que exercitar meu corpo, é exercitar minha mente e tal… Quer vir comigo?

– Não, obrigada. – Jane fez um bico e cruzou os braços.

– AH, NÃO FAZ ASSIM! – Luiza atacou Jane em cócegas.

– Para, para. NÃO NÃO AH MEU DEUS ME SOLTA LU!

– Prometo jogar a manhã inteira com você.

– Promete?

– Juro que prometo. – Luiza me encarou. – O que foi, Olivia?

– Admirando essa cena, sei lá. Jane é a maior em altura de nós, e mesmo assim você a trata como uma criança de sete anos.

– Mas no fundo é o que ela é! – Nós três caímos na risada. – O que vai fazer agora, Olivia?

– Nada, porque?

– Quer ir comigo?

– Claro! Posso ir assim, mesmo? – Dei uma volta para que ela desse uma olhada na minha roupa.

– Pode sim, está linda! – Ela deu um belo sorriso. – Vamos.

Fomos de  moto, Luiza ama alta velocidade ou tudo que tenha um motor. Eu até gosto de andar de moto com ela, até pensei em aprender a andar, mas não iria adiantar. Eu tenho medo de pilotar, fora que no máximo o que eu compraria pra mim seria uma scooter. Que jamais andaria na mesma velocidade da super moto dela. Uma Ducati monster 1200 cilindradas (foi a única coisa que eu decorei sobre essa máquina).

As colegas de time da Lu são bem legais e simpáticas, até me chamaram para jogar, mas preferi ficar na arquibancada. Não levo muito jeito com essas coisas. Da ultima vez que fui brincar de futebol na casa dos meus pais, levei uma bolada no rosto do meu irmão.

Então começou o jogo, um local fechado, pude ficar segura e confortável. Quando Lu apareceu com o uniforme de short curto, algo em mim tremeu, como um frio na espinha. Eu não consegui tirar os olhos dela, e sempre que nossos olhos se cruzavam, ela sorria de maneira doce, e quando fez o primeiro gol (que na verdade eu não sei qual o nome disso) ela apontou para mim, e me dedicou. Achei tão fofo, voltei a mexer no celular e quando me dei conta, estava no Google procurando por fotos de Luiza, e salvando elas desenfreadamente no meu celular!

Foi aí que percebi. Acho que estou apaixonada… Pela minha melhor amiga.

Estar apaixonada é algo bom, algo ótimo! É sinal que você ainda é humano, que seu coração ainda bate e que sempre se pode recomeçar. Quando se está apaixonada, a gente quer soltar isso para o mundo inteiro! Gritar, publicar ou seja lá mais o que.

A questão é que, se eu fizer isso não será algo como só os amigos mais próximos, familia e alguns conhecidos entender isso. Provavelmente se eu fizer isso, sera notícia de um monte de revista de fofoca. Meus fãs entrarão em loucura. Em todo lugar que eu for, provavelmente vão tentar descobrir. As vezes ser publicamente conhecida é um saco!

Então, apenas fui até meu Spotify e deixei tocando Falling for you, da banda The 1975. E foi ai que prestei atenção na letra, dei print da tela do meu celular e publiquei com um trecho da mesma música no meu instagram, o trecho diz.

“ Eu acho que estou me apaixonando, eu estou me apaixonando…”

Publiquei.

Dito e feito, choveu curtidas e comentários. Eu não iria responder, se me perguntassem eu diria que apenas estava ouvindo a canção, achei legal e postei. A vontade que eu tinha era de me bater. Como isso pode acontecer? Como eu deixei isso acontecer?

O jogo terminou, todas estavam se cumprimentando, e foi aí que Luiza tirou a blusa, e eu internamente me derreti como uma colher de manteiga na frigideira. Seu corpo tão perfeito, suado. A tatuagem em sua costela.

Aquela noite, depois do jogo teve uma confraternização, lanches, refrigerantes e doces. Me diverti muito, comi mais ainda e era estranho olhar para Lu. Uma mistura de vergonha pois ela provavelmente nem pensa que isso passa pela minha cabeça. Talvez seja carência. Afinal, faz quase seis meses que eu terminei um namoro longo. Enfim, não tem lógica me apaixonar por um mulher! Nunca me senti atraída por nenhuma. Não é possível que isso mudaria agora.

Não é possível.

FLASHBACK OFF

Mas não passou.

Cá estou, mais uma noite, imaginando como nós duas podíamos ser felizes se estivéssemos juntas.

Desde que me vi apaixonada por ela, algumas coisas mudaram. Eu tenho muito medo de chuva forte, de tempestade, e toda vez que chovia forte, independente de onde estivéssemos eu sempre corri para o quarto dela, me enfiava na cama dela, até sem pedir licença e ali ela acordava e ficava conversando comigo até eu pegar no sono. Quantas vezes eu dormi abraçada com ela, sinto falta disso. Desde que me vi apaixonada, mesmo quando cai a maior chuva, trovões e tudo mais não é para o quarto dela que vou, peço abrigo para Jane.

Sei lá, não quero parecer que estou me aproveitando da situação. É tão complicado. É terrível olhar para ela e ficar com o que eu sinto entalado na garganta. É horrível ver algumas mulheres se jogando aos pés dela, pegando pesado tentando seduzi-la por uma noite. Eu não tenho ciúmes de fãs. Afinal são fãs, elas querem estar próximas de nós, não me importo se elas gritam o nome dela ou que surtem quando Luiza dança de maneira sensual (até eu surto). Mas eu tenho raiva daquelas vagabundas que fingem ser fãs para chegar perto e ficar se insinuando descaradamente.

Sei que não deveria sentir ciúmes dela, sei que não tenho esse direito de ter, mas tenho.

Passei a noite inteira sem sono, então desci até a sala de música, ficar por lá encarando o violão. Não sei tocar excelente como Mia, mas arranho um pouco. Folha, caneta e violão… E sem filtro comecei a rabiscar, depois de quase quatro horas tinha uma música escrita, um música para ela, sobre ela…

“Sotaque de Nova Jersey, não fala muito
Sinto sua atitude
Aquela da Costa Leste amor, está me deixando louca
Exatamente como deveria
Com mãos que poderiam me salvar, rosto que pode me matar
Estou meio que apaixonada por você
Mas eu não te diria
Eu não sei mais o que dizer, mas você é realmente incrível
Só para você saber
Estou pensando nos jeitos que quero te abraçar
Só para você saber
Eu não sei mais o que dizer, mas você é realmente incrível
Oh, só para você saber
Eu não sei outra forma de dizer, mas você é realmente incrível

Você já sabia?

O que eu acho de você e as formas como me sinto
Você sabe o que penso de você?
Você já sabe?
O que eu acho de você e as formas como me sinto
Você sabe o que penso de você?
Só para você saber
Eu não sei mais o que dizer, mas você é realmente incrível
Só para você saber
Estou pensando nos jeitos que quero te abraçar.”



Até que ficou boa! Esperei todas acordarem, e convoquei uma reunião na sala, para apresentar essa canção.

– Cá estamos, mestra dos magos! – Jane sempre zoando a minha altura.

– Porque você a chama assim? – Mia perguntou de modo inocente.

– Porque ela é pequena como o mestre dos magos. Um gnomo!

– Cala a boca, Jane! – Dei um tapa na bunda dela.

– Ui!

– Pode falar Olivia, estamos a seu dispor. – Lu deu um sorriso amigável.

– Gente, eu compus uma canção de ontem pra hoje. – As quatro me olharam espantadas. – É eu sei, eu não sou de escrever, mas escrevi. Eu imprimi a letra, dêem uma olhada. – Todas pegaram e começaram a ler atentamente, fiquei esperando impaciente pela opinião delas. Ou ainda querendo ou não para ela, mas por ela ser essa compositora de grande sucesso. – Então?

– Foi você mesmo quem escreveu isso?

– Claro!

– Caralho, tá muito bom! – Jane disse sorrindo.

– Muito bom, mesmo! – Luiza deu um sorriso que me desmonta por inteiro.

– De onde veio essa inspiração? – Veronica perguntou curiosa.

– Ué, eu só pensei em escrever… Só isso.

– Cara, isso tá incrível, muito bom mesmo. Meninas, o que vocês acham de colocar essa canção no próximo álbum?

– Sério?

– Claro! Ficou incrível, seja lá qual foi sua inspiração… Ficou muito bom!

– Por mim beleza colocar no próximo CD. Tenho certeza que o pessoal vai gostar. Muito bom trabalho, Olivia. – Vero disse sorridente puxando as palmas e sendo logo seguida pelas outras três.

Estava subindo para meu quarto para finalmente descansar, mas fui puxada por Luiza.

– Ai que susto, Lu!

– Desculpe, foi sem querer. Só queria mais uma vez te parabenizar pela música, ficou muito boa, de verdade, muito boa mesmo.

– Nossa! Vindo de você, esse elogio tem um peso maior, porque você entende muito do assunto!

– Estou falando sério, sem bajulação.

– Obrigada, Lu. – Abracei-a apertado e dei um beijo em seu rosto. – Agora vou dormir, troquei o dia pela noite. – E saí.

Continua…

Já leu?

TEMPO – Parte I

TEMPO – PARTE II

TEMPO – PARTE III

TEMPO – Parte IV

TEMPO – PARTE V

TEMPO – PARTE VI

TEMPO – Parte VII

TEMPO – Parte VIII

TEMPO – Parte IX

TEMPO – Parte X

assinatura paula okamura.fw

 

 

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