Par de belos castanhos #ContoRápido

Lá estava eu, vinte e tantos anos e por incrível que pareça estava bem com minha solidão, cantava sozinha, cozinha minhas comidas preferidas e estava amando me amar. Pelo menos até esse momento.

Estou sentada esperando o ônibus me sentindo exausta de um dia cansativo de trabalho e traumatizada pelas quatro aulas de sociologia que acabava de ter. Ainda faltavam mais de 30 minutos para chegar meu ônibus, estou na frente da faculdade sentada meio que isolada, como disse estava contente com a solidão e já não ligava mais por estar somente com minha companhia. Sempre via um pessoal da faculdade com um violão que sentavam bem a minha frente quando os vi chegando me alegrei, eles sempre tocavam umas musicas legais eu adorava ouvi-los.

Dessa vez esqueceram o violão mas não sei por que fiquei os observando, estavam todos de pé conversando e rindo de algumas fotos no celular, porém vi uma moça que estava de costas pra mim estava sentada rindo e conversando mas não conseguia ver seu rosto. Curioso foi a minha própria curiosidade em ver seu rosto. Logo ela se levantou e não sei se foi proposital, mas ela olhou na minha direção e seus olhos acabaram encontrando os meus como se já soubessem onde estavam. Senti uma ponta de vergonha como quando você precisa apresentar alguma pesquisa ou trabalho para sua sala na faculdade e suas bochechas acabam ficando super vermelhas e a gente sente um calor instantâneo no rosto e nas orelhas e as vezes até um frio na espinha que acaba indo pro estomago e tudo isso em alguns segundo somente em quanto os dois pares de olhos se cruzavam e se conversavam. Ela voltou ao seu grupo e as conversas que estavam rolando. E eu? Bom depois dessa alucinante sensação de calor e frio estava estática olhando ainda para ela que já estava de costas para mim. Foram segundos mas é como se eu já conhecesse cada detalhe e os olhos dela me viram como se eu fosse transparente me senti dela por aqueles pequenos e eternos segundos. Fui para casa mas em todo caminho os olhos dela me encontravam todo segundo, aquela cena se repetia sem parar e eu estava com uma sensação diferente, na verdade não lembro quando a ultima vez que me senti assim, eu tinha um sorriso nos lábios que não se desfazia ele era continuo e eu nem mesmo sabia qual o motivo mas estava adorando aquela felicidade.

No dia seguinte quando cheguei a faculdade entrei e fui procurar aquela moça dos olhos de felicidade passei por algumas salas e em blocos de outros cursos, mas não tive sucesso. Estou sentada esperando meu ônibus distraída pensando no que preciso fazer no dia seguinte e quando viro pra olhar de onde vem uma conversa super alta lá vem o par de olhos castanhos. Talvez tenha algum santo, uma energia ou mesmo o destino esta por trás disso tudo, eles se encaixam num flash meus olhos sabem exato onde os dela estão eles se cruzam por alguns segundos de novo. Eles se conhecem, eu tenho certeza, já olharam na mesma direção. Nenhuma das duas sorri ou faz qualquer tipo de expressão fácil mas os nosso olhos ficam fixados como se conversassem uma língua particular, um recitando poema pro outro. Os próximos dias foram de encontro entre os olhos, nos corredores, na cantina da faculdade começamos a nos encontrar toda hora como se tivéssemos nos combinado. Mas não havia comunicação, não nos falávamos a única coisa que descobri foi seu nome. Os olhos? Esses sim já estavam totalmente íntimos e conversavam muito, as vezes por vários minutos, eram tímidos não queriam ser percebidos pelos outros, queriam ser somente os dois com sua comunicação particular.

Cada dia minha vontade de encontrar aquele olhar de novo aumentava, não importava se não conversávamos  nem mesmo nos tocávamos  eu entendia tudo que ela queria me passar quando seu par de castanhos fixavam nos meus cor de mel. Formavam um lindo par, silencioso par de sentimentos. Nas ruas se procuravam, olhavam tantos outros castanhos, tantos carros e todas as cores mas nenhum conversava como eles. Estava ficando grave e de tanto se encontrarem os ouvidos começaram também a se reconhecer, e mesmo distante se reconheciam e sabiam que aquela voz era do par de castanhos que me recitavam tantos poemas. Dias se passarem até mesmo o mês e foi se aproximando a sensação de que não iria mais os ver, as férias estavam chegando e eu não conseguia coragem de tentar falar com ela. Toda semana me prometia que iria tentar conversar com a bela moça que já era intima dos meus olhos. Uma noite a vi sozinha sentada na hora pensei em ter coragem, rezei, senti uma leve dormência nas pernas e alguns calafrios pelo corpo  e enfim passei reto como se não a tivesse visto, minha coragem me falhou. Assim que passei por ela pensei: burra! Fui pra casa, dormi e acordei na manha seguinte pensando  em como eu fui idiota e em como eu perdi a oportunidade de conversar com a pessoa que me faz sorrir somente com um olhar.

Os dias não esperavam iam passando tão rápido e nos tão tímidas só deixavam nossos olhos se comunicar, não me perdoava por não ter coragem de ir me apresentar ou, não sei, somente dizer um “oi” e sair correndo qualquer coisa seria valida mas ficar ali parada esperando o destino me empurrar não me deixava satisfeita. Mesmo insatisfeita com minha pequena e quase nula coragem meu sorriso ficava cada vez mais fixo no meu rosto e eu acabava pensando nela durante a tarde e a noite pensava no que talvez ela pensasse sobre tudo isso. Será que sentia o mesmo? Será que também tentou conversar comigo? Ela sabe meu nome? Esta pensando nisso tudo que estou pensando agora? Será? Ou será? Não tinha respostas mas tinha um sentimento bom dentro de mim e um sorriso verdadeiramente feliz.

Em uma das noites em que eu esperava o ônibus vi o belo par de castanhos longe conversando com uma colega mas o que me chamou a atenção foi que aquele dia não eram os olhos dela que fizeram os meus se fixarem nela e sim ela como um todo. Falei tanto dos olhos, hipnotizei tanto neles e acabei sem perceber quanto ela era linda. Acabei esquecendo que tinha uma colega conversando comigo e por um tempo não conseguia prestar atenção na conversa e espero que eu não tenho prometido nada ou afirmado alguma coisa estranha. A minha única expressão era afirmar que sim com a cabeça como se estivesse falando: sim ela é linda!

Como se esperava, o ultimo dia chegou. Estava meio brava comigo não consegui prestar atenção nas aulas pensei em tentar falar com ela para pedir seu telefone ou seu email, ate o endereço podia ser útil naquela hora, eu mandaria cartas faria ate sinais de fumaça mas eu precisava de algum meio de conversar com ela e saber do que ela gostava se ela sentia o mesmo. As férias eram muito longas, ela poderia se apaixonar por alguém que ela viu a rua ou mesmo quando pegasse um ônibus e lá esta o amor esperando para conquistar o primeiro par de castanhos que passar. Algum anônimo mandaria flores no seu trabalho em plena quarta feira e ela se derreteria. Quem não se derreteria? Talvez alguém na fila da padaria compraria um chocolate pra ela e depois a convidaria para o cinema. Eu não me movi para nada, qualquer atitude seria maior e melhor que meus olhares poéticos.

Fim do ultimo dia e lá vou esperar meu ônibus, passei pelos corredores procurando vê-la pela ultima vez mas não a vi e quando estava quase saindo de longe vi um grupo tocando violão. Assim que fui chegando perto os belos castanhos estavam lá pra se despedir, chorosamente meus olhos se despediram e enquanto eu ia passando pelo grupo nos olhávamos como se não houvesse ninguém ao redor. Os olhos se despediram não consegui entender se foi um “até logo” ou se foi um “foi bom te conhecer”. Depois que passei pelos belos castanhos senti um desânimo como quando seu time esta ganhando e aos 45 do segundo tempo acabam perdendo com uma reviravolta incrivelmente inesperada.

Fazem dias que não os vejo. Meus amados castanhos voltem a olhar para mim me procurem pelas ruas, nas vielas e esquinas mais escondidas eu sei que iremos nos encontrar de novo e mesmo que os seus tenham encontrado um par os meus ficam felizes apenas por terem um dia sido despidos pelos seus.

assinatura indianara.fw

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