A bela da madrugada #ContoRápido

“E se nossos caminhos forem diferentes, promete me encontrar no final?”

Era noite de sábado e resolvi sair com um amigo para uma balada. Estávamos ali conversando sobre alguma trivialidade quando vi a criatura mais linda e deslumbrante que eu já tinha visto. Branca, cabelos curtos, porte médio, corpo bonito, olhos verdes… Mas foi sua boca que me fez sentir o corpo esquentar, não existem palavras para descrever aqueles lábios tão convidativos. Passou por mim e reparei que estava vestida de preto com uma daquelas sandálias do tipo “ankle boot”, que combinada a sua roupa, a deixava incrivelmente sexy; eu não consegui parar de olhar. Tinha um pisar forte, típico de mulher determinada, sabe?! Foi impossível parar de pensar nela; pedi a todos os deuses que me desse a oportunidade de vê-la outra vez.

Naquele dia desejei que a noite fosse especial de alguma forma, queria me divertir. Eu estava dançando e observando as pessoas ao meu redor, tinha mulheres lindas por lá, mas nenhuma me chamava atenção, nenhuma delas era ela. Até que em um momento qualquer cheguei a duvidar do que meus olhos haviam me mostrado. Eu a vi. Sim, era ela, eu tinha certeza e não pude me conter. Toda ansiedade que se acumulara dentro de mim, naquele instante explodiu em felicidade. Eu precisava conhecer aquela garota, sentir seu cheiro, sua pele e a maciez daqueles lábios. Deus, como eu fiquei feliz. Eu a queria e não tinha dúvidas disso, só não sabia o que fazer para conseguir.

Enquanto dançava pensei em diversas maneiras de como me aproximar e sobre o que falar. A timidez me dominou e eu não conseguia me mexer. Era como se meu corpo quisesse e minha mente não, impedindo-me de ir até lá. Eu estava paralisada. A verdade é que eu precisava de um sinal para ter certeza se havia interesse dela por mim para poder agir, mas eu nada fazia, portanto nada acontecia. E assim continuei me contendo em apenas querer sem poder ter. Mas, para minha sorte ou azar, ainda não sei dizer, o lugar onde eu estava era estratégico, dando-me a chance de observá-la à vontade. Não parei um minuto sequer e nem tinha como, ela era perfeita. Perfeita para mim. Era o tipo de garota que eu gostava. E em um desses momentos, ela olhou de volta, apontou para mim e comentou alguma coisa com uma amiga que estava próxima. Quando ela fez isso, meus olhos brilharam, meu coração disparou e perdeu o compasso. Eu fiquei totalmente desconcertada… Continuei lá toda sem jeito e sem saber o que fazer. Até hoje essa dúvida paira sobre mim: o que será que ela comentou com aquela amiga?! Será que ela estava interessada?! Ou ela só percebeu que eu não parava de observá-la?! São perguntas que nunca serão respondidas. Ela provavelmente nem se lembra disso. Ela estava meio bêbada, percebi isso momentos depois.

A noite ia passando e eu não tomava coragem. Principalmente depois que a vi beijando um rapaz bem próximo de mim. Aquela visão me destruiu e senti uma “dor de cotovelo” absurda. Estar no lugar dele e me entregar àquele beijo, sentir o calor da sua pele, o quão macio seus lábios poderiam ser junto aos meus, era tudo que eu mais queria. Permaneci onde estava e procurei não pensar naquilo, mas era inevitável. Minha cabeça estava a mil por hora e continuei ali pensando um milhão de coisas, autocensurando-me por ser tão devagar. Meu amigo estava ali me incentivando e tentando me mostrar que eu deveria ir até lá e que o máximo que eu receberia seria um “não”. (Mas era desse “não” que eu tinha medo!) Justifiquei-me explicando que não haveria chances, pois não tínhamos os mesmos interesses. Minha timidez não me deixava raciocinar direito e pra mim estava nítido que ela era hétero… E eu não enxergava nada, além disso. E sem conseguir presenciar mais aquela cena, saí andando em direção ao fumódromo. Tudo que eu precisava naquele momento era de um cigarro, de algo que me fizesse viajar para longe dali e afastasse meus pensamentos dela.

Conversando com meu amigo, perdi-me nos meus pensamentos e quando voltei a mim, tomei coragem e decidi ir ao seu encontro. Dessa vez eu não estava me importando com a resposta. Em questão de minutos tudo havia mudado e resolvi que dessa vez eu teria que passar por cima da minha timidez. Foi tudo muito repentino. Já que eu estava ali, não custava nada arriscar. Era tudo ou nada! Saí a sua procura, e como lugar não era tão grande, não foi difícil achá-la. Andei em sua direção e quanto mais eu andava, mais parecia que não ia chegar… Meus passos estavam lentos demais, comparados a minha decisão. Eu estava tão fora de mim que não acreditei no que vi; foi de longe, eu estava meio aérea por conta do cigarro, mas eu a vi. E não pude acreditar que era ela e pior, onde ela estava. A garota que me atormentou e tomou conta dos meus pensamentos durante toda aquela noite estava nos braços de uma fulana qualquer. Um misto de emoções se manifestou naquele momento. Uma parte de mim estava enciumada e a outra, excitada devido à situação. O ciúme foi por ver outra mulher tocando meu “objeto” de desejo, mas a excitação foi causada por ver a pegada forte que ela tinha. Além do que a noite estava passando rápido demais… Quanto mais eu demorasse em tomar uma atitude, menos chances eu teria. Encarei aquela situação como um desafio e resolvi esperar para ver que fim aquela cena teria. Fiquei ali na pista parada, às vezes dançando um pouco… Sem prestar muita atenção às outras pessoas, tentei me concentrar no DJ e nas músicas, mas sem sucesso. Volta e meia eu olhava na direção dela. Nada acontecia. Até que em um momento qualquer, sem que eu percebesse, a tal fulana saiu de perto dela. Meu humor mudou no mesmo instante e abri um sorriso do tamanho do mundo. “O que eu faço?! Estou com medo, mas não posso desistir agora.” pensei. Voltei a criar coragem, mas dei um tempo ali na pista de dança antes de ir a seu encontro, pois ela começou a dançar e me parecia tão bem, tão leve que por hora eu não quis interromper.

Ela começou a dançar de um jeito diferente em cima do palco, mas não consegui achar feio. Pelo contrário, achei fofo o modo como ela se movimentava sem se importar com alguns que a olhavam bestificados. A cena foi engraçada, confesso. Seu corpo nem sempre se movia de acordo com a música, os quadris se soltavam, ela jogava os cabelos e levantava os braços. Mas conseguia exalar sensualidade por todos os poros. Aquilo só fez com que eu me encantasse ainda mais. Resolvi subir naquele maldito palco e cada passo dado em direção a ela só me deixava ainda mais apreensiva. Subi e me aproximei, fiquei ao seu lado tentando acompanhar seus passos bobos. Acho que ela percebeu minhas tentativas sem sucesso, olhou pra mim e sorriu. Daquele sorriso eu nunca me esqueci, e dava tudo no mundo pra vê-lo novamente. Fiquei tão feliz naquele momento que me entusiasmei e comecei a dançar com ela. Apoiei minhas mãos no seu quadril e acompanhei seu ritmo. Notei que quando eu tentava, ela também acompanhava o meu. E assim ficamos durantes alguns minutos… Então houve um momento que encostei meu rosto no dela e pude sentir seu perfume delicioso, que em contato com sua pele macia e cheirosa, despertou em mim uma vontade absurda de tê-la ali mesmo. E do nada me senti confiante, abracei-a pela cintura e a virei de frente para mim. Encarei aqueles olhos verdes e em questão de poucos segundos toquei sua face e sorri para ela, que sorriu de volta, observei seus lábios e não me contive, encostei os meus aos dela.

Eu não sabia onde estava ou sobre o que eu pisava e muito menos que luzes eram aquelas… Perdi-me naquele beijo e nos braços daquela mulher. Eu não sabia quem era ela e muito menos seu nome, mas conhecia seu sorriso, a textura da sua pele, o sabor do seu beijo e por enquanto era suficiente. Foi como se eu tivesse encontrado uma parte de mim que há muito se perdera. Nosso beijo tinha um encaixe diferente, perfeito e só nosso. E quanto mais eu a beijava, mais eu a queria, mais eu a desejava. Toquei seu rosto durante o beijo, passeando minha mão em sua cintura por baixo da blusa, puxando-a para mais perto de mim. Eu não conseguia controlar minhas mãos, queria desvendar cada centímetro do seu corpo. Alternava o beijo com mordidas leves no lóbulo de sua orelha e na região do pescoço. Aquele perfume misturado ao cheiro de sua pele estava me enlouquecendo.

Voltei a beijá-la, mas dessa vez mordiscando apenas, beijando somente com os lábios.

Mas, quando o beijo se intensificava, querendo provocá-la, eu me afastava um pouco afim de que ela procurasse os meus lábios novamente. E foi o que ela fez… Adorei deixá-la no controle. Ela tinha um beijo tímido e contido, porém era muito precisa e delicada. Tinha um toque intenso e mãos macias que me faziam entrar numa espécie de transe… Houve um momento em que eu já não tinha mais fôlego e precisei me afastar para respirar, quando dei por mim um gemido de prazer escapou da minha boca. Éramos fogo puro. Nossas bocas se afastaram, mas nossos olhos se encontraram e naquele momento percebi que eu estava me apaixonando.

E embora eu tivesse me chateado em alguns momentos, aquela noite estava sendo perfeita demais para ser verdade. Cada toque, cada sensação, tudo que ela fazia prendia a minha atenção. Voltamos a nos beijar e dessa vez tínhamos uma pegada mais intensa, a música ambiente parecia nos inspirar. Cada nota, cada batida eu sentia no meu peito e à medida que a música aumentava a velocidade ou reduzia meu coração acompanhava. Eu não queria que o dia seguinte chegasse, queria ficar ali para sempre. Queria que o tempo parasse e eternizasse aquele momento. Mas, eu sabia que aquilo era um sonho e que a qualquer momento o nascer do sol me faria acordar. E teríamos que nos despedir.

Sem abrir meus olhos afastei nossos lábios novamente e dei-lhe um abraço seguido de um beijo carinhoso na bochecha. No mesmo instante ela disse que precisava ir embora, pois o dia estava amanhecendo. E era verdade. Já devia ser umas quatro horas da manhã. Mas eu não queria que ela precisasse…

– Quero olhar seus olhos novamente. – Sussurrei no pé do seu ouvido. – Para nunca mais esquecer esta noite. – Completei, encostando minha testa na dela.
– Então abra os seus. – disse ela.

Ao abrir meus olhos senti um clarão ofuscando minha visão. Só então pude perceber que aquela noite foi literalmente um sonho. Lindo, quase real, mas apenas isso. Fiquei desapontada, queria ter vivido mais aquela história, mas não ao ponto de sofrer… Pode não ter sido hoje, o dia de encontrá-la. Talvez eu ainda não esteja pronta para isso. Mas, de uma coisa tenho certeza, quando esse dia chegar… Estarei muito mais do que preparada. E viveremos noites tão especiais como esta. Enquanto isso não acontece, vou caminhando por aí, aprendendo com a vida e quem sabe eu tenha sorte da próxima vez e nossos caminhos se cruzem de verdade…

assinatura tassia.fw

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